sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Uma história de rainha, fada e Mara Maravilha

Por Adilson Oliveira

Era uma vez, num tempo em que i-pods, i-peds, tablets, notebooks, celulares e outras ferramentas essenciais de comunicação não existiam, as pessoas comunicavam-se, quase sempre, face a face. Eram tempos difíceis! Como não havia internet residencial, as TVs reinavam absolutas na sala de estar e as famílias reuniam-se diante delas no horário nobre para assistirem às novelas e aos telejornais. De dia, as crianças, quando não estavam na escola, tinham um encontro com rainhas, fadas e bruxas. Eram tempos de conto de fadas. Na TV, os papéis já estavam pré-determinados: Xuxa era a rainha absoluta das manhãs da Globo e Angélica,  a fada loira da Manchete. 
No SBT, Mara Maravilha assumia o papel de vilã, pois não tinha a aparência destinada pela mídia às heroínas das histórias maravilhosas. As crianças não podiam torcer pela bruxa e era papel das mães zelarem pelos bons costumes dos seus filhos, afastando-os das más influências. A mídia cumpria autoritária e religiosamente o seu papel, destacando nas revistas e jornais as benemerências das heroínas televisivas. Quanto à outra? Xiiiiii! - advertiam as mães - cuidado, ela é uma feiticeira malvada, que vive sempre ao lado de uma mãe maquiavélica.
Não sei bem o porquê,  mas, contrariando a ordem institucionalizada,  eu me identificava com aquela moça de cabelos negros (como a asa da graúna), de olhos negros e de fala nordestina. Era uma espécie de Iracema do tão-tão distante século XX. Mas ela é tão perigosamente brasileira? As crianças não podem gostar dela! Eu gosto. Respondia aos porquês incrédulos de todos. Gosto e ponto final. Não preciso dizer os motivos pelos quais eu torço por aquela que é representada como a arqui-inimiga das princesas blondies.
Essa criança precisa ser castigada, diziam - face a face - os adultos. Como pode romper com o senso comum? Veja as provas:
- "A guerra pelos baixinhos da Xuxa" (Contigo!).
- "Nunca fiz feitiçaria" (Contigo!).
- "Mara acusada de ter feito magia negra" (Contigo!).
- "Mara e Angélica caem nas teias da magia negra" (Contigo!).
- "Angélica em risco de vida - Mara acusada de ter feito magia negra" (Contigo!)
- "Globo recusa a voz de Mara para cantar tema de Salomé (Amiga).
- "Macumba de Mara complica vida de mãe-de-santo (Amiga).
- "A baianinha Mara declara guerra à Xuxa" (Folha da Tarde).
- "Angélica acusa Mara de plágio" (Amiga).
- "Arrogância de Mara e sua mãe tirou baianinha do SBT" (Diário popular).
- "Mara Maravilha volta a xingar e agredir jovens" (Diário popular).
- "Mara é acusada de agressão" (Folha da Tarde).
- "Mara pode pegar até um ano de prisão" (Contigo!).
- "Mara é acusada de roubar amigo cego" (Notícias Populares).
- "Mara ameaçada de sequestro" (Amiga).
- "Mara Maravilha ameaçada de morte" (Contigo!).

Não havia, naquele tempo, i-pads, i-pods, celulares, tablets, notebooks, mas havia a interação face a face. Pena que os mais fracos (como crianças) nem sempre eram ouvidos, pois havia uma bruxa má de boca grande - chamada Mídia - que engolia aqueles de quem ela não gostava.
Eram tempos difíceis, mas, pelo menos, eram tempos de rainhas, fadas e de Mara Maravilha. Eram tempos de criança.


Adilson Oliveira é professor universitário, roteirista, poeta e apaixonado por corujas.


Um comentário:

  1. Muito legal o texto, Apesar de tudo que a mídia fez contra a Mara, ela nunca abaixou a cabeça. Essa é uma característica forte dela, e por isso ela é sempre será a Mara Maravilha !

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