O
QUE TIVER DE SER
CAPÍTULO 3
WEB NOVELA DE
LEANDRO BRASIL
ESCRITA COM A COLABORAÇÃO DE:
ISAAC SANTOS
RAFAEL BARBOSA
RAUL FELIPE SENNGER
CENA 01. APTO LETÍCIA. QUARTO. INTERIOR. NOITE.
Continuação imediata. Letícia
muito surpresa com a proposta de Júlio.
LETÍCIA -
Olha, Júlio, quando eu te convidei pra morar comigo eu tava pensando em você
vir pra cá e não/
JÚLIO -
(corta) Acontece que eu não ia me sentir bem morando num apartamento comprado
pelo teu ex-marido.
LETÍCIA -
(ri) Se o problema é esse, pode ficar tranquilo. Esse apartamento é alugado.
JÚLIO -
Mas quem paga o aluguel é ele.
LETÍCIA -
Sim, mas a partir de agora eu e você podemos pagar. Eu e o Gustavo, a gente tá
acabando de construir a nossa casa no Jardim Paulista. Agora provavelmente ela
vai ser vendida e o dinheiro dividido, já que nós casamos com comunhão de bens.
Eu posso usar a minha parte pra/
JÚLIO -
(corta) Nada disso, Letícia. Esse dinheiro você vai guardar pra sua filha. Você
tem que pensar no futuro dela.
LETÍCIA -
(impaciente) Tudo bem, Júlio, mas a gente não precisa sair daqui. Eu tô mesmo
querendo começar a dar as minhas aulas, a gente divide as despesas, pronto.
JÚLIO -
Letícia, por favor. Será que você ainda não percebeu que... (pausa) Você viu a
casa da minha mãe? Viu a merreca que eu ganho naquele banco? Nem carro eu
tenho, Letícia. Esse apartamento aqui é de luxo, tá completamente acima das
minhas possibilidades! (T) Se você quer realmente morar comigo, vai ter que se
acostumar a viver de acordo com o padrão de vida que eu posso te oferecer. Nós
vamos pra um apartamento menor e você vai ter que trabalhar sim, porque eu não
tenho condições de te sustentar sozinho. A verdade é essa!
Os dois ficam em silêncio um
pouco. Letícia pensativa. Finalmente fala:
LETÍCIA -
Eu não vou mentir pra você, Júlio. Eu quero recomeçar a minha vida ao seu lado,
mas não é fácil abrir mão de todo o conforto que eu tenho aqui. Seria
hipocrisia da minha parte, dizer que não tô nem aí pra dinheiro, conforto! Essas
coisas são importantes! E depois tem a Sofia e/
JÚLIO -
(sorri) Eu te entendo, mas eu quero que você entenda o meu lado também. Olha,
não precisa decidir nada agora, não tem pressa. Pode pensar o tempo que você
quiser.
Corta rápido para:
CENA 02. CLÍNICA DE MASSAGEM. INTERIOR. DIA.
Letícia e Soninha deitadas nas
macas uma ao lado da outra, recebendo massagem. Câmera filma por baixo a cara
de Soninha relaxada. A primeira fala dela praticamente se sobrepõe à última
fala de Júlio na cena anterior.
SONINHA -
Não tem que pensar nada, Letícia. Tem é que aceitar na hora, sem titubear.
LETÍCIA -
O Júlio é um amor, Soninha. Mas eu não sei se eu quero morar com ele agora. Eu
fiz esse convite num momento em que eu tava com muita raiva do Gustavo.
SONINHA -
O Gustavo já tá reconstruindo a vida dele e você devia deixar de ser boba e fazer
o mesmo.
LETÍCIA -
(indecisa) Mas mudar daquele apartamento... Não sei.
SONINHA -
Essa é a melhor maneira de provar pro Gustavo e pra você mesma que ele não te
faz a mínima falta, que você pode muito bem ser feliz com outra pessoa.
LETÍCIA -
(esperançosa) Você acha que ele ia sentir ciúme?
SONINHA -
(irritada) Esquece o Gustavo, Letícia! Pensa em você, na sua felicidade! Não é
todo dia que aparece alguém como o Júlio na vida da gente. Não deixa passar
essa chance!
Letícia pensativa. Soninha bem
relaxada com a massagem.
SONINHA -
Ai, que delícia. Assim! (sente alguma dor) Ai, cuidado!
MASSAGISTA -
Desculpe, dona Soninha.
SONINHA -
(irritada) Foi só eu elogiar que a coisa desandou. Toma mais cuidado, menina!
(relaxa outra vez) Isso, assim.
Câmera fecha em Letícia,
pensativa. Corta para:
CENA 03. APTO JÚLIO E LETÍCIA. INTERIOR. DIA.
Legenda: Um mês depois. Júlio mostrando um apartamento de
classe média para Letícia. Ela olha meio desconfortável.
JÚLIO -
Isso é o que eu posso pagar por enquanto. Mas quando você começar a trabalhar a
gente pode arranjar um apartamento maior. (T) E então? Gostou?
LETÍCIA -
(disfarça) Gostei. É bem... aconchegante.
JÚLIO -
(feliz) Vem cá, deixa eu te mostrar o resto.
Júlio pega na mão de Letícia e a
puxa, mostrando tudo, bem entusiasmado. Música abafa o que ele diz. Letícia
tenta se mostrar entusiasmada, apesar de sua decepção. Corta para:
CENA 04. SEQUÊNCIA DE PASSAGEM DE TEMPO.
Música que começou na cena
anterior permanece ao longo de toda essa sequência de passagem de tempo:
A – SÃO PAULO. STOCK-SHOTS. EXT. NOITE/ DIA. Imagens variadas da cidade.
B – APTO JÚLIO E LETÍCIA. SALA. INT. DIA. Júlio e Letícia arrumando a
mudança. Ele põe o sofá num lugar, ela não gosta. Corte descontínuo.
O sofá já em outro lugar. Letícia aprova. Corte descontínuo. A
sala já toda arrumada. Júlio feliz, beija Letícia. Ela sorri, mas olha
desanimada para o lugar apertado.
C – APTO ANDRÉA. SALA. INT. DIA. Andréa feliz abrindo a porta para
Gustavo, que entra com sua mala na mão. Os dois se beijam e ela o conduz para o
quarto, feliz por ele ter vindo morar com ela.
D – SHOPPING. LOJA.
INT. DIA. Soninha com Marcelo em uma loja de roupas de grife. Cortes
descontínuos de Marcelo experimentando algumas roupas, com Soninha
aprovando ou não. Corte descontínuo. Soninha já pagando a conta.
Ela e Marcelo saem da loja, ele cheio de sacolas. Dá um selinho nela, enquanto
as funcionárias olham e cochicham.
E – SHOPPING. INT. DIA. Soninha e Marcelo andando
abraçados e olhando as vitrines das lojas. Passam em frente a uma joalheria.
Ele vê um lindo relógio na vitrine e o mostra a Soninha, que sorri. Corte
descontínuo. Soninha e Marcelo já saindo da joalheria. Ele com o
relógio no braço. Dá outro selinho nela, que se derrete.
F – ESCOLINHA INFANTIL. PÁTIO. EXTERIOR. DIA. Letícia andando com a diretora da
escolinha, que lhe mostra o ambiente. As duas observam várias crianças
brincando no recreio. Conversam alguma coisa e apertam as mãos, entrando em um
acordo.
G – ESCOLINHA. SALA DE AULA. INT. DIA. Crianças correndo pela sala,
jogando papel umas nas outras, etc. Letícia entrando na sala com livros e
cadernos, pronta para dar sua aula. Olha desanimada para as crianças.
H – SHOPPING. LANCHONETE. INT. DIA. Andréa, Gustavo e Sofia animados,
acabando de comer um lanche. Os três saem da lanchonete e se dirigem apressados
ao cinema do shopping. Andréa de mãos dadas com Sofia, as duas aparentemente se
dando muito bem.
I – BOATE. SALA DE RUBENS. INT. NOITE. Rubens se agarrando com uma
mulher. Os dois caem em um sofá velho e já começam a tirar as roupas.
J – CASA DE PAOLA. QUARTO CASAL. INT. NOITE. Paola de camisola, entra animada
no quarto e vai até Rubens. Ela o beija e se decepciona ao ver que ele dorme.
Paola ainda tenta acordá-lo, mas Rubens tem “sono pesado”. Desanimada, ela
deita ao lado dele. Close de Rubens abrindo os olhos e voltando a fingir que
dorme.
K – FÓRUM. INT. DIA. Letícia e Gustavo com seus respectivos advogados em
frente ao juiz assinando os papéis do divórcio. Depois de tudo assinado,
Gustavo tenta apertar a mão dela amigavelmente, mas ela lhe dá as costas e vai
embora, irritada. Fim da sequência.
CENA
05. APTO JÚLIO E LETÍCIA. SALA. INTERIOR. DIA.
Letícia sentada no
sofá, dando uma organizada na mochila de Sofia.
SOFIA - (off) Só faltou a escova de
dente, mãe?
LETÍCIA - Sim, anda logo, filha.
Júlio vem da cozinha,
mordendo uma maçã. Sofia entra com o estojo higiênico.
JÚLIO - Tô indo buscar o Lucas.
LETÍCIA - Vou comprar o bolo de chocolate
que ele adora.
SOFIA
- (a Letícia) Vê se guarda
um pedaço pra sua filha, né?
JÚLIO - Parece que tem gente com ciúme
por aqui.
Todos sorriem. Júlio
beija as duas, dá tchau e sai.
LETÍCIA
- Você fala assim, mas eu tenho
certeza que a mulher do teu pai te enche de doces, de sobremesa/
SOFIA - (corta) Ah, mãe, ela me trata
bem. Eu gosto dela!
LETÍCIA - (dissimulada) Mas você sabia que
foi por causa dessa mulher que o teu pai se separou de mim? Foi ela que roubou
o Gustavo da gente e fez ele sair de casa, Sofia!
SOFIA - (surpresa, triste) Isso é
verdade, mãe? (T) Então eu não vou mais lá. Prefiro ficar com você.
LETÍCIA
- Nem pense nisso, filha. Eu
nem devia ter te contado isso. Você é só uma criança. (tom) Não comenta com
ninguém, tá bom? Senão o teu pai vai se irritar comigo!
Campainha toca. Letícia
vai abrir a porta. Gustavo entra, cumprimenta Letícia e beija Sofia. Ele
percebe o ar estranho da filha.
GUSTAVO - (a Letícia) Aconteceu alguma coisa?
LETÍCIA - Bobagem. Ela tava inventando de
trocar de roupa em cima da hora. Eu disse que não, não dava tempo.
GUSTAVO
- E o Júlio... Como é que vocês
estão?
LETÍCIA - O Júlio foi um acerto na minha
vida. (T) Imagino que você não possa dizer o mesmo com relação à Andréa!
GUSTAVO - (ignora) Dá um abraço no Júlio. (a
Sofia) Vamos, filha?
Sofia se despede de
Letícia e sai com Gustavo. Letícia furiosa.
Corta para:
CENA
06. CASA DE PAOLA. QUARTO LUCAS. INTERIOR. DIA.
Lucas sentado na
cama, guardando suas coisas na mochila. Entra Rubens.
RUBENS
- Já vai se encontrar com o papaizinho?
Diga a ele que qualquer dia desses eu vou convidá-lo pra bater uma bola comigo
e uns amigos meus. (T) Pensando bem, não diga nada... Lembrei que é coisa pra cabra
macho!
LUCAS
- Mas acho que nem daria
mesmo. Meu pai gosta é de jogar xadrez com amigos do mesmo nível intelectual
que ele, o que não é o seu caso.
Irritado, Rubens parte
pra cima de Lucas. Lucas apenas tenta se defender da surra. Paola entra e
flagra a agressão.
PAOLA
- O que é isso, Rubens?
RUBENS
- (solta Lucas) Esse moleque...
Vive me dizendo desaforos, não me respeita. Não admito isso!
Rubens sai do quarto batendo
a porta com ignorância. Paola vai atrás dele. Lucas, num canto, chora. Corta
rápido para:
CENA
07. CASA DE PAOLA. SALA. INTERIOR. DIA.
Paola e Rubens frente
a frente. Discutem muito.
PAOLA
- (alterada) Não, eu nunca lhe
dei esse direito.
RUBENS
- Calma! Eu já disse o que
aconteceu.
PAOLA
- Ele ficou lá chorando. (T) O
filho é meu! Eu não quero que você encoste um dedo nele!
RUBENS
- (dissimulado) Já entendi tudo.
Por mais que eu tente, me esforce pra educar o garoto como um pai faz com o
filho que ama, você sempre faz questão de me deixar à margem com relação ao
Lucas.
PAOLA
- Não é isso, Rubens. Eu sei
que o Lucas às vezes passa dos limites. E é claro que ele te deve respeito. Mas
é que eu e o pai dele nunca levantamos a mão pra ele. (T) Não vamos brigar por
causa disso, não. Desculpa, vai!
Rubens continua
bancando o ofendido. Paola o abraça. Corta
para:
CENA
08. CASA DE PAOLA. QUARTO LUCAS. INTERIOR. DIA.
Lucas está deitado em
sua cama. Paola entra.
PAOLA
- Vamo levantando daí, Lucas!
LUCAS
- Meu pai já chegou?
PAOLA
- Não, mas deve chegar daqui a
pouco. Termine logo de arrumar sua mochila. (T) Eu quero que você peça
desculpas ao Rubens... E nada de continuar tratando ele mal.
LUCAS
- Mas foi ele que/
PAOLA
- (corta) Não me interessa. Você
tem que respeitá-lo! E nem uma palavra com seu pai sobre isso. Tá me ouvindo?
Na expressão triste
de Lucas, Corta para:
CENA
09. SALÃO DE BELEZA. INTERIOR. DIA.
Letícia, Rosália e
Soninha cuidando dos cabelos. As três sentadas perto uma da outra. Em conversa
avançada.
LETÍCIA
- Mas mãe, eu tô me queixando é
da rotina da sala de aula, daquele monte de criança mal educada. Não tem nada a
ver com o Júlio.
ROSÁLIA
- Tem tudo a ver, minha filha! Foi
trocar o homem maravilhoso que é o Gustavo por um Júlio qualquer, deu nisso: já
começaram as reclamações.
LETÍCIA
- Para com isso, mãe. (lembra)
E ó, eu faço questão da sua presença no jantar de logo mais. Quero a família
toda reunida!
SONINHA
- Ah, mas se você quer contar
comigo, trate de incluir o Marcelo na sua lista, maninha!
ROSÁLIA
- Eu ainda vou ter que sentar à
mesa com um gigolô também?
SONINHA
- (irritada) A senhora não conhece
o Marcelo o bastante pra dizer o que ele é ou deixa de ser, mamãe/
LETÍCIA
- (corta) Pode levar o Marcelo,
Soninha... É bom que ele vá aprendendo a lidar com a sogrinha!
Letícia e Soninha
riem. Rosália faz cara de quem não gostou. Corta
para:
CENA
10. SÃO PAULO. STOCK-SHOTS. EXTERIOR. DIA.
Belas imagens,
terminando numa sinaleira da Consolação. Corta
para:
CENA
11. RUAS. EXTERIOR. DIA.
Vemos Júlio e Lucas,
entre outros pedestres, esperando o sinal abrir. Abre. Eles atravessam e seguem
por uma calçada.
JÚLIO
- Você viu como a gente tem
que prestar atenção na hora de atravessar? (Lucas movimenta a cabeça
positivamente) Se a gente não olha direito, corre sérios riscos... Com os
estudos é mais ou menos assim que funciona. É por isso que eu sempre peço pra
você se esforçar, prestar atenção nas aulas, participar...
LUCAS - É, eu sei, pai. Eu tenho prestado
bastante atenção, sim.
Júlio percebe que
Lucas não está bem. Para, se abaixa e olha nos olhos dele.
JÚLIO
- O que é que você tem,
filho?
LUCAS
- Não tenho nada!
JÚLIO
- Pô, Lucas, eu sou seu pai,
seu amigo... Pode se abrir comigo.
LUCAS
- Mas eu já disse, pai... Tá
tudo bem!
JÚLIO
- (tom) Não, não tá mesmo. Eu
te conheço, filho! Você vai me contar agora o que tá acontecendo!
Corte
rápido para:
CENA
12. CASA DE PAOLA. SALA/ COZINHA. INTERIOR. DIA.
Campainha tocando.
Rubens vai atender, mal humorado, e é surpreendido por Júlio, que lhe dá um
grande soco no rosto. Rubens cai, levanta, mas antes mesmo de tentar revidar,
Júlio lhe dá outro soco ainda maior, que o faz esbarrar numa mesinha ao lado do
sofá, quebrando-a.
JULIO -
Seu desgraçado!
Corta para a
Cozinha, onde Paola arruma talheres numa bandeja. Ela ouve o barulho e vai
rápido para a sala. Ao chegar lá, Paola encontra Rubens ainda no chão. Júlio
furioso.
PAOLA - (assustada, para
Júlio) O quê que tá acontecendo aqui?!
JULIO - Eu é que pergunto, Paola. Esse
canalha bateu no nosso filho, ou será que você não percebeu?
Rubens se levanta com
a mão no rosto, a boca sangrando. Paola o ajuda.
RUBENS - (avançado na direção de Júlio) Sai da
minha casa agora!
PAOLA – (segura Rubens) Calma, vocês dois. Eu já sei o que aconteceu, Júlio. Foi só uma
discussão.
JULIO - Isso não foi um caso isolado,
Paola. Há muito tempo eu tô achando o Lucas triste, esquisito, já vi até
manchas no corpo dele. Esse desgraçado vive agredindo o nosso filho!
PAOLA - Não é nada disso, Júlio/
JULIO – (corta, furioso) Mas eu não vou
permitir que isso continue acontecendo! Eu vou pedir a guarda do Lucas e tirar
ele dessa casa. Eu quero o meu filho bem longe de vocês!
PAOLA - (surpresa, assustada) Ficou
louco? Você não pode fazer isso.
JULIO – Ah, não? Vamos ver se eu posso
ou não. (para Rubens). E olha aqui, se você voltar a encostar um dedo no meu
filho, eu acabo com você!
Júlio sai, batendo a
porta furiosamente. Paola encara Rubens, que continua sangrando perto da boca. Corta para:
CENA
13. APTO JÚLIO E LETÍCIA. SALA. INTERIOR. DIA.
Júlio e Lucas
chegando. Letícia vinda do corredor.
LETÍCIA - (para Lucas, surpresa) Oi.
Letícia nota o
semblante sério de Júlio.
LETÍCIA - O que aconteceu?
Corta
para:
CENA
14. APTO JÚLIO E LETÍCIA. QUARTO DO CASAL. INT. DIA
Letícia sentada na
cama, Júlio anda nervoso de um lado pro outro.
JULIO - (revoltado) Agora, eu te
pergunto: tem como eu deixar as coisas assim, Letícia? Eu não posso deixar o
meu filho naquela casa. Eu tenho que entrar com o pedido de guarda o quanto
antes.
LETÍCIA - (surpresa) Você quer trazer o
Lucas pra morar aqui?
JULIO -
(senta ao lado dela) Algum problema pra você?
LETÍCIA -
(pensativa) Não, claro que não. Problema nenhum.
Em
Letícia disfarçando sua irritação com a notícia, corta
para:
CENA 15. APTO GUSTAVO E
ANDRÉA. SALA. INTERIOR. TARDE.
Gustavo,
Andréa e Sofia acabaram de chegar em casa. Gustavo senta-se no sofá com Sofia.
Andréa na poltrona ao lado.
GUSTAVO - (para Sofia) Ufa. Foi ótimo o nosso
passeio, não foi?
Sofia
não diz nada.
ANDRÉA -
Foi, foi bem legal mesmo.
GUSTAVO -
(para Sofia) Mas você, filha, parece que não gostou. Não disse nada durante o
dia todo, não curtiu o filme. Não era o que você queria tanto ir ver?
SOFIA -
(sem olhar para Gustavo, olhando pra frente, séria) Era.
GUSTAVO - E
você não achou legal?
SOFIA – Um pouco.
Andréa
percebe o jeito de Sofia.
ANDRÉA -
(voz calma, amigável) Pois, então... Tudo foi ótimo: o passeio, o cinema, o
milk shake, tudo. Agora é hora de descansar. Sofia, meu amor, você não acha
melhor tomar um banho, trocar de roupa?
SOFIA –
(para Andréa) Não.
Gustavo
e Andréa se entreolham.
GUSTAVO – A
Andréa tem razão, Sofia. Vai tomar um banho pra descansar, colocar um pijama
bem gostoso.
SOFIA –
Ainda é cedo pra pijama, e eu não quero tomar banho agora. (para Andréa) E
ela... Ela não é a minha mãe.
Gustavo
se ajeita no sofá, sério.
GUSTAVO -
Sofia, presta atenção: agora a Andréa é a namorada do papai e você precisa
respeitá-la, entendeu?
SOFIA -
Ela é tua namorada, não minha. Eu não devo obediência a ela. E eu não quero
fazer nada aqui. Nada!
Sofia
sai correndo.
GUSTAVO -
(levanta-se) Sofia, volta aqui! Sofia!
ANDRÉA -
Senta. Deixa ela. Brigar agora só vai piorar.
Gustavo
senta-se mais uma vez. Está irritado.
GUSTAVO - Eu
não acredito que ela tá fazendo isso.
ANDRÉA - É
normal, Gustavo. Ela ainda é uma criança.
GUSTAVO -
Criança? Eu não me refiro à Sofia. É da Letícia que eu tô falando.
Em
Gustavo sério e pensativo corta para:
CENA 16. APTO JÚLIO E
LETÍCIA. SALA JANTAR. INT. NOITE.
Júlio, Letícia, Soninha,
Rosália e Violeta jantando em família. Certo clima desconfortável no ar.
SONINHA - Ai, é uma pena que o Marcelo não pôde
vir, ficou trabalhando, tadinho. Aquela boate não fica sem ele.
JÚLIO - Eu conheço a boate onde esse teu
namorado trabalha, e a fama daquele lugar não é nada boa.
SONINHA - A Letícia comentou comigo que o atual
marido da sua ex é dono de lá. (ri) Olha a implicância, Júlio!
JULIO - Quem dera fosse só implicância,
Soninha. Vamos combinar que aquilo é uma espelunca, a boate tá mal das pernas
há tempos. E o Rubens mantém um padrão de vida bastante confortável pra quem
vive daquele lugar. Eu não posso provar nada, mas acho que ele tá envolvido em
alguma maracutaia. E isso é um motivo ainda mais forte pra eu querer tirar meu
filho o quanto antes daquela casa.
VIOLETA - (para Júlio) Falando no Lucas, cadê
ele, meu filho?
JULIO - Tá dormindo. Hoje foi um dia difícil.
Ele brincou um monte depois que chegou aqui e capotou, tadinho.
ROSÁLIA - Mas caso consiga a guarda dele, vocês
vão continuar morando aqui? Eu acho esse apartamento tão pequeno pra caber mais
um...
LETÍCIA - (lança um olhar repreensivo para a
mãe) Deixa de bobagem mãe, cabemos os quatro tranquilamente.
JULIO - É, pelo menos por enquanto a
gente se aperta por aqui.
ROSÁLIA - Tudo bem, se é assim, não tá mais aqui
quem falou.
LETÍCIA - (para Violeta) A senhora ainda não
disse o que achou da minha comida, dona Violeta.
VIOLETA - (ríspida) Tá boa. Você só exagerou um
pouco no sal, o que é um perigo pra quem tem pressão alta como eu.
LETÍCIA - (constrangida) Ah, é que eu ainda
tô aprendendo a cozinhar. Um dia eu acerto a mão, pode deixar.
VIOLETA - É o que eu espero.
Júlio incomodado.
Desconforto geral. Soninha quebra o silêncio:
SONINHA - A senhora tem cara de quem sabe
cozinhar muito bem dona Violeta. O Júlio deve ter se fartado.
JÚLIO - (ri) Sou magro de ruim.
VIOLETA - É, mas eu gostaria de ter cozinhado
mais pro meu filho. Fiquei viúva muito cedo, o Júlio ainda era muito pequeno.
Tive que cumprir o papel de mãe e de pai na educação dele e trabalhar fora pra
botar as coisas dentro de casa. Por isso ele muitas vezes teve que se contentar
com aqueles lanches improvisados, com comida requentada, bolacha, salgadinho e
por aí vai.
ROSÁLIA - Olha, Violeta, na cozinha, eu confesso
que sou um desastre, mas temos uma coisa em comum: eu também tive que criar
essas duas meninas sozinhas, ser pai e mãe ao mesmo tempo. E eu não tive sorte
de ficar viúva não, eu fui é abandonada mesmo pelo pai delas, que sumiu por aí
e nunca me ajudou. Só Deus sabe o que eu passei.
VIOLETA - Mas eu não me considero uma mulher de
sorte por ter ficado viúva. Só eu sei o quanto me fez falta um marido me
apoiando na educação do Júlio.
ROSÁLIA - Pois eu hoje agradeço a Deus por
aquele imprestável ter ido embora. Tenho orgulho de ter criado minhas filhas
sozinhas, de nunca ter dependido de homem nenhum.
Soninha, Letícia e
Júlio preocupados com o rumo da conversa.
VIOLETA - (impaciente) Mas eu não tô falando de
dependência. Falo de companhia, do apoio da figura paterna.
ROSALIA - Antes só do que mal acompanhada. Eu
sempre disse isso pras minhas filhas. (encarando as filhas e Júlio) Mas acho
que nisso, elas não pensam como eu.
VIOLETA - A Soninha eu não sei, mas quanto à
Letícia, te garanto que ela fez uma ótima escolha, porque o meu filho é um
rapaz de ouro. (para Letícia) Espero eu, que ele também tenha feito.
Closes alternados de
todos meio constrangidos. Mais uma vez Soninha entra em ação para desanuviar o
ambiente:
SONINHA - Bom, então vamos fazer um brinde ao
casal. Toda felicidade do mundo pra Letícia e pro Júlio.
Letícia e Júlio
agradecem. Todos brindam naquele clima. Closes de todos. Fecha em Letícia,
bastante desconfortável. Corta para:
CENA 17.
BOATE. SALA DE RUBENS. INTERIOR. NOITE.
Sala escura. Rubens
abre a porta e entra. Acende uma luz e se depara com uma garota bastante
atraente em trajes mínimos sentada em sua mesa.
GAROTA - Tava te esperando.
RUBENS - Ah, é? (fechando a porta), pois chega
de esperar e vamos ao que interessa.
Detalhe da porta que
ficou entreaberta. Rubens vai pra cima dela sedento. Os dois começam a se
agarrar bastante excitados. Trocam beijos e amassos quentíssimos. Rubens já
está quase arrancando a blusa da garota quando a porta se abre. Paola entra e
se depara com a cena.
PAOLA - (grita) Rubens!
Rubens e a garota
param e a encaram. No horror de Paola Corta
rápido para:
CENA 18.
CASA DE PAOLA. QUARTO DO CASAL. INT. NOITE.
Discussão ao meio.
Abre nas malas de Rubens abertas sobre a cama do casal. Paola vai colocando
todas as roupas de Rubens com certo descontrole.
RUBENS - Para com isso Paola, não me manda
embora, eu já te expliquei!
PAOLA - E você acha que eu sou idiota pra
acreditar nessa história mal contada? (furiosa) Eu saí daqui na melhor das
intenções, doida pra fazer uma surpresa e te pego se agarrando com uma
vagabunda!
RUBENS - Eu já te disse que aquela garota vive
pegando no meu pé. Hoje algum imbecil deixou a porta aberta, ela entrou, ficou
me esperando e veio pra cima de mim se insinuando, quase pelada. Foi tudo muito
rápido, eu mal tive tempo de me desvencilhar e você já entrou lá dentro
gritando. Eu nunca ia te trair, ainda mais lá na boate.
PAOLA - E por que você nunca quer que eu
vá naquela porcaria de boate?
RUBENS - Pra você não ter que conviver com
aquele tipinho de garota e pra proteger o nosso casamento. Assim como ela tem
várias no meu pé, você ia ficar com ciúmes, a gente ia brigar. Eu poderia ter
todas as garotas que quisesse, mas sou casado com você, é de você que eu gosto.
Rubens se aproxima
bastante carinhoso e sedutor. Acaricia o
rosto de Paola e limpa as lágrimas dela.
RUBENS - Eu te amo, Paola. Me perdoa, eu devia
ter sido mais firme com aquela vagaba, poupado você de ver aquela cena. Você é
minha mulher, minha rainha, eu te amo. Olha em volta, olha tudo que a gente
construiu. Eu fui um bom marido até agora, não fui?
PAOLA - (quase cedendo) É... Você foi sim,
mas/
RUBENS - (corta) Então? Você quer mesmo jogar
tudo isso fora? Eu tô sendo sincero com você, Paola. Eu nunca ia te trair.
PAOLA - Jura?
RUBENS - - De todos os jeitos que você quiser.
Rubens abraça Paola, que
cai totalmente na lábia do marido. Fecha no rosto de Rubens com um risinho de
alivio por ter contornado a situação. Corta
Para:
CENA 19.
APTO JÚLIO E LETÍCIA. SALA. INTERIOR. NOITE.
Letícia abrindo a
porta já com roupa de dormir. Gustavo e Sofia entram.
LETÍCIA - (surpresa) Ué, a Sofia não ia
dormir com você?
GUSTAVO - Ia, não vai mais. Deu trabalho o tempo
todo, insistiu pra vir hoje e eu tive que trazer.
SOFIA - Tô com sono, mãe.
LETÍCIA - Então dá um beijo no seu pai, vai
pro quarto, troca de roupa, escova os dentes e me espera que eu já passo lá.
Sofia meio sem
vontade vai até Gustavo e o beija. Ele a abraça.
GUSTAVO - Dorme bem.
Sofia vai para o
quarto. Gustavo encara Letícia.
LETÍCIA - Que foi?
GUSTAVO - A Sofia tratou a Andréa mal o dia
inteiro. Respondona, mal criada, agressiva até. Você tem alguma coisa a ver com
isso?
LETÍCIA - (reage) Como é que é?
GUSTAVO - Você entendeu. É você que anda enchendo
a cabeça da menina contra a Andréa, não é?
LETÍCIA - Mas é claro que não. De onde você
tirou isso?
GUSTAVO - Eu fui casado com você por dez anos, te
conheço. E não vou permitir que você use a Sofia pra prejudicar a minha relação
com a Andréa.
LETÍCIA - Eu não tô nem aí pra você e muito
menos pra essa tua nova mulher. Agora eu não posso obrigar a menina a aceitar a
sua relação.
GUSTAVO - O aviso foi dado. Se eu souber que você
tá envenenando a minha filha contra mim ou a Andréa, nós vamos brigar sério. Eu
tiro a Sofia de você!
Gustavo sai furioso e
bate a porta com força. Letícia suspira irritada. Fica um instante parada e
pensativa. Decide ir para o quarto, até que vira e se assusta ao dar de cara
com Júlio, que a encara com olhar acusador.
LETÍCIA - Você tava aí?
JULIO - É verdade isso que eu acabei de
ouvir?
LETÍCIA - (impaciente) Verdade o que, Júlio?
JULIO - Eu vou ser mais específico: você
ainda é apaixonada pelo seu ex-marido?
Closes alternados dos
dois. Em Letícia, assustada, Corta .
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