Por Adilson Oliveira
Era uma vez, num tempo
em que i-pods, i-peds, tablets, notebooks, celulares e outras ferramentas
essenciais de comunicação não existiam, as pessoas comunicavam-se, quase
sempre, face a face. Eram tempos difíceis! Como não havia internet residencial,
as TVs reinavam absolutas na sala de estar e as famílias reuniam-se diante
delas no horário nobre para assistirem às novelas e aos telejornais. De dia, as
crianças, quando não estavam na escola, tinham um encontro com rainhas, fadas e
bruxas. Eram tempos de conto de fadas. Na TV, os papéis já estavam
pré-determinados: Xuxa era a rainha absoluta das manhãs da Globo e
Angélica, a fada loira da Manchete.
No
SBT, Mara Maravilha assumia o papel de vilã, pois não tinha a aparência
destinada pela mídia às heroínas das histórias maravilhosas. As crianças não
podiam torcer pela bruxa e era papel das mães zelarem pelos bons costumes dos
seus filhos, afastando-os das más influências. A mídia cumpria autoritária e
religiosamente o seu papel, destacando nas revistas e jornais as benemerências
das heroínas televisivas. Quanto à outra? Xiiiiii! - advertiam as mães -
cuidado, ela é uma feiticeira malvada, que vive sempre ao lado de uma mãe
maquiavélica.
Não sei bem o
porquê, mas, contrariando a ordem
institucionalizada, eu me identificava
com aquela moça de cabelos negros (como a asa da graúna), de olhos negros e de
fala nordestina. Era uma espécie de Iracema do tão-tão distante século XX. Mas
ela é tão perigosamente brasileira? As crianças não podem gostar dela! Eu
gosto. Respondia aos porquês incrédulos de todos. Gosto e ponto final. Não
preciso dizer os motivos pelos quais eu torço por aquela que é representada
como a arqui-inimiga das princesas blondies.
Essa criança precisa ser
castigada, diziam - face a face - os adultos. Como pode romper com o senso
comum? Veja as provas:
- "A guerra pelos
baixinhos da Xuxa" (Contigo!).
- "Nunca fiz
feitiçaria" (Contigo!).
- "Mara acusada de
ter feito magia negra" (Contigo!).
- "Mara e Angélica
caem nas teias da magia negra" (Contigo!).
- "Angélica em
risco de vida - Mara acusada de ter feito magia negra" (Contigo!)
- "Globo recusa a
voz de Mara para cantar tema de Salomé (Amiga).
- "Macumba de Mara
complica vida de mãe-de-santo (Amiga).
- "A baianinha Mara
declara guerra à Xuxa" (Folha da Tarde).
- "Angélica acusa
Mara de plágio" (Amiga).
- "Arrogância de
Mara e sua mãe tirou baianinha do SBT" (Diário popular).
- "Mara Maravilha
volta a xingar e agredir jovens" (Diário popular).
- "Mara é acusada
de agressão" (Folha da Tarde).
- "Mara pode pegar
até um ano de prisão" (Contigo!).
- "Mara é acusada
de roubar amigo cego" (Notícias Populares).
- "Mara ameaçada de
sequestro" (Amiga).
- "Mara Maravilha
ameaçada de morte" (Contigo!).
Não havia, naquele
tempo, i-pads, i-pods, celulares, tablets, notebooks, mas havia a interação
face a face. Pena que os mais fracos (como crianças) nem sempre eram ouvidos,
pois havia uma bruxa má de boca grande - chamada Mídia - que engolia aqueles de
quem ela não gostava.
Eram tempos difíceis, mas,
pelo menos, eram tempos de rainhas, fadas e de Mara Maravilha. Eram tempos de
criança.
Adilson Oliveira é professor universitário, roteirista, poeta e apaixonado por corujas.
Confira também: Uma vez Maitê... sempre Maitê!!!
Muito legal o texto, Apesar de tudo que a mídia fez contra a Mara, ela nunca abaixou a cabeça. Essa é uma característica forte dela, e por isso ela é sempre será a Mara Maravilha !
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