sexta-feira, 15 de abril de 2011

A ousadia do Cordel

Ele é um dos roteiristas de Os Imperfeitos, a próxima estréia do Canal Casablanca, e dono de um sugestivo blog, o Histórias de Tatu. Pedi ao amigo Walter de Azevedo que fizesse uma análise dos primeiros capítulos da novela Cordel Encantado, ele prontamente aceitou. Eis o resultado, um texto primoroso , pelo qual agradeço.



Muito se fala sobre a atual falta de ousadia na teledramaturgia brasileira. Com a aposta em fórmulas fáceis e tolhidos pela classificação indicativa, os grandes autores há anos nos apresentam mais do mesmo, fazendo com que o público perca o interesse pelas novelas.

Cordel Encantado, escrita por Thelma Guedes e Duca Rachid, vai na contramão do atual panorama televisivo. A nova novela das 18h da Rede Globo, apresenta novidades tanto na história quanto nas imagens.

Claro que o básico do folhetim está lá, mas envolto por uma atmosfera diferente, causada pela união dos contos de fadas clássicos e da literatura de cordel. Aí mora o grande trunfo da novela. As cenas passadas no fictício reino de Seráfia, mostram ao público o rei, a rainha, o conselheiro e até mesmo uma “bruxa”, muito bem defendida por Débora Bloch.



A cena em que a rainha Helena (Mariana Lima) amaldiçoa a pequena Aurora, lembrando nitidamente A Bela Adormecida, e a junção com as belas imagens gravadas na França (inclusive com impressionantes cenas de batalha), dão o tom mágico desse setor da trama. Vale ressaltar também a personagem Carlota (Luana Martau), fazendo uma divertida “irmã da Cinderela”, querendo ser rainha a todo custo. Outra passagem interessante é a prisão de Petrus (Felipe Camargo), irmão do rei, que acaba sendo dado como morto. Na verdade, por armações de sua própria mulher, Úrsula (Débora Bloch) e do mordomo Nicolau (em uma interpretação equivocada de Luiz Fernando Guimarães), Petrus está vivo e preso nas masmorras, com o rosto coberto por uma máscara de ferro, em uma alusão ao clássico de Alexandre Dumas e a uma passagem da novela Que Rei Sou Eu?, de Cassiano Gabus Mendes.



Na parte brasileira da novela, na pequena Brogodó, temos cangaceiros, jagunços, coronéis e toda a gama de personagens que estamos acostumados a ver na literatura de cordel. Mais do que retratar a vida no sertão, o que a novela faz é nos colocar dentro de um livrinho daqueles que se vendem nas feiras nordestinas. Mais uma vez a novela deixa clara a sua falta de compromisso com a realidade. A literatura de cordel passa a ser o conto de fadas brasileiro e, como tal, permite as mesmas liberdades que ocorrem no núcleo europeu. Cenografia e figurinos seguem essa mesma linha, nos fazendo lembrar de minisséries como O Auto da Compadecida e Hoje é Dia de Maria. Ou seja, nada ali é naturalista.



Como não é uma história comum, o diretor Ricardo Waddington também resolveu dar um tratamento diferenciado nas imagens. A novela tem ares de cinema graças à captação de 24 quadros por segundo. O resultado na telinha é deslumbrante, tanto nas tomadas panorâmicas quanto nas mais fechadas.

Claro que tantas novidades não serviriam de nada se não tivessem um bom texto para se apoiar. Os quatro capítulos apresentados até agora mostram que Duca Rachid e Thelma Guedes sabem exatamente o que estão fazendo. O roteiro bem estruturado, dosando romantismo, comédia e aventura, parece ser mais um dos elementos que contribuem para a qualidade da novela.

Diante de uma avalanche de novidades, a grande dúvida é saber se o público comum, principalmente o das 18h, considerado mais tradicional, vai embarcar na fantasia das autoras. Na verdade, Cordel Encantado é uma aposta corajosa. As primeiras impressões na internet parecem ser favoráveis. Nas mídias sociais, a novela é tratada como um grande sucesso e por enquanto ninguém veio reclamar da imagem diferente ou do excesso de fantasia. Agora é dar tempo ao tempo e esperar pra ver que caminhos esse ousado conto de fadas tomará.

4 comentários:

  1. ótimo texto do sempre coeso e competente Walter. Concordo em tudo e assino em baixo.

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  2. Do pouco que vi de Cordel, também me causou ótima impressão. Sem contar que Duca e Thelma são umas queridas e merecem todo o sucesso. Ótimo texto, Walter! Parabéns!

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  3. Os primeiros capitulos de Cordel Encanatado realmente me encantaram, alem da qualidade de imagem espetacular traz um texto primoroso e um elenco incrivel. um salve para Nathalia Dill com sua bela Doralice.

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