Por Eduardo Vieira
Ser mocinha nas novelas de hoje não está nada fácil.
A esta não é permitido mais ser moldada como personagens oriundas de histórias
do século passado (que foi ontem), nem podem mostrar um comportamento que não
seja esperado do que sabemos sobre as heroínas. Os autores estão tendo de
encontrar um meio termo pra esse tipo de personagem.
Janete Clair conseguia construir esse tipo de
mulher muito bem em suas novelas: Gloria Menezes em ‘Irmãos Coragem’ sabiamente
foi construída com várias camadas de personalidade, quando achávamos Lara meio
sem graça, logo aparecia Diana - sua antípoda, uma mulher à altura do movimento
que o ritmo da novela propunha.
Durante algum tempo tivemos mocinhas frágeis como
pedia a sociedade de uma determinada época, mas quase nunca não agentes das
tramas.
Entretanto vemos, por exemplo, em ‘Locomotivas’, de Cassiano Gabus Mendes, o
advento da mocinha um tanto vilanizada - feita por Lucélia Santos depois da
doce Isaura, um papel bastante sofrido que contava com a torcida de um país.
Aliás, o autor sempre nos mostrou suas heroínas fora de um estereótipo, por
isso sua modernidade no setor teledramatúrgico, como também a Nice de ‘Anjo Mau’
ou a Shana de ‘Te Contei?’. Mulheres fortes que sabiam o que queriam,
interpretadas de modo perfeito por Suzana Vieira e Maria Claudia,
respectivamente.
Porém a mocinha foi perdendo seu valor na história
pela cada vez maior exigência das novelas terem vilãs. A sociedade com suas
distorções e farta do chamado politicamente correto tem se identificado cada
vez mais com esse tipo de personagem libertário, por isso cada vez mais está
difícil de construir protagonistas que tenham respeito do público.
Em 'O Dono do Mundo', novela de Gilberto Braga,
notamos a rejeição da mocinha feita por Malu Mader logo no início, no arriscado
plot de traição no dia do casamento. Moral da história: tal posto foi dividido
por Leticia Sabatella, que fazia uma mulher de personalidade (Thaís), mesmo
sendo garota de programa e a justa personagem de Glória Pires, Stella, que
recomeça sua vida depois de enganada pelo marido.
Numa trama do mesmo Gilberto Braga, houve
igualmente um problema de falta total de identificação com a mocinha: em ‘Insensato
Coração’, Marina Drummond (Paola Oliveira) era vista como uma personagem morna,
chata, muito vítima das circunstâncias e armadilhas plantadas pelo próprio
cunhado. Talvez isso possa ser explicado pelo fato de tal papel ter sido
escrito para outra atriz que talvez desse a força que o papel exigia.
Maior engenhosidade teve a autora Cristiane Friedmann
em sua ‘Vidas em Jogo’, nos nublando a vista, e trocando as bolas ao decorrer
da novela - a mocinha mostrando-se uma cruel vilã, Rita (Juliane Trevisol) e a
vilãzinha Patrícia (Thaís Fersoza) - humanizando-se graças ao amor de um filho.
Igual recurso houve também em ‘Eterna Magia’, de Elizabeth
Jihn, em que Malu Mader de vilã passa a heroína da história e a mocinha frágil
feita por Maria Flor ocupa o cargo de algoz, mesmo arrependendo-se no fim da
história.
No atual momento há mocinhas de diversos tipos: em ‘Lado
a Lado’, nos damos ao luxo de ter duas de uma vez, as tais que seguem juntas,
compondo o retrato da força da mulher que escolheu viver pela sua própria
consciência e pagando o preço por isso; estas contam com o apoio do público,
pois demonstram ética que muitas mulheres hoje em pleno 2012 ainda não têm.
Em ‘Guerra dos Sexos’, temos uma mocinha mais estereotipada
e ainda um tanto amorfa por ser herança de outra atriz: Mariana Ximenes é muito
atriz para pouco personagem, mas mesmo assim faz da sua Juliana uma mulher
dividida entre ser o que acham que ela é e o que ela é realmente, uma mulher
passional. Contudo penso que a verdadeira mocinha ou moçona, no caso, será Roberta
Leone, de novo Glória Pires que construiu a personagem do seu jeito com menos
humor e mais drama, sua verdadeira seara, e que tem saído ilesa a algumas
críticas que o texto recauchutado vem recebendo.
Finalmente, a mais problemática de todos, Morena,
da trama de ‘Salve Jorge’. Glória Perez corajosamente escreve uma heroína que
já traz consigo o estigma de anti-heroína, uma mulher desbocada, briguenta, mal
humorada por vezes, nada clássica. Ainda não se sabe se Nanda Costa conseguiu
uma excelência em sua interpretação (a atriz já ganhou prêmios no cinema) ou se
ela leva mesmo mais jeito para personagens dúbios como a vilãzinha em viver a
vida. Por mais que morena seja “raçuda”, mãe, destemida. Esse lado ainda não
fez com que a maioria do público se identificasse com ela como com Rose, a
personagem de Camila Pitanga em ‘Cama de Gato’ ou a clássica Penha, Thaís Araújo
em ‘Cheias de Charme’.
Edu, como sempre dando um show!!!!! Ótimo texto, ótima abordagem!!!!
ResponderExcluirE mais ainda com um tema bastante pertinente e que nos faz pensar numa revisão destes valores todos, principalmente a valorização da vilã em detrimento à mocinha.
Nós como público é que temos que fazer com que as mocinhas batalhadoras(como as duas mocinhas maravilhosas de LADO A LADO, por exemplo), que correm atrás e que não ficam só se lamuriando, sejam valorizadas, para que isto se torne hábitual nas novelas. E a arma que temos é a audiência que damos!!!!
Eu sempre gostei das mocinhas com mais atitude, até mesmo nas novelas de época. E a minha favorita com toda a certeza é a Ester Delamare (Malu Mader) em FORÇA DE UM DESEJO, a cortesã que vira baronesa, não deixa de amar e lutar por seu amor, jamais se lamenta das adversidades e sim corre atrás do prejuízo!!!!!
Parabéns amigo, mais uma leitura prazeirosa com toda a certeza!!!!!
Confesso que adoro as vilãs, mas não resisto aos encantos de uma mocinha bem escrita, bem defendida pela sua intérprete.
ResponderExcluirExcelente postagem, Edu... até a próxima!
Muito legal o panorama das mocinhas traçado, Edu.
ResponderExcluirParabéns!!
Ah, eu adorei a mocinha Rose de Cama de gato, muito mais interessante que a então vilã Verônica.
muito obrigado..são tantas que eu amo que eu acho que a que mais amo nem coloquei....as moçonas modernas de Betty Faria que pra mim revolucionou a tv. bjs
ResponderExcluirAdorei o texto Edu, adoro o tema, na verdade tenho uma queda por 'mocinhas',e tendo a gostar mais delas... Acho que esse tipo de personagem deve ser construído não só pelo autor, mas pelo diretor e atriz juntos...
ResponderExcluirAcho que as melhores mocinhas são aquelas que não ficam em eterno sofrimento, que levantam a cabeça e vão a luta, as atuais de 'Lado a Lado' são perfeitas... As mocinhas vividas por Malu Mader, Betty Faria e Suzana Vieira também foram assim..
Eu ainda gosto das mocinhas com pinceladas clássicas [como a Juliana (Mariana Ximenes - Guerra dos Sexos) ou Marcia (Malu Mader - O Dono do Mundo)], mas talvez isso seja muito em decorrência das atrizes...
Minhas favoritas são Esther (Malu Mader - Força de um Desejo) e Raquel (Regina Duarte - Vale Tudo)
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Ps: Primeiro texto que leio sobre o tema e que não cita Regina Duarte... rs
Só pra contrariar, eu gosto das mocinhas da Thalía!!! hauhauha... Mas entre as brasileiras, tem que ser sofredora, sensual, saber o que quer, dar a volta pro cima e até ser má quando precisa. Essa lógica é muito boa, no meu ponto de vista!
ResponderExcluirLucas - www.cascudeando.zip.net
Lucas, é uma falha minha meu desconhecimento em novelas mexicanas....mnha mãe até via essas novelas da Thalia, as Marias e gostava porque achava puras rsssss obrigado pelo comment.
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