Por Jonathan Pereira
Quem estiver no Rio de
Janeiro até o próximo dia 30 vai se surpreender com a vitalidade de Suely
Franco na peça “Seis aulas de dança em seis semanas”. Aos 74 anos, ela
interpreta Lily, uma rígida professora aposentada que dança ao som de ritmos
como tango, valsa e chá-chá-chá de quinta a domingo no palco do Teatro dos
Quatro, no shopping da Gávea, Rio de Janeiro.
A atriz divide o palco com
Tuca Andrada, que vive Michel, um professor de dança homossexual contratado por
ela para aulas a domicílio e a tira do sério por dizer o que pensa o tempo
todo. Tudo acontece no cenário clean da sala e cozinha de um apartamento com
vista para o mar. Durante os 90 minutos do espetáculo, vai surgindo uma
tolerância e cumplicidade entre eles, que passam a dividir suas visões de mundo
e suas dores.
Através do personagem de
Tuca, são narrados os preconceitos aos gays, como o ódio recebido dos
evangélicos, a omissão policial e a violência entre parceiros do mesmo sexo. Já
a solidão na terceira idade é retratada por Lily que, mesmo sabendo dançar bem,
o contratou por se sentir sozinha.
Embora se ria quase o tempo
todo, há boas cenas dramáticas quando os dois estão sentados à mesa. O texto do
americano Richard Alfieri – que já foi encenado em 20 países e traduzido para mais
de 12 idiomas, tem frases interessantes como “necessidade não é desculpa para oportunismo”;
“se a gente fala a idade alto o rosto escuta”, “sabe iogurte que no fundo é
fruta?”; “depois de um certo tempo qualquer marido incomoda” e “já tenho
Estado, família, igreja e Marco Feliciano para me dar raiva”.
Em certos momentos a
entonação de Suely lembra muito a Mimosa da novela “O Cravo e a Rosa”, que ela
interpretou em 2000. A
atriz troca de figurino várias vezes e não demonstra cansaço, deixando o público
boquiaberto com sua leveza nas cenas de dança. Depois dos aplausos, ainda dá
seu recado: “Se estiver sentindo alguma dor em qualquer idade comece a dançar,
é um remédio maravilhoso”.
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