Por Denis Pessoa
No dia 17 de Maio de 2010, o telespectador brasileiro conheceu uma nova novela na Rede Globo, e, consequentemente, novos rostos entre o elenco. Um deles, no entanto, foi previamente apresentado ao público, no programa Vídeo Show, dias antes da estreia de Passione, novela das 21h, que substituiria Viver a Vida: Tony Ramos, ao lado de um homem com barba e cabelos ruivos, apresentou ao público o ator Germano Pereira. Estreante na TV, porém, com uma longa e sólida trajetória no teatro, Germano mostraria seu rosto e seu trabalho nos oito meses seguintes, em horário nobre, após ter sido indicado pelo autor Sílvio de Abreu, que passou a admirar o trabalho do ator ao assisti-lo nos palcos por mais de uma vez.
Com a estreia da novela, todos conheceram o personagem Adamo, que ao longo da trama, viveu um amor controverso e perigoso com uma prostituta. Muitos se interessaram pelo ator, até então desconhecido do grande público, de aspecto físico tão diferente do que estamos acostumados a ver, contracenando ao lado de atores consagrados há tanto tempo.
Embora estreante na TV, o ator, nascido em 13 de Março de 1980, possui mais de uma década de dedicação ao Teatro. É também dramaturgo, escritor e roteirista. Versátil e cheio de histórias para contar, Germano conversou comigo, entre os dias 14 e 15 de setembro, e falou a respeito de sua respeitável carreira, de sua imensa criatividade e vontade de contar histórias, expor suas reflexões, dúvidas e os aprendizados que a arte lhe ofereceu.
A respeito de seu encontro com o Teatro, Germano contou que não aconteceu de maneira tão precoce. Começou a estudar Teatro e Música apenas na adolescência. Aos 11, começou a trabalhar em uma loja de violões, e aos 15, já tinha uma banda. Porém, ainda incerto, partiu para outros rumos e cursou Mecânica Industrial na Escola Técnica Tupy, em Joinville, o que levou-o rapidamente a um cargo em uma multinacional, onde aos 19 anos já estava representando a região Sul. Porém, prestes a passar uma temporada em Londres, percebeu ser este um momento crucial em sua vida, onde suas decisões seriam definitivas e possivelmente, irreversíveis. Embora pairassem os medos e incertezas a respeito da carreira artística, – algo comum a praticamente todos os artistas – optou por ficar no Brasil, e foi para Curitiba, onde uniu-se à Companhia de Teatro Os Satyros.
Germano disse que, a princípio, seus pais ficaram chocados, afinal, ele possuía uma vida estável para alguém tão jovem, e abandonar tudo para começar uma nova carreira, especialmente a de ator, representava um imenso risco. Porém, ao ver o filho apresentando-se em uma peça, seu pai, presente na plateia, chorou, emocionado, e ao fim da encenação, abraçou o filho, e disse-lhe que estava na profissão certa. O melhor aval que Germano poderia receber.
Em São Paulo, o ator estudou Filosofia na USP, o que declarou ser uma paixão arrebatadora. Foi nessa época que começou a escrever para o Teatro. O prazer de escrever sempre existiu, mas foi enquanto estava em cartaz com a peça De Produndis, de Ivam Cabral, que começou a escrever suas ideias em um guardanapo, para em seguida, passá-las para o computador, onde escreveu, por 14 horas ininterruptas sua primeira peça: Pax Hominibus. Com dois personagens confinados em uma cela, vivendo um estado letárgico, a peça, que Germano ainda pretende dirigir e produzir, ganhou duas leituras dramáticas no ano de 2003.
O curso de Filosofia proporcionou a Germano um outro encontro: O Budismo. Germano afirmou que a religião possui um bom fundamento; algo que sempre buscou. Citou o termo religare, que, de acordo com o ator, significa religar-se a si mesmo e a um universo macroscópico. Encontrou-se no budismo por entender e sentir que não trata-se apenas de procurar um deus apenas para deixar o homem em uma situação psicológica de conforto, e sim, algo que estimule-o a conhecer a si mesmo, e a buscar constante melhora e conhecimento. Fez uma breve crítica às instituições religiosas, sem mencionar nenhuma específica, que por muitas vezes, com suas leis e hierarquias, deturpam o verdadeiro significado de determinada doutrina, e declarou que ao buscar uma, é importante verificar se a instituição se adéqua aquela religião.
Foi da sua relação com o budismo que veio a peça Hamlet – Gasshô. Uma releitura de Shakespeare com personagens e situações relacionadas ao budismo. Na peça, Hamlet encontra-se no bardo. – um estado intermediário após a morte. – Em uma espécie de sonho ou releitura da vida, Hamlet revê toda a sua história, com a presença de diversas figuras do universo budista, como os monges. A peça ficou em cartaz entre 2006 e 2007, e Germano tem intenção de encená-la novamente.
Sua peça seguinte foi uma adaptação do romance do escritor David Herbert Lawrence, o polêmico O Amante de Lady Chatterley. O livro, que fala de amor e sexo de uma forma livre, causou choque entre os críticos da época, onde o diretor Ivam Cabral, na introdução do livro O Teatro de Germano Pereira declarou que no texto do dramaturgo era visível a influência dos autores da psicanálise como Freud, a pesquisa aprofundada do universo do romancista, dando ao texto da peça uma característica mais técnica, e assim, mais madura para o Germano dramaturgo.
Em seguida, veio a adaptação do livro O Doce Veneno do Escorpião, da escritora Raquel Pacheco. Ao considerar que a história era forte demais para ser encenada, optou por escrever uma comédia de costumes, onde a personagem visitava diversos programas de TV, contando suas histórias de vida. Germano definiu a peça como não apenas uma descrição da realidade da Bruna Surfistinha, ou de garotas de programa, mas sim, da realidade do Brasil. Em uma critica à corrupção, à política, onde a personagem, em uma frase, define o estado em que vivemos: “Puta? Quem, eu?”
A peça, que estrearia na mesma época em que o filme estrelado por Deborah Secco, do qual Germano também participa entraria em cartaz, lamentavelmente enfrentou problemas sérios em sua produção, o que eliminou a possibilidade de gerar uma mídia interessante em torno de ambas as obras, por tratar-se de duas visões distintas de uma mesma história.
Atualmente, Germano está envolvido no projeto de um musical que contará a vida de Adoniran Barbosa. A peça, que está em fase de captação de patrocínio, tem estreia prevista para o segundo semestre de 2012, e contará histórias a respeito de diversas canções de Adoniran, como a Saudosa Maloca, fruto de uma conversa de Adoniran com um amigo seu, que lamentava a destruição de casas para a construção de edifícios. – a transformação de São Paulo em uma cidade cosmopolita, presenciada pelo compositor.
Depois de tantas peças escritas, Germano declarou que ver um texto seu ser encenado pela primeira vez foi algo que lhe trouxe felicidade, porém, não surpresa. O trabalho foi realizado da forma como ele esperava, especialmente por não ter sido algo que aconteceu do dia para a noite, e sim, um longo e trabalhoso processo. Disse ainda que pretende escrever para outros veículos como cinema e TV, porém, no momento, são projetos a médio e longo prazo. Atualmente está trabalhando no roteiro de um longa, sobre o qual prefere não falar muito a respeito no momento. Informou apenas que dispõe de assessoria para escrevê-lo, e que, como pesquisa, está assistindo muito cinema europeu, e mantendo diálogo constante com o diretor da obra.
Além de dramaturgo, Germano é escritor: Publicou O Teatro de Germano Pereira, onde três de suas peças podem ser conferidas: Hamlet Gasshô, O Amante de Lady Chatterley e a inédita Rimbaud na África. Publicou ainda o livro Irene Stefania – Arte e Psicoterapia, e Os Satyros – livro que conta, através de fotos e descrições a trajetória da companhia de Teatro da qual Germano é membro há mais de dez anos. Montado por ele, o livro, um pedido de José Serra, levou um ano para ficar pronto, e foi montado pelo ator, que escolheu cada peça da Companhia a ser utilizada para contar a estrada dos Satyros, cada imagem disponível na bela publicação de capa dura e papel de alta qualidade.
Ao perguntar a ele se tem a intenção de escrever um romance, o dramaturgo afirma que sim, e que já iniciou alguns romances, embora não os tenha concluído, e que pretende trabalhar em um romance futuramente, relacionado ao longa que está escrevendo agora.
Germano caracterizado como Adamo |
Em relação à televisão, Germano manifestou o desejo de voltar logo, porém, no momento, não existe nenhum projeto engatilhado.
Como ator, Germano disse que tudo mudou em sua vida após seu lançamento na TV: interna e externamente. A fama repentina é uma das mudanças mais óbvias.
Ao ser questionado a respeito de como foi contracenar com veteranos como Tony Ramos e Fernanda Montenegro, afirmou que foi uma experiência calma, pois os dois atores são generosos e humanos, e não se comportam como meras celebridades. Mantinha contato com Tony cerca de cinco meses antes da estreia da novela, o que lhe proporcionou calma assim que as gravações começaram. De qualquer forma, estrear em rede nacional, gravando cenas na Itália – sendo que sua primeira cena, que era também a primeira cena gravada para a novela fora com Tony no Vaticano – foi um momento inesquecível. Ressaltou também a importância da humildade na profissão, assim como em qualquer outra, e disse que a soberba é algo que impede as pessoas de enxergarem a realidade. Citou como exemplo Fernanda Montenegro, que já concorreu ao Oscar, e Angelina Jolie, que além dos seus notórios trabalhos sociais, dirigiu um filme que fala sobre a Guerra da Bósnia.
Como pessoa, Germano demonstrou ser sereno, calmo e seguro. Ao responder as perguntas foi simpático, atencioso e comunicativo. Como profissional, é mostrou-se versátil, curioso, questionador. Evita prender-se a um estilo, a um veículo, a uma mídia. Está sempre experimentando, lendo, se informando. Já contribuiu muito para a arte em nosso país junto aos Satyros, e ao que tudo indica, contribuirá muito mais. É uma carreira que merece ser acompanhada de perto.
Para quem deseja vê-lo nos palcos, Germano Pereira estará em cartaz, ao lado de Kayky Brito na peça Fica Frio, que será encenada no Salão Nobre do Colégio Agostiniano São José, na Rua Marquês de Abrantes, 405, Belenzinho - São Paulo/SP.
Para quem deseja conhecer melhor o trabalho de Germano como escritor e dramaturgo, o livro O Teatro de Germano Pereira está disponível no site:
Agradeço ao ator Germano Pereira pela entrevista concedida.
Créditos das imagens: Lúcio Luna. Fotos retiradas do site da Revista Premier e do site germanopereira.blogspot.com.
Excelente entrevista pelo conjunto da obra: um entrevistado interessante e um hábil entrevistador... muito legal o modo como o texto foi disposto!
ResponderExcluirGrato ao Germano e orgulhoso por você, Denis!!!
Sílvio de Abreu deu oportunidade a uma promessa que tem muito chão pela frente!
ResponderExcluirhttp://migre.me/5Jwip
@cascudeando
Gostei do formato da entrevista!
ResponderExcluirO ator é promissor.
E o Denis tb! Parabéns!
Abs
Fábio Dias
Gostei do trabalho do Germano! Gostei do texto, do formato, bem dinâmico!
ResponderExcluirParabéns Dênis!
Arrasou Denis! parabens pela entrevistas! =)
ResponderExcluirPara um texto tão rico, imagino que tenha sido uma bela entrevista.
ResponderExcluirParabéns Denis, adorei!
Obrigado pelos comentários, pessoal! Foi um prazer entrevistar o Germano, que tem uma carreira muito interessante, e é um ótimo entrevistado!
ResponderExcluirEscolheu muito bem o formato do texto - perfil - e o personagem. Boa também a escolha do ofício que fizeste: Você nasceu para ser jornalista, garoto! Parabéns!!!
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