O
QUE TIVER DE SER
CAPÍTULO 2
WEB NOVELA DE
LEANDRO BRASIL
ESCRITA COM A COLABORAÇÃO DE:
ISAAC SANTOS
RAFAEL BARBOSA
RAUL FELIPE SENNGER
CENA 01. APTO LETÍCIA. SALA. INTERIOR. DIA.
Continuação imediata. Gustavo,
Letícia e Júlio. Júlio se irrita com Gustavo.
JÚLIO -
Para de falar besteira, cara. Eu e a Letícia/
LETÍCIA -
(corta, irritada) Deixa que eu explico, Júlio. (a Gustavo) Eu não admito que
você venha aqui me acusar de ter um amante, quando você sabe o quanto eu lutei
pra salvar o nosso casamento. (T) Eu e o Júlio... A gente se conheceu ontem. Eu
tava dirigindo muito abalada por causa da nossa separação, quase bati com o
carro e ele me ajudou, sem nem saber quem eu era.
JÚLIO -
Foi isso.
GUSTAVO -
Pelo visto vocês se entenderam bem, viraram amigos. (T) Quer saber? Eu nem devia
ter me irritado. Afinal nós nos separamos. Você pode fazer da sua vida o que
bem entender, eu não tenho nada a ver com isso. Me desculpem pela minha reação.
LETÍCIA -
Peraí, Gustavo, não é nada/
GUSTAVO -
(corta, mudando de assunto) E a Sofia? Cadê ela?
LETÍCIA -
Foi numa excursão da escola, você não sabia?
GUSTAVO -
Eu tinha esquecido. Outra hora eu passo aqui. Prazer em conhecê-lo, Júlio. Mais
uma vez, desculpem qualquer coisa. Tchau.
LETÍCIA -
Espera, Gustavo!
Gustavo já saiu. Letícia fecha a
porta, irritada.
JÚLIO -
Estressado esse teu ex, hein!
LETÍCIA -
Viu só no que deu essa tua ideia de vir aqui?
JÚLIO -
Como é que eu ia adivinhar que ele ia aparecer? E depois, ele tá certo. Vocês
estão separados. Você pode receber aqui quem você quiser.
LETÍCIA -
Acontece que eu não quero receber ninguém por enquanto, principalmente você. Vai
embora, Júlio, por favor. Outra hora quando eu estiver mais calma a gente pode
conversar, mas não agora.
JÚLIO -
Se é isso que você quer...
Júlio vai embora, triste. Letícia muito
irritada. Corta para:
CENA
02. CASA DE VIOLETA. SALA. INTERIOR. DIA.
Casa
de classe média. Violeta (60) sentada numa poltrona, lê uma revista. Ao
perceber o barulho da porta, levanta-se. Lucas vem correndo ao encontro da avó.
Os dois se abraçam
LUCAS - Vó!
VIOLETA -
Oi, Lucas. Saudades da vó?
LUCAS - Sim, muita!
Violeta
abraça o neto de novo e Júlio percebe uma marca roxa no braço de Lucas. O
Abraço é desfeito.
JÚLIO - O que foi isso, filho? Esse roxo
no teu braço.
LUCAS - (assustado) Ah, pai... (olha para
a marca) Isso foi da... da bicicleta. É que eu cai, sabe? Foi isso.
JÚLIO - (desconfiado, voz calma.)
Hum... Então, Mocinho, da próxima vez
toma mais cuidado, combinado? Agora vai
guardas suas coisas, vai.
Lucas faz que sim com
a cabeça e sai. Violeta nota a expressão de Júlio.
VIOLETA - (preocupada) Que tristeza é essa,
filho? Não vai me dizer que é por causa dela: da moça que você conheceu ontem.
Corte descontínuo. Violeta sentada na poltrona. Júlio no sofá.
Desabafa.
JÚLIO - Foi isso, mãe. O marido dela, quer
dizer, ex-marido, apareceu, ficou irritado, houve discussão...
Júlio
em silêncio, parece envergonhado. Tempo.
VIOLETA -
Pois é, meu filho. Ao se separar da Paola, você saiu de uma canoa furada porque
ela tava afundando. E agora... (pausa) E agora está prestes a embarcar noutra
com dois elefantes a bordo.
Júlio não diz nada. Na tristeza dele, Corta para:
CENA
03. ACADEMIA DE GINÁSTICA. INTERIOR. DIA.
Soninha
e Letícia caminham na esteira. Algumas pessoas olham para Soninha e cochicham,
comentando o escândalo do dia anterior.
SONINHA - Eu
sei que outra no meu lugar nunca mais apontava o nariz aqui. Mas você acha que eu, justo eu, linda, diva,
vou parar de frequentar essa academia por causa do escândalo com o safado do
Edu? Capaz. Se eu fizesse isso eu não seria eu, meu amor.
Burburinho
aumenta. Soninha decide dar um basta. Desliga a esteira.
LETÍCIA -
(sem entender) Mas já?
SONINHA -
(para as pessoas) Olha aqui, ô bando de desocupados, se querem falar mal de mim,
podem falar mais alto, não precisam cochichar como se estivessem se confessando
com o padre!
Letícia
sorri, constrangida. Soninha volta a caminhar na esteira.
SONINHA -
Ai, sabe, recalque me estressa. Poxa, querem falam mal, que falem direito.
Caramba!
LETÍCIA -
(ri) Ai, Soninha, se você não existisse tinha que ser inventada, sabia?
SONINHA -
Eu tô feliz por ter conseguido tirar você de casa hoje. Agora que as coisas vão
mudar um pouco, a cinderela não pode resolver se trancafiar na torre.
LETÍCIA -
Soninha, minha querida, a princesa da torre é outra.
SONINHA -
Que seja. O que importa é que todas têm um príncipe lindo, maravilhoso que
sempre aparece no final. (pausa) Bom, nos contos de hoje em dia, eles podem
aparecer no primeiro capitulo do livro, né?
LETÍCIA -
Se você tá falando do Júlio, a gente é só amigo, tá bom?
SONINHA -
Hoje amigos, amanhã amantes apaixonados. Conheço essa história, amor.
Letícia
ri do que Soninha disse e depois fica pensativa. Corta para:
CENA 04. SÃO PAULO.
STOCK-SHOTS. EXTERIOR. DIA.
Belas
imagens de alguns pontos da cidade, em cortes rápidos. Corta para: fachada do hotel onde Gustavo está hospedado. Corta para:
CENA 05. HOTEL. QUARTO DE
GUSTAVO. INTERIOR. DIA.
Gustavo
já abrindo a porta para Andréa.
ANDRÉA -
Oi!
GUSTAVO -
(desanimado) Oi.
Andréa
percebe o desânimo de Gustavo
ANDRÉA -
Cheguei em má hora?
GUSTAVO -
Que é isso, entra.
Andrea
entra. Vai até a janela e abre as cortinas. Gustavo fica encostado no balcão
perto da porta, de braços cruzados. Andrea de costas para Gustavo.
ANDRÉA –
Tá um dia lindo lá fora! (Volta-se a Gustavo)
Já viu?
GUSTAVO –
(disperso) É. Parece que sim.
ANDRÉA –
Bom, já que concorda comigo, acho que você não vai recusar o meu convite pra
sair um pouco e curtir esse sábado maravilhoso, não é?
GUSTAVO -
(indeciso) Não sei... Hoje eu não seria nem de longe uma boa companhia, Andréa.
ANDRÉA –
(se aproxima dele) Ah, vamos. Vai ser um passeio ótimo, eu te garanto. Você tem
que sair desse quarto, se divertir um pouco. Vamos? Por mim, vai!
GUSTAVO -
(pensa um pouco) Tudo bem. Mas antes eu preciso jogar uma água no rosto e
trocar de roupa. Me dá cinco minutos?
ANDRÉA -
(olha pro relógio) Não mais que isso.
Gustavo
sai. Close de Andréa feliz. Corta
para:
CENA
06. CLUBE. EXTERIOR. DIA.
Dia ensolarado.
Câmera explora o ambiente, mostrando homens e mulheres nadando, tomando banho
de sol à beira da piscina. Soninha sentada numa espreguiçadeira, retocando o
protetor solar. Faz charme para um rapaz saradão, cara de cafajeste: Marcelo (25).
Ele mergulha na piscina sob o olhar hipnotizado de Soninha. Mila se aproxima,
trazendo dois coquetéis de frutas.
SONINHA -
(experimenta a bebida) Hum... Tá do jeitinho que eu gosto. (dá outro gole)
Mila, dá uma viradinha como quem não quer nada. Tá vendo o mesmo que eu?
MILA -
(debochada) Tá falando daqueles dois gostosos ali do outro lado? Desiste, amor:
são namorados.
SONINHA -
(surpresa) Sério? Que desperdício, né? Mas não, sua tonta, eu tô falando daquele
que acabou de se jogar na piscina.
As
duas observam Marcelo nadando.
MILA -
Que deus grego, hein!
Marcelo
sai da piscina, percebe o olhar das duas se aproxima delas.
MARCELO - E
aí, meninas!
As
duas respondem: “Oi”, “Olá”. Marcelo e Soninha se olham e Mila percebe que está
sobrando.
MILA -
(bebe um pouco mais) Bom, eu vou cair na piscina... (mergulha)
SONINHA - Eu
não me lembro ter visto você por aqui antes.
MARCELO -
Caramba! Deixa eu me apresentar: Marcelo, o invisível.
Ela
sorri. Corte descontínuo. Soninha
já envolvida pelo papo malandro de Marcelo. Ele se levanta para dar lugar a
Mila, que acaba de voltar da piscina.
MARCELO - (a
Soninha) Bom, então fechado assim: a gente se encontra mais tarde lá na boate.
Marcelo
lança um olhar sedutor para Soninha e se afasta.
MILA -
Mas já combinaram de sair, Soninha?
SONINHA -
(suspira) Pois, é. Ele parece ser tão legal!
Mila
ri, coloca os óculos de sol e se arruma na espreguiçadeira. Soninha também ri e
as duas continuam olhando o movimento. Corta
para:
CENA
07. IBIRAPUERA. EXTERIOR. DIA.
Gustavo e Andréa
passeando no Ibirapuera. Crianças brincam, observadas pelos pais. Há alguns
casais de namorados.
ANDRÉA - Não sei o que seria daquele
escritório sem você.
GUSTAVO
- Parece que você já me falou isso
outras vezes!
ANDRÉA - É? Mas nada de você procurar
entender.
GUSTAVO - Entender que pruma certa colega eu
represento mais que um competente arquiteto?
ANDRÉA - (para de caminhar, olha nos olhos
dele) E que provavelmente ela adorou saber de sua separação com a Letícia.
GUSTAVO - Eu diria pra essa colega que ela tá
perdendo tempo.
ANDRÉA - (surpresa, irritada) Seu estúpido!
GUSTAVO
- (sorri) Você não entendeu! (T) Ei,
olha pra mim: A gente tá perdendo tempo!
Gustavo acaricia o
rosto de Andréa, que está muito surpresa com tudo. Os dois se beijam. Corta para:
CENA
08. APTO LETÍCIA. SALA. INTERIOR. DIA.
Letícia, pensativa,
próximo à janela. Vai até o sofá, se senta, liga a TV, desliga quase
imediatamente. Olha pro telefone, toma coragem e liga pra Júlio.
LETÍCIA - (ao tel) Sou eu, Júlio, Letícia.
(T) Ah, eu tava aqui pensando... Seria bom se a gente desse uma saída hoje.
Quer jantar comigo?
Corta
rápido para:
CENA
09. RESTAURANTE. INTERIOR. NOITE.
Júlio e Letícia
chegando em um restaurante chique. Clima romântico.
JÚLIO - Você é surpreendente!
LETÍCIA - Ai, para, Júlio! Você nem imagina
a vergonha que eu senti depois que desliguei o telefone. Me desculpe... Eu não
devia/
JÚLIO
- (corta) Gosto que me
surpreendam... (delicadamente, põe a mão sobre a dela) Você é encantadora!
Corte
descontínuo. Os
dois já jantando.
LETÍCIA - A comida aqui é divina! Fazia um
tempão que eu não saboreava um papardelle de camarão. E a tangerina dá um toque
diferente, né?
JÚLIO - Que bom que acertei na escolha
do restaurante. Primeira vez que a gente sai pra jantar, eu não queria errar.
LETÍCIA
- Já sabe que gosto, pode me
convidar outras vezes!
Riso dos dois.
LETÍCIA
- (tom) Sabe, Júlio, tem sido
ótimo contar com você nessa fase que eu tô passando. (T) Eu tava tão arrasada,
tão sem chão, sem saber direito o que fazer da minha vida, mas agora eu vejo
que se separar não é o fim do mundo.
JÚLIO
- Como eu já te disse, é um
recomeço. Depois da separação a gente reassume o controle da nossa vida, sem
ter que dar mais satisfações a ninguém.
LETÍCIA
- (pensativa) É... Quando eu casei
eu larguei tudo pra cuidar do marido e da casa. Só agora eu tô percebendo que
eu passei a viver em função dele, sabe? Esqueci de me preocupar um pouco mais
comigo mesma. Larguei até a minha carreira de professora. Nem cheguei a dar
aulas.
JÚLIO
- Por imposição dele?
LETÍCIA
- Não, foi decisão minha. O
Gustavo é um arquiteto bem posicionado no mercado, nos proporcionava uma vida
confortável. (T) Eu diria que me acomodei nessa dedicação integral à vida de
casada.
JÚLIO
- Por que você não começa a dar
aula? Vai te fazer muito bem ter uma ocupação agora.
LETÍCIA
- Você tá certo. Acho que já tá
na hora de voltar a pensar em mim.
Corte
descontínuo. Letícia e Júlio já saboreando um delicioso
creme de manga com nozes e vinho do Porto.
LETÍCIA
- Dizem que filha sempre se
apega bem mais ao pai, e filho à mãe. Mas você me fala do teu filho Lucas de um
jeito que não consigo imaginar vocês distantes um do outro.
JÚLIO
- Ah, Letícia, é o meu
garoto... É horrível ficar longe dele.
LETÍCIA
- Você nunca pensou em pedir a
guarda dele?
JÚLIO
- Eu gostaria muito, mas o
juiz sempre dá preferência à mãe, né? E depois o que eu ganho como bancário mal
dá pra pagar a pensão do Lucas! (T) Se ao menos eu tivesse concluído o curso de
administração, ganharia melhor, teria mais chances.
LETÍCIA
- Ah, você tá vendo as coisas
só por um ângulo. Eu acho que se você quer a guarda dele tem que ir em frente.
Não desista! A gente não pode ganhar uma batalha se não começar a lutar.
JÚLIO - (olha nos olhos dela) Seria
mais fácil se tivesse alguém pra lutar do meu lado.
Letícia olha feliz
para Júlio.
LETÍCIA
- A vida... A vida é mesmo uma
caixinha de surpresas. (T) Até ontem a gente nem se conhecia. No entanto
estamos aqui jantando, falando abertamente das nossas vidas, dividindo os
nossos problemas.
JÚLIO
- Nós podemos dividir um com
o outro muito mais do que os nossos problemas.
LETÍCIA
- (sorri) Vai com calma, tá,
Júlio!
JÚLIO
- Nós somos duas pessoas
tentando recomeçar as nossas vidas, Letícia. A gente podia fazer isso junto.
LETÍCIA
- Eu não tô dizendo que não, mas
vamos deixar as coisas acontecerem naturalmente, tá? O que tiver de ser...
JÚLIO - Eu espero todo o tempo do
mundo. Não pense que você vai escapar de mim tão fácil, não.
Letícia e Júlio
sorriem um para o outro e dão-se as mãos. Close das mãos dos dois. Corta para:
CENA 10. CASA DE PAOLA. SALA. INTERIOR. NOITE.
Paola
no sofá vendo tv. Pega o controle que está próximo e muda de canal umas duas ou
três vezes, mas não se interessa por nada. Joga o controle pro canto e suspira,
bastante entediada. Rubens vem de dentro terminando de abotoar sua camisa.
Paola vai até ele, carinhosa.
PAOLA - Já
vai?
RUBENS - Já.
Cheio de coisa pra fazer hoje na boate, entrega de mercadoria.
PAOLA -
Queria tanto aproveitar que o Lucas tá na casa do pai, pra sair, me divertir um
pouquinho...
RUBENS -
(levemente irritado) A gente já conversou sobre isso, Paola. Lá não é ambiente
pra você.
PAOLA - Ai,
Rubens, eu podia te ajudar em alguma coisa lá, te fazer companhia. Eu juro que
não vou te atrapalhar. Deixa eu ir, vai! Detesto passar a noite inteira
sozinha, naquela cama enorme.
RUBENS - Para
de frescura, Paola. (se insinuando) Olha, quando eu chegar, eu prometo que vou
saber recompensar bem essa sua solidão.
Rubens
dá um beijo em Paola e já vai saindo.
RUBENS - Fica
aí quietinha me esperando, tá? Tchau.
Rubens
sai. Decepcionada, Paola se joga no sofá, pega novamente o controle e começa a
procurar um canal. Fecha em sua cara emburrada. Corta
para:
CENA 11. BOATE. EXTERIOR. NOITE.
Plano
de localização da boate. Pessoas chegando. Casais e alguns grupinhos reunidos
perto da porta. Corta para:
CENA
12. BOATE. INTERIOR. NOITE.
Movimento
médio na boate. Homens sem camisa e mulheres com roupas insinuantes dançando a
batida de um funk. Em meio a isso, Soninha vem chegando com Marcelo. Ela encara
algumas pessoas do local.
SONINHA -
(espantada) Mas essa é a boate onde você trabalha?
MARCELO - É sim,
gostou?
SONINHA -
(disfarça o estranhamento) É meio diferente do que eu tô acostumada, mas parece
ser bem interessante. O que você faz aqui?
MARCELO - Atendo
num barzinho ali, servindo bebida. Vem cá, eu te mostro.
Marcelo
pega Soninha pela mão e vai arrastando-a entre as pessoas. Corte descontínuo. Rubens circula, observando o movimento.
Ele avista Marcelo dançando com Soninha e aproxima-se de um conhecido que bebe
algo.
RUBENS - Olha
aquilo. Não é o Marcelo com aquela perua ali?
RAPAZ - O
próprio. E aquela lá é uma tal de Soninha Bassan. Vive em coluna social de
revista.
RUBENS - Eu sei
quem é. (rindo) Marcelo não dorme no ponto mesmo, hein! A perua já caiu na
lábia do malandro.
Rubens
bate no ombro do rapaz e segue circulando. Corta
para Marcelo arrastando Soninha para o meio da pista. Ela com um copo
de bebida na mão, vai se soltando. Começa a dançar, trocando amassos e beijos
quentes com Marcelo. Corta para:
CENA 13. SÃO PAULO. STOCK-SHOTS. EXTERIOR. NOITE/ DIA.
Imagens
da cidade, marcando passagem de tempo de sábado até segunda. Termina no prédio
onde mora Letícia.
SONINHA - (off)
Letícia, mãe, esse é o Marcelo.
Corta
para:
CENA 14. APTO LETÍCIA. SALA. INTERIOR. DIA.
Soninha
abraçada a Marcelo diante de Letícia e Rosália.
ROSÁLIA – (sem
acreditar) Seu... amigo, minha filha?
SONINHA -
(feliz) Ah, para, mamãe. A senhora acha mesmo que eu ia conseguir ser só amiga
de um gato desses? Até parece que não me conhece. O Marcelo é o meu novo grande
amor.
LETÍCIA -
(sorri) Oi.
MARCELO - E aí,
beleza?
Letícia
e Rosália se olham incrédulas, enquanto Soninha é só sorrisos para o namorado
novo, que parece se divertir com a situação. Corta
Para:
CENA 15. ESCRITÓRIO ARQUITETURA. SALA GUSTAVO. INTERIOR.
DIA.
Gustavo
e Andréa saindo de um beijo.
ANDREA - Parece
até que eu tô sonhando.
GUSTAVO - (ri) Pois
é a mais pura realidade. Eu te adoro. Você é demais, sabia?
Gustavo
dá outro beijo em Andréa. De repente a porta se abre e Letícia entra. No susto,
os dois param imediatamente. Letícia os encara, furiosa.
GUSTAVO - O que é
que você tá fazendo aqui, Letícia?
LETÍCIA - Eu
vim pra gente conversar sobre a nossa filha e me deparo com essa cena. (elevando
a voz) E você teve a cara de pau de me dizer que nunca me traiu. Você deve me
achar muito idiota mesmo, não é, Gustavo?
GUSTAVO - Tudo o
que eu disse é verdade. Eu nunca te traí, nem com a Andrea e nem com ninguém.
LETÍCIA -
Cínico. Quis jogar toda a culpa pela nossa separação nas minhas costas, quando
o que você queria mesmo era se livrar de mim pra poder se agarrar aí à vontade
com a sua amante. Canalha!
ANDRÉA -
(bastante constrangida) O Gustavo tá sendo sincero com você, nós nunca/
LETÍCIA -
Você cala sua boca que eu ainda não estou falando com você! Vagabunda!
GUSTAVO -
(exaltado) Ah não Letícia, eu não vou admitir que você ofenda a Andrea. Nós
estamos no nosso local de trabalho e você não tem o direito de vir aqui e/
LETICIA -
(Quase chorando) Tenho o direito que qualquer mulher traída tem.
GUSTAVO - (grita,
furioso) Eu não te traí! (mais calmo) Entende uma coisa. A partir do momento em
que eu fiz as minhas malas e saí de casa, nós deixamos de ter qualquer coisa um
com o outro. Eu sou livre pra fazer o que eu quiser.
Letícia
não se controla e parte para cima de Gustavo, lhe dando vários tapas. Ele tenta
se defender.
LETÍCIA - Desgraçado!
Eu odeio você, odeio!
Gustavo
finalmente consegue conter Letícia e a segura.
GUSTAVO - Para
com isso, Letícia!
LETÍCIA - (o
empurra) Me larga! (pausa) Você deve estar adorando me ver assim não é?
Humilhada. Mas saiba que eu também vou exercer a minha liberdade, porque o que
não falta é homem disponível por aí.
GUSTAVO - Você
não sabe como é bom ouvir isso. Tudo o que eu quero é que você recomece sua
vida, quem sabe até com o seu novo amigo, o Júlio.
LETÍCIA -
Isso não é problema seu. (T) Fica aí, com a sua amante, aproveita! Um dia eu
tenho certeza que você vai se arrepender por jogar fora a vida que nós construímos
juntos. Mas nesse dia pode ser tarde demais.
GUSTAVO - Chega,
Letícia! Vai embora, sai daqui!
LETÍCIA -
Chega mesmo! Podem continuar de onde pararam. (encara os dois) Isso não vai
ficar assim! Vocês dois me pagam por essa humilhação!
Explodindo
de ódio, Letícia sai como um raio do escritório. Câmera vai buscar movimentação
de pessoas que observavam a discussão do lado de fora da sala. Gustavo lança um
olhar de reprovação para eles e fecha a porta. Ele e Andrea se olham tentando
digerir o que aconteceu.
GUSTAVO - Me
desculpa.
Gustavo
vai até Andréa que está arrasada e a abraça. Fecha nos dois. Corta
para:
CENA 16. BANCO. INTERIOR. DIA.
Júlio
em sua mesa, atendendo uma cliente.
JÚLIO - O
empréstimo da senhora foi aprovado. Pode sacar o dinheiro quando quiser.
CLIENTE -
Obrigada.
JÚLIO -
Qualquer coisa, estamos aqui. Tchau.
Júlio
aperta a mão da cliente e ela sai. Letícia chega apressada e passa na frente de
um cliente, que seria o próximo a ser atendido por Júlio.
JÚLIO -
Só um minutinho, senhor. (a Letícia) Você me ligou tão abalada, me pedindo o
endereço do banco. Eu fiquei preocupado. O que foi?
Letícia
dá um grande beijo em Júlio. Vários clientes e funcionários do banco olham,
admirados.
LETÍCIA - Eu
aceito, Júlio. Eu quero ficar com você. Acho que a gente pode se dar muito bem.
Eu quero muito recomeçar a minha vida ao seu lado.
JÚLIO -
(feliz) Poxa, Letícia, eu fico muito feliz, mas nós estamos no meu trabalho.
Acho bom você se conter um pouco.
Letícia
olha ao redor, meio constrangida.
LETÍCIA -
Desculpa, gente. (a Júlio) Eu vou indo, então. Não quero te atrapalhar. Mais
tarde a gente se encontra.
Letícia
vai saindo. Júlio a olha, muito feliz. Corta
para:
CENA 17. CASA DE VIOLETA. SALA.
INTERIOR. TARDE.
Violeta
muito surpresa diante de Júlio e Letícia.
JÚLIO -
Essa é a Letícia que eu te falei, mãe. Nós estamos namorando.
LETÍCIA -
(sorri) Muito prazer, dona Violeta.
Violeta
olha para os dois, com ar de surpresa e não diz uma palavra. Júlio e Letícia
ficam constrangidos.
JÚLIO -
Não vai falar nada, mãe?
Em
Violeta encarando os dois, o Corte:
CENA 18. APTO DE LETÍCIA. QUARTO.
INTERIOR. NOITE.
Quarto
um pouco escuro. Câmera vai se aproximando devagar da cama de Letícia. Ela e
Júlio acabaram de transar. Ela está pensativa.
JÚLIO - O
que foi? Por que você tá assim?
LETÍCIA - A
tua mãe não gostou de mim.
JÚLIO -
(ri) Ah, Letícia, a gente acabou de fazer amor e é na minha mãe que você tá
pensando?
LETÍCIA -
Não ri não. Ela foi fria, comigo. Educada, mas fria.
JÚLIO -
Ela só ficou surpresa. Minha mãe é assim mesmo. Costuma implicar com todas as
minhas namoradas no início. Tenho certeza que vocês vão ser muito amigas.
Letícia
continua pensativa. Júlio lhe dá beijinhos no rosto e pescoço.
JÚLIO -
Te adoro. Por mim eu ficaria aqui pra sempre. (brinca) Quando é que nós vamos
morar juntos, hein?
Letícia
continua pensativa. Insert de trecho
rápido da cena 14 desse capítulo: Letícia flagrando o beijo e Gustavo e
Andréa. Fim do insert.
Letícia com raiva. Num impulso, ela faz o convite:
LETÍCIA -
Você pode se mudar pra cá quando quiser.
Júlio
quase não acredita no que ouviu.
JÚLIO -
Calma, eu tava só brincando, Letícia.
LETÍCIA -
Mas eu tô falando sério. Quando é que você se muda?
JÚLIO -
Tem certeza que é isso que você quer?
LETÍCIA -
Nós somos adultos, Júlio. Não devemos satisfação a ninguém. Já que a gente tá
namorando, por que não morar juntos de uma vez?
JÚLIO -
(feliz) Nossa, eu vou adorar. Mas... Eu não ia me sentir bem morando aqui.
LETÍCIA -
Como assim? Você quer ou não morar comigo?
JÚLIO -
Claro que quero. Mas pra isso, você vai ter que sair desse apartamento. Nós
vamos pra um lugar menor. Você pode começar a dar aulas e a gente racha as
despesas. E então, topa?
Em
Letícia muito surpresa olhando para Júlio,
Corta.
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