O
QUE TIVER DE SER
CAPÍTULO 4
WEB NOVELA DE
LEANDRO BRASIL
ESCRITA COM A COLABORAÇÃO DE:
ISAAC SANTOS
RAFAEL BARBOSA
RAUL FELIPE SENNGER
CENA
01. APTO JÚLIO E LETÍCIA. SALA. INTERIOR. NOITE.
Continuação imediata.
Letícia assustada.
LETÍCIA
- Que é isso, Júlio? Que
pergunta! É claro que eu não sinto mais nada pelo Gustavo. Nada. A não ser
ódio... Raiva! E essa história que eu coloquei a Sofia contra ele e contra a
tal fulana (pausa, passa a mão na cabeça) é tudo... Tudo uma grande mentira,
ouviu?!
JULIO
- (Calmo, voz tranquila) Eu
não sou bobo, Letícia. Sabe, até agora eu tentei mascarar as coisas, fingir pra
mim mesmo que tá tudo bem, que você tá completamente apaixonada por mim, mas no
fundo eu sabia que alguma coisa ainda tá mal resolvida nisso tudo. E agora eu
percebi, tive certeza que você ainda não esqueceu o teu ex-marido. Pelo menos
não totalmente. Esse comportamento de ficar colocando a sua própria filha
contra o pai é/
LETÍCIA - (corta) Eu não fiz isso!
JULIO
- Não precisa dizer mais
nada, Letícia. Eu só vou te falar uma coisa: eu gosto muito de você, gosto
muito mesmo. E tô disposto a fazer com que você me ame também, que me ame da
mesma forma e com a mesma intensidade com que amou o Gustavo. Eu desejo muito
que a nossa relação dê certo e tenha futuro, mas se você demorar muito para
resolver se fica ou se volta, eu posso acabar me cansando e ir embora.
Júlio sai, sério. Em
Letícia pensativa, corta para:
CENA
02. APTO ROSÁLIA. SALA. INTERIOR. NOITE.
Rosália, entre um
gole e outro de vinho, dança freneticamente ao som de “sei que eu sou bonita e
gostosa”. Corte descontínuo.
Rosália sentada no sofá, pensativa, pega o telefone e disca.
ROSÁLIA - (ao telefone) Alô, é da agência H?
(pausa) Ah, desculpe. (disca novamente) Alô, boa noite. (pausa) Sim, é com
vocês mesmo que eu quero falar. (pausa) Meu nome? Rosália Almeida. (pausa) Já,
eu já tenho cadastro aí. Mande o rapaz mais atraente que vocês tiverem. (pausa)
Ok, eu aguardo. Obrigada.
Rosália desliga o
telefone e fica pensativa. Corte
descontínuo. Rosália, vestida numa camisola vermelha. Campainha toca.
Rosália vai atender. Ela abre a porta e vê um garoto de programa bonito e
saradão.
GAROTO
DE PROGRAMA - Dona Rosália? (ela
diz que sim) Eu sou da agência/
ROSÁLIA - (corta) Entre e feche a porta, rapaz.
(sensual) Eu sou toda sua. Quero me divertir muito essa noite!
O rapaz pega Rosália
no colo e a leva para o quarto. Corta
para:
CENA
03. SÃO PAULO. STOCK-SHOTS. EXTERIOR. DIA.
Imagens aceleradas de
diferentes pontos da cidade, de modo a deixar claro que se passaram alguns
dias. Termina na fachada da casa de Paola. Corta
para:
CENA 04. CASA DE PAOLA. SALA. INTERIOR. NOITE.
Abre
na TV ligada em um desenho animado. Lucas assistindo com ar desanimado. Rubens
e Marcelo entram fazendo barulho e falando alto, ambos bem tensos. Lucas se
assusta.
MARCELO - Tá se
preocupando à toa, cara!
RUBENS - À toa?
É no meu pescoço que tá a corda, meu bom!
Rubens
se irrita ao ver Lucas, vai até o sofá, pega o controle de cima dele e desliga
a TV.
RUBENS - Dá
licença, garoto, que eu preciso conversar aqui com meu amigo.
LUCAS -
(emburrado) Mas eu tava assistindo.
RUBENS - Não
interessa. Vou levar um papo aqui que não é pra criança. Vai pro seu quarto.
LUCAS -
Mas/
RUBENS - Vai
logo, moleque!
Lucas lança um olhar
enfurecido para Rubens e sai pisando duro.
MARCELO - Relaxa
Rubens, você anda muito tenso, cara. Tem que pensar de cabeça fria.
RUBENS -
(bastante nervoso) Como, cabeça fria? O Airton não tá pra brincadeira. Ele me
deu um prazo pra quitar a dívida e se eu não pagar... Você sabe o que ele pode
fazer. Conhece a fama do cara.
MARCELO - Ele te
ameaçou então?
RUBENS - E eu
vou estar assim, por quê? É claro que ele me ameaçou. O cara não tá pra
brincadeira. Se eu não conseguir levantar essa grana...
Rubens
encara Marcelo e parece ter uma ideia. Durante o diálogo a seguir Paola vai
surgir e escutar parte da conversa.
RUBENS - Tem
como descolar uma grana lá com a tua perua? Ela é viúva de um velho cheio da
nota, você podia tentar...
MARCELO -
Esquece, não vou pôr a perder meu lance com a Soninha, não agora.
RUBENS -
(preocupado) Merda!
MARCELO - Ainda
acho que você tá sofrendo cedo demais. (meio sussurrando) Tem aquela mercadoria
pra chegar, coisa grande, que dá dinheiro e eu não tô falando de pouco. Os
fornecedores já tão pra entregar. Você vai conseguir levantar a grana do Airton
fácil.
Paola
adentra de vez a sala. Marcelo emudece e Rubens a encara tentando disfarçar sua
tensão.
PAOLA - Do
que é que vocês estão falando?
RUBENS - Nada
demais. Negócios, problemas com fornecedor, contas pra pagar. Probleminhas de
sempre.
Rubens vai até Paola
e lhe dá um beijo carinhoso.
RUBENS - Boa
noite, meu amor.
PAOLA - Tem
certeza que não é nada sério? Vocês me pareceram bem nervosos.
RUBENS - já
disse que não é nada com que você tenha de se preocupar. Deixa que eu cuido dos
negócios , ok?
PAOLA -
(desconfiada) Tudo bem!
MARCELO - O Rubens
é fera na administração da boate, ele vai resolver o... Probleminha.
Rubens e Marcelo se
olham cúmplices. Paola intrigada. Corta Para:
CENA 05 . APTO SONINHA. SALA. INTERIOR. NOITE.
Marcelo
e Soninha saindo de um beijo. Ela levanta e vai até a estante com bebidas.
Marcelo vai pegar um porta retrato do falecido Giácomo durante a conversa.
SONINHA - Vou
servir mais um uisquinho pra gente!
MARCELO - (já com
o quadro na mão) Vem cá, como você conseguiu ser casada com esse velhote, hein?
Soninha
o encara, incomodada. Larga a garrafa na estante e se aproxima tirando o porta
retrato da mão de Marcelo.
SONINHA - Não
fala assim! Não gosto que se refiram ao Giácomo desse jeito. Ele foi uma das
pessoas mais importantes da minha vida.
MARCELO - Vai me
dizer que amou ele agora, é?
SONINHA - (pensa,
um pouco culpada) Gostaria de ter amado mais, amado pra valer. Mas sempre tive
um grande carinho por ele. Aquele jeito fofo, aquele sotaque italiano, o bom
gosto... Tudo nele era encantador. (tempo, sente saudade) Acho que talvez ele
tenha sido a pessoa que mais me amou nessa vida. Nenhum dos outros maridos que
eu tive chegou aos pés do Giácomo. Ele me deu tudo, sabe? O que eu sou, o que
eu tenho... Eu devo tudo a ele, tudo. Se hoje nós estamos aqui tomando essa
bebida cara, nesse apartamento confortável, luxuoso, é graças a ele. Eu até me
sinto um pouco culpada porque... Eu gostaria de ter sido mais carinhosa, mais
amorosa com ele. Tadinho. Não tinha família, era tão solitário! (T) Mas apesar
de tudo eu acho que eu fiz ele feliz. E ele também me fez. Nós tivemos grandes
momentos juntos. (abraça o porta retrato, carinhosa) Eu sempre vou lembrar do
Giácomo com muito carinho. E se você quer continuar numa boa comigo, acho bom
respeitar a memória dele.
Soninha
sorri carinhosa para o retrato de Giácomo e o devolve à mesinha onde estava.
Marcelo a olha meio constrangido.
MARCELO - Desculpa,
eu não queria ter falado daquele jeito, eu só/
SONINHA -
Magina, eu entendo.
Marcelo coloca a mão
no bolso e olha para Soninha com ar de mistério e com um sorrisinho de canto de
boca, meio malandro e sedutor.
SONINHA - Que
foi? Quê que tá me olhando desse jeito, hein?
MARCELO - Eu
tenho uma coisa pra te dar.
SONINHA -
(curiosa) Ah é, o que será?
MARCELO - É
simples, mas é de coração.
Marcelo
leva a mão ao bolso e tira de lá uma caixinha. Ele a abre e vemos um anel
simples, mas bonito.
SONINHA - (leve emoção)
Nossa!
MARCELO - Eu não
posso te dar tudo que o vel... Quer dizer, o que o Giácomo te deu. Mas eu
também posso te fazer muito feliz e ser tão importante como ele foi. Será que
você me dá a chance de ser o seu próximo marido e te fazer feliz como nenhum
dos outros conseguiu?
SONINHA - (agora
bastante emocionada) Tá falando sério?
MARCELO - Quer
casar comigo?
SONINHA - E você
ainda pergunta?
Marcelo pega a mão
dela e vai colocando o anel em seu dedo. Depois eles se beijam novamente. Corta
para:
CENA
06. FRENTE DA BOATE. EXTERIOR. NOITE.
Rubens chegando à
boate. Imagem estática. Alguém não identificado o fotografa enquanto ele sai do
carro e se dirige à boate. Vários flashes são tirados. Em uma das fotos de
Rubens entrando na boate, Corta para:
CENA
07. APTO JÚLIO E LETÍCIA. SALA. INTERIOR. DIA.
Com o uniforme da
escola, Sofia termina de colocar os livros na mochila. Letícia a ajuda.
SOFIA
- Ah, mãe, não esquece, viu,
de ligar pro papai e avisar que a minha peça vai ser hoje, tá?
LETICIA
- Eu sei, filha. Pode ficar
tranquila, que eu e o teu pai estaremos lá.
Close de Letícia maliciosa,
planejando algo. Corta para:
CENA 08. CASA DE PAOLA. SALA. INTERIOR. DIA.
Paola abrindo a porta
e dando de cara com um oficial de justiça. Ele está com uma papelada na mão.
Paola estranha.
PAOLA -
Posso ajudar?
OFICIAL -
Dona Paola Lemos?
PAOLA -
Sim, sou eu.
OFICIAL - Eu
sou oficial de justiça e tenho uma notificação para a senhora.
Na forte reação de
Paola, já imaginado do que se trata, Corta
rápido para:
CENA
09. APTO JÚLIO E LETÍCIA. SALA. INTERIOR. DIA.
Paola já discutindo
sério com Júlio.
PAOLA - (furiosa) Você não podia fazer
isso, Júlio/
JÚLIO - (cortando) Tanto podia que já
fiz: dei entrada no pedido da guarda de Lucas, sim! Quero o meu filho aqui,
junto comigo e bem longe de você!
PAOLA
- Mas Júlio, será que você não
percebe que o melhor pruma criança é estar perto da mãe? Tá querendo
traumatizar o Lucas?
JÚLIO - Traumatizado ele vai ficar se
continuar vivendo com o Rubens! O Lucas já me falou várias vezes que gostaria
de morar comigo e eu vou conseguir a guarda dele! Nem tente me fazer mudar de
ideia, Paola. Você não vai conseguir!
Paola olha para
Júlio, como quem vai falar alguma coisa, mas desiste e vai embora, furiosa. Corta para:
CENA
10. ESCOLA SOFIA. ANFITEATRO. INTERIOR. DIA
Crianças no palco. Cortina
ainda fechada para a plateia. Professora organizando as crianças em seus
respectivos lugares.
PROFESSORA
- (para todos) Ótimo. Nós ensaiamos bastante, tenho certeza que vocês vão
arrasar. (para Sofia) Você é a chapeuzinho mais linda que eu já vi!
Professora sai. Da
coxia, a professa acena, dando o sinal de que as cortinas serão abertas. Cortinas
se abrem. Visão da plateia. Quase todas as poltronas estão ocupadas por pais.
Close de Sofia, que procura por Gustavo entre os presentes ali sentados. Ao avistar
apenas Letícia, Sofia se entristece. Câmera vai até Letícia, que pega o celular
e começa a discar. Corta para:
CENA 11. ESCRITÓRIO. SALA DE GUSTAVO. INTERIOR. DIA.
Gustavo
em sua mesa, bastante ocupado examinando um projeto. Seu celular toca umas duas
ou três vezes. Meio sem paciência ele o pega, reage mal ao constatar que é
Letícia quem liga, mas atende.
GUSTAVO - Fala,
Letícia, aconteceu alguma coisa com a Sofia? (pausa. Gustavo reage, surpreso)
Como é que é? (irritado) E você só me diz isso agora? (pausa) Tá. Tá bom,
Letícia, me espera. Eu tô indo praí.
Gustavo desliga o
celular e sai, muito apressado. Corta para:
CENA 12. FRENTE DA ESCOLA DE SOFIA. EXTERIOR. TARDE.
Letícia indo para o
carro com Sofia, que está muito triste.
LETÍCIA -
Não fica assim, filha. A peça foi linda, você arrasou.
SOFIA -
Você ligou pro meu pai?
LETÍCIA -
Claro que liguei. Avisei pra ele que a data da peça tinha mudado, que em vez de
amanhã seria hoje.
SOFIA - E
por que foi que ele não veio? Poxa, eu contava tanto com a presença dele!
LETÍCIA -
Seu pai é muito ocupado, Sofia! Vai ver ele teve algum outro compromisso mais
importante e não pôde vir, mas fica tranquila, que eu filmei tudo e tirei um
monte de foto pra você mostrar a ele depois.
SOFIA -
Não é a mesma coisa.
Câmera
sai delas e vai até o carro de Gustavo, que está chegando naquele momento. Ele
estaciona e sai do carro, apressado. Ao vê-lo, Sofia entra no carro de Letícia,
muito irritada. Gustavo vai até elas.
GUSTAVO - (bate
na porta do carro) Sofia, querida, não deu pra vir antes. Por favor, não fica
zangada comigo.
Dentro
do carro, Sofia está emburrada, sem nem olhar para o pai.
GUSTAVO - Fala
comigo, Sofia. Eu não tive culpa. (T) Olha, eu prometo que/
LETÍCIA -
(corta) Melhor deixar pra conversar com ela depois. Ela tá muito triste por
você não ter vindo. Insistir agora só vai piorar as coisas.
GUSTAVO -
(irritado) Mas eu não tive culpa, Letícia! Eu achava que a peça seria só
amanhã! (T) E você?! Por que deixou pra me ligar em cima da hora, quando a peça
já tinha começado? Aposto que você fez de propósito!
LETÍCIA -
(“indignada”) Como é que é? Gustavo, você acha que eu teria coragem de deixar a
minha filha triste desse jeito por causa de um capricho bobo? Eu não tenho
culpa se a sua namorada não te deu o recado e/
GUSTAVO - (corta,
surpreso) Como assim? O que é que a Andréa tem a ver com isso?
LETÍCIA -
(cara de pau) Ué, eu liguei de manhã cedo pro seu apartamento, falei com ela e
pedi pra ela te avisar que a peça da Sofia ia ser hoje. (ri) Bom, pelo visto
ela esqueceu, não é?
Em
Gustavo muito surpreso, Corta rápido
para:
CENA 13. APTO GUSTAVO E ANDRÉA. QUARTO.
INTERIOR. NOITE.
Abre
em Andréa furiosa diante do Gustavo. Os dois discutem.
ANDRÉA -
Mentira dela, Gustavo! Você acha que eu ia esquecer de dar um recado tão
importante?
GUSTAVO - Mas ela
me garantiu que ligou pra cá, falou com você e/
ANDRÉA -
(corta) E eu já disse que ela tá mentindo! Essa mulher tá completamente
desequilibrada, não se importa de magoar os sentimentos da própria filha em
nome dessa obsessão doentia que ela tem por você! Se você não tomar nenhuma
providência, a Letícia vai acabar dando um nó na cabecinha da Sofia, vai deixar
a garota baratinada com tantas histórias!
Furioso
e meio desorientado, sem saber direito o que fazer, Gustavo dá um grande murro
na parede. Corta para:
CENA
14. APTO ROSÁLIA. SALA. INT. NOITE.
Rosália abrindo a porta
para outro garoto de programa, que está de saída. No hall estão Soninha e
Marcelo, que já iam tocar a campainha. Rosália leva um susto e faz sinal para
que o rapaz saia depressa. O rapaz passa por Soninha e Marcelo. Soninha o encara dos pés a cabeça. O rapaz
toma o elevador. Soninha e Marcelo se aproximam.
ROSÁLIA
- (sem graça) Acredita que aquele
formo deu problema antes da garantia? Mandaram um técnico.
SONINHA
- Ah, claro. Técnico à essa hora,
mamãe? E as ferramentas dele: onde estavam, que eu não vi?
Sem jeito, Rosália já
vai inventar uma desculpa, mas Soninha a interrompe.
SONINHA - Você viu, Marcelo, como esse técnico tava
usando um uniforme bem informal, justíssimo? E ele é tão musculoso... (rindo, para Rosália) Não precisa se
explicar, dona Rosália! A senhora ainda dá um caldo daqueles! Tem mais é que
aproveitar os franguinhos e fazer canja um dia sim e o outro também.
Rosália constrangida.
Corte descontínuo. Todos sentados
no sofá tomando alguma bebida. Soninha e Marcelo de mãos dadas.
ROSÁLIA - Bom, mas eu tô estranhando essa
visita de vocês tão tarde. Sem querer ser mal educada, mas vocês podiam deixar
pra vir aqui amanhã.
Soninha
- (feliz) Mas é que nós temos
uma grande notícia, daquelas que não dá pra esperar. Se eu não te contasse
hoje, mãe, eu ia explodir. (olha para Marcelo) Eu e o Marcelo... Nós... Nós
vamos nos casar!
Em Rosália surpresa, corta para:
CENA
15. RUAS. CARRO DE SONINHA. EXT. NOITE.
Acompanhamos o carro
andando pelas ruas de São Paulo. Soninha dirigindo. Ela e Marcelo rindo muito.
SONINHA
- Chega, Marcelo. Se eu rir mais um
pouco, eu vou passar mal.
MARCELO - Se me contassem eu não acreditaria. Tua
mãe é uma bela de uma sonsa, viu? Bancando a senhora cheia de moral, palmatória
do mundo e aprontando às escondidas.
SONINHA - Ah, não fala assim, não... Deixa a
coroa curtir a vida.
Corte
descontínuo. Carro parado numa sinaleira. Soninha feliz.
SONINHA
- Claro que eu topo, amor.
MARCELO - Que bom. Eu pensei que você não fosse gostar
da ideia.
SONINHA - Assim, casar numa boate é diferente,
não é comum... (ri) Mas quem disse que eu sou uma pessoa comum?
MARCELO
- (ri) A gente casa e já continua a
festa no mesmo espaço. (T) O quinto casamento de Soninha Bassan! Já pensou? Vai
ser uma promoção e tanto pra boate!
SONINHA
- Eu me casaria onde você
escolhesse, amor.
Os dois dão um
selinho. Sinal abriu. Ouvimos buzinas de carros empatados pelo carro de
Soninha. Marcelo e Soninha riem da situação. Na movimentação do carro de
Soninha, corta para:
CENA
16. APTO JÚLIO E LETÍCIA. SALA. INTERIOR. NOITE.
Sala escura. Júlio e
Letícia sentados no sofá vendo um filme na TV. Júlio assiste com atenção,
parece gostar muito do filme. Letícia cochila com a cabeça encostada no ombro
dele.
JÚLIO - Linda essa cena da senhorita
coração solitário, não é? (percebe que Letícia cochila e mexe com ela)
Letícia...
LETÍCIA - (acordando) Oi, desculpa, Júlio.
Eu tô achando esse filme um porre, não faz o meu estilo.
JÚLIO - (ri) Não diz isso. “Janela
Indiscreta” é um dos maiores clássicos da história do cinema.
LETÍCIA - Pode ser, mas eu não tenho o menor
saco pra filme antigo, não suporto mesmo. Que graça tem a história de um
desocupado que fica bisbilhotando a vida dos vizinhos? Coisa mais deprimente!
JÚLIO - Mas ele não faz isso porque
quer. É a única maneira que ele encontrou de passar o tempo enquanto fica bom
da perna quebrada. (T) Agora, deprimente mesmo é quando uma pessoa sadia,
normal, deixa de aproveitar a sua vida pra viver em função da vida de outra
pessoa...
LETÍCIA - (irritada) Olha aqui, Júlio, eu já
disse que o Gustavo/
JÚLIO - (corta) Quem é que tá falando
em Gustavo? Eu não me referia a você, Letícia. (ri) Mas pelo jeito a carapuça
serviu direitinho, não é?
Letícia já vai
responder irritada quando toca a campainha. Júlio levanta com preguiça, acende
a luz e vai atender. Ele fica surpreso ao ver Paola.
JÚLIO - Quê que você quer?
PAOLA - (séria) Eu preciso conversar com
você.
JÚLIO - A gente não tem mais nada pra/
PAOLA - (corta) Por favor, Júlio, me
escuta. É importante.
De má vontade, Júlio
faz um sinal para Paola entrar. Ela entra e cumprimenta Letícia.
PAOLA - (para Letícia) Boa noite.
LETÍCIA - Oi. (para Júlio) Eu vou ver a
Sofia. Podem conversar à vontade.
PAOLA - Obrigada.
Letícia beija o rosto
de Júlio e sai. Júlio continua irritado com Paola.
JÚLIO - Olha, Paola, se você veio falar
sobre o Lucas eu aviso logo que você tá perdendo o seu tempo.
PAOLA - (nervosa) Você precisa me
escutar, Júlio. Por favor, desiste de pedir a guarda do Lucas. Não faz isso comigo.
JÚLIO - Eu já disse que não vou deixar
o meu filho à mercê daquele psicopata. (Tom) Se era só isso, pode ir embora.
PAOLA - As coisas não são tão simples
como você pensa. (suplica) Desiste, Júlio, por favor. Vai ser melhor pra todo
mundo.
JÚLIO - Não, Paola! Eu já me decidi. Eu
só vou sossegar quando o meu filho estiver morando aqui comigo.
PAOLA - (já perdendo a calma) Você não
pode fazer isso, entendeu? Você não tem esse direito!
JÚLIO - (irritado) Como, não tenho
direito? E o direito de pai?
PAOLA - (explode, descontrolada) Acontece
que o Lucas não é seu filho!
Reação de susto e
surpresa de Júlio. Ele encara Paola, chocado.
JÚLIO - O quê? Acho que eu não ouvi
direito/
PAOLA - (firme) Você escutou muito bem! O
Lucas não é seu filho! O pai dele é o Rubens!
Júlio fica ainda mais
atônito. Olha para Paola sem saber o que dizer. Ela o encara, séria. Na
perplexidade de Júlio,
Corta.
FIM
DO CAPÍTULO 4.
Perdeu o capítulo anterior? Confira aqui.
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