domingo, 1 de junho de 2014

“Déjà vu” com cara de novidade



Por Leonardo Mello de Oliveira
  
          A Rede Globo estreou sua nova programação há mais ou menos dois meses e trouxe para o público uma nova leva de programas, entre eles novelas, séries e reality shows. Apresentados em um mal organizado Vem Aí, as novas atrações vêm estreando ao longo desses dois meses, já criando assunto para muito debate televisivo. Vamos nos centrar em 5 novos programas globais: Meu Pedacinho de Chão, O Caçador, Superstar, Tá no Ar – A TV na TV e Geração Brasil. Todos eles, apesar de apresentarem características “revolucionárias”, têm, em sua essência, a mesma fórmula usada para outras atrações do gênero.
            Meu Pedacinho de Chão estreou causando barulho. O visual diferente e excêntrico da novela chamou a atenção inicialmente. Mesmo com todo o diferencial, a novela não anda bem de audiência. Mas não falemos de ibope. A produção tem a mão inconfundível de Luiz Fernando Carvalho, diretor conhecido por sua ousadia e originalidade. O texto, de um inspirado Benedito Ruy Barbosa, voltando com tudo a escrever novelas, é ótimo e casa bem com a proposta da direção. Apesar de tanta novidade, a novela tem sua em sua essência marcas clássicas de teledramaturgia, como dramas, romances e política. O grande diferencial da obra são as várias fontes de inspiração pegas por Luiz Fernando para compor a novela, que vão desde animações da Pixar, como Toy Story e Valente, passando por filmes western até elementos de literatura infantil, como obras de Monteiro Lobato. Isso tudo sem falar do elenco, com muitos estreantes e alguns medalhões, todos em excelente sincronia.



            O Caçador vem preencher o maior buraco negro da programação global: o horário de sexta à noite. A série, que tem José Alvarenga na direção e Marçal Aquino e Fernando Bonassi no roteiro, tem se mostrado um dos poucos casos de qualidade e originalidade nas séries da Globo. Um roteiro bem conduzido, personagens densos e uma boa direção são os elementos que enchem os olhos de quem a assiste. O horário permite mais ousadia, e é o que a produção nos apresenta. Além disso, atores nem sempre bem vistos pelos críticos como Cauã Reymond, Cleo Pires e Ailton Graça conseguem provar seu talento em personagens diferentes dos que costumam interpretar. Outro fator importante é o fato da série não querer mostrar um estereótipo do policial e do bandido brasileiro. Tudo parece mais real, mais tragável e menos exagerado. É uma pena a produção não ter a evidência que merece.



            Superstar foi proposto, principalmente, para cobrir o buraco entre uma temporada de The Voice e outra. O reality tem mostrado potencial, apresentando bandas com músicas de qualidade e diversificadas. Mas não vem empolgando tanto quanto seu colega na emissora. A Globo já declarou que o programa não terá uma segunda temporada. Uma lástima para aqueles que curtem um programa musical de qualidade, coisa rara na televisão atual. É claro que os problemas técnicos e as regras bem “flexíveis” do reality diminuem seus atributos. Apesar do formato diferenciado, o programa possui a espinha dorsal de um digno programa de calouros.



            Tá no Ar – A TV na TV é, sem dúvida, a maior ousadia já apresentada pela Globo há anos no quesito humor. Comandado e criado por Marcelo Adnet e Marcius Melhem, Tá no Ar é o típico programa humorístico que você nunca pensaria em encontrar na Globo: sátira de tudo o que você pode imaginar, críticas ácidas e politicamente incorreto. Para o tradicional conservadorismo da emissora, é um passo e tanto. Apesar das comparações constantes com humorísticos semelhantes como TV Pirata e Casseta & Planeta, Tá no Ar mostra toda sua originalidade com um humor inteligente e crítico sem ser ofensivo, poucas vezes visto na televisão. Que o programa tenha vida longa e que termine sem estar decante, o que geralmente acontece com humorísticos do gênero.



            Geração Brasil, a volta bem anunciada de Filipe Miguez e Izabel de Oliveira como autores, tem a missão de levantar o ibope do horário das sete, que vem mal das pernas desde o remake de Guerra dos Sexos. A novela se mostra inovadora, aposta em temas “amaldiçoados” na teledramaturgia, como tecnologia, e tem uma pegada over, com personagens caricatos e exagerados. Além de mostrar um reality show dentro da novela apresentado de maneira que se pareça com a transmissão de um reality de verdade. O elenco é um primor, veteranos grandiosos e jovens atores já consagrados pela crítica. A trama ainda está se desenrolando e tem muita coisa ainda para acontecer. O que já se pode dizer é que Geração Brasil pode não entrar na história como foi com Cheias de Charme, mas com certeza ficará na cabeça de quem gosta de boa teledramaturgia.




            A Globo vem tentando inovar este ano, além de mostrar mais qualidade em suas novas produções. Depois de um negro 2013, a Vênus Platinada tem tentado consolidar sua liderança, ameaçada não apenas por concorrentes, mas também por outras mídias, como a internet. Esperamos mais produções de qualidade para 2014, e que a Globo continue surpreendendo os adoradores da boa televisão.

Um comentário:

  1. Acho o "Superstar" um programa desnecessário na telinha, apesar de tê-lo visto poucas vezes. As novelas citadas são as que eu mais assisto. "Pedacinho" é interessante pela maneira como a história é contada, e seu visual a transforma realmente numa fábula. Já "Geração" ainda não mostrou a que veio, e tá difícil de se apegar, talvez pelo fato de ter em seu elenco boa parte da galera de "Cheias de Charme". A comparação é inevitável, até porque a Globo fez questão de dizer que as duas tramas são dos mesmos autores.

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