quinta-feira, 29 de março de 2012

De onde surgem tantos atores?

Por Eduardo Vieira

Temos visto ultimamente, cada vez mais rápido, nomes que surgem a cada trabalho teledramatúrgico. Alguns bem talentosos, outros nem tanto.

Desde sempre houve atores novos que foram surgindo no decorrer da nossa teledramaturgia de todas as emissoras. Não podemos esquecer que a grande dama da televisão, Regina Duarte, por exemplo, começou na publicidade e logo depois, foi convidada por Walter Avancini para um papel importante de coadjuvante em “ A Deusa Vencida”, novela de Ivani Ribeiro, ainda na TV Excelsior, ao lado de nomes já consagrados como Tarcisio Meira, Glória Menezes e Karin Rodrigues no elenco.





Nos anos 70, no auge da Rede Globo, houve um programa que tentou uma renovação dos atores de televisão. Comandado pelo cantor e apresentador Moacyr Franco, que dividia o palco com a atriz Pepita Rodrigues, ia ao ar aos domingos o Moacyr TV, um concurso que promovia a atores que queriam fazer televisão, oportunidades de conseguir papéis nas novelas da casa. O Programa revelou talentos como a atriz Isis Koschdoski, Silvia Salgado e talvez a mais famosa Myrian Rios, antes de esta sonhar em ser esposa do cantor Roberto Carlos.



Caio Castro: na Globo através do Caldeirão do Huck.
O programa seguia os moldes que tínhamos ainda há algum tempo no programa do Faustão, no Caldeirão do Huck, e por pouco tempo, no Melhor do Brasil, na Record, ainda com Márcio Garcia. Os participantes reproduziam cenas famosas de novelas como Escalada, Fogo sobre Terra, entre outras, com o cenário reproduzido nos palcos. Desse tipo de programa também surgiram nomes consagrados como Adriana Esteves, Flávia Alessandra, Gabriela Duarte, e gente que não teve tanta sorte, como a talentosa Cibele Larrama, vista há pouco na reprise de “Mulheres de areia”.

Durante os aos 70 e 80 houve também, por uma lógica da arte, muitos atores que vieram do teatro para compor os elencos das telenovelas. Despontaram nomes como Louise Cardoso, Marieta Severo, (esta havia feito novela com Leila Diniz) Cristina Pereira, Sura Berditchewski, Debora Evelyn que, até então, não faziam outro veículo a não ser teatro e cinema. Esses nomes juntavam-se a veteranos que quase não trabalhavam mais em teatro, mas eram egressos de rádio como Eloisa Mafalda, Gilberto Martinho, Castro Gonzaga e atores mais afeitos mesmo à televisão Nivea Maria, Suzana Vieira, estas duas últimas bissextas em teatro.

Elenco de Malhação em 2004
Hoje, se fizermos um panorama de atores centrais nas novelas da Globo e da Record, encontramos bastante gente oriunda do programa “Malhação”, que já tem 20 anos de existência. Do programa vemos, desde o ínício, atores que firmaram suas carreiras, mais ou menos fortemente, por meio do programa televisivo, como o grande exemplo e ator disputado por diversos autores (mesmo que alguns tenham dúvidas de seu talento) Cauã Reymond. Acho até que nesse quesito houve uma novela que alçou esses atores, antes visto como descartáveis, em possíveis apostas da emissora: Páginas da Vida, do autor Manoel Carlos, que contava com Fernanda Vasconcellos e Thiago Rodrigues, em papéis centrais, e Marjorie Estiano em um personagem que em certo ponto até pela desorganização da linearidade da história, tomou para si as rédeas de alguns capítulos, provando que atrás do talento da vilã de Malhação, havia uma atriz com bastante técnica que por vezes roubava a cena com seus problemas com um pai alcoólatra, feito pelo excelente Eduardo Lago e o desamor de uma mãe, Nátalia do Valle.


Silvia Pfeiffer em "Meu Bem, Meu Mal".
Ainda houve um outro fenômeno altamente criticado pela classe artística: os modelos e manequins que “viravam” atores.  Os atores podiam fazer propagandas, mas os modelos tinham de cortar um dobrado para “ousar” fazer dramaturgia, cursando ou não escolas de teatro. Houve casos que deram bastante certo como Maria Della Costa, Mila Moreira, outros que vimos bastante progresso como Vera Fischer, Betty Lago e ainda aqueles que continuam duvidosos como Silvia Pfeiffer, (talvez a figura mais emblemática da época dos modelos-atores) Victor Fasano e Maria Fernanda Cândido, bastante desiguais em suas performances, a meu ver.

Simone Spoladore em Os Maias
Junto a esses atores também surgiram aqueles que vieram fazer minisséries, um gênero mais exigente, como Hilda Furacão, Hoje é dia de Maria, Capitu, A Pedra do Reino, Queridos amigos, A Casa das sete mulheres, Clandestinos, entre várias outras. Daí despontaram Ana Paula Arósio, Thiago Lacerda, Simone Spoladore, Camila Morgado, Mayana Neiva, Leonardo Medeiros, Werner Schuneman, Sabrina Greve, Carolina Oliveira, Luana Martau,  e hoje a mais nova dessa turma de seriados, Leticia Persiles fazendo e muito bem a heroína de Amor, Eterno Amor.

Nem sempre as emissoras ou equipes de filmagem (o cinema é um gênero bastante seletivo no Brasil) conseguem absorver tantas pessoas que querem trabalhar em seus ofício, assim vemos atores completos em papéis bem coadjuvantes, porém trabalhando de igual pra igual com veteranos. Nem todos são reconhecidos, como por exemplo a excelente atriz que faz a empregada Raimundinha em Aquele beijo, Lana Guelero, que veio de um documentário de Eduardo Coutinho chamado “Jogo de cena”, que em si já é uma ode ao ato de interpretar. Também ressalto a ótima Flavia Guedes, que “ brincava” em pé de igualdade com a grande Laura Cardoso em “Araguaia”, de Walter Negrão, que fazia Aspásia, um misto de empregada- agregada.



Observa-se hoje um menor preconceito da procedência do ator, se ele fez teatro ou cursos específicos para um veículo especial , entretanto percebe-se que vai pra frente com maior facilidade aquele que estudou ou que deseja um crescimento, por meio de informação, observação do comportamento humano, leitura de clássicos em que há sempre composições de personagens arquetípicos, filmes e peças, ou seja, aquilo que faz do profissional um ser consciente de seu ofício, seja este profissional principal ou coadjuvante.

10 comentários:

  1. Pra mim, a melhor safra é a dos anos 80 em que surgiram vários talentos do Tablado, como Andrea Beltrão, Malu Mader, Diogo Vilella, Claudia Abreu e tantos outros. Ótimo texto.

    ResponderExcluir
  2. São diversas origens e não aponto uma safra|período. Acho que o talento está em toda geração, porém nem todos têm a chance de popularizar e se fazer reconhecer através da Tv!

    ResponderExcluir
  3. Ótima análise Edu!!!!!! Consciente, como sempre!!!!
    E com certeza, a tv sempre precisou se abastecer de futuros talentos para se manter em pé. Antes com mais coerência, com mais qualidade, com mais precisão. Hoje em dia nem tanto.
    Nos anos 70 e 80 o grande apelo era a imagem (é o que a tv vende não há como ser de outra maneira), mas como ainda existiam profissionais com mais gabarito por trás da coisa toda, esta busca também procurava destacar as qualidades artísticas, a vocação, o talento que vinha de estudo, ou o nato, mas acima atores e atrizes com muito mais estofo para seguir adiante!
    Nos dias atuais vejo muito pouco talento genuíno. Vejo muita gente formada pelo veículo, mas pasteurizada, alfabetizada em MALHAÇÃO. Não vejo surgir alguém como foi outrora uma Lídia Brondi, um Lauro Corona e etc e etc.

    ResponderExcluir
  4. Panorama bem detalhado da história dos atores. Curioso é que seu texto me fez pensar sobre uma velha questão sobre o ofício: padrão físico ou como diriam os franceses physique du role. Do grupo oriundo de "concursos" em programas televisivos, por exemplo, notamos um padrão físico bem específico. O mundo das personagens exige um padrão múltiplo, porém a necessidade excessiva de padronizar, leva-nos sempre para os mesmos rostos, os mesmos corpos. Claro que isso não é uma exclusividade nossa, basta um rápido olhar nos filmes made in usa para notarmos que eles também não gostam muito de variar. Nesse quesito curto os filmes de nacionalidades além América.
    Edu, vida longa ao blog!!!
    P.S. Já trabalhei com a Lana, fiquei imensamente feliz de ver o nome dela por aqui!

    ResponderExcluir
  5. Post muito bem escrito e bastante informativo, inclusive deu para relembrar o surgimento de diversos atores, que havia esquecido no decorrer de tanto tempo.Pretendo tornar a lê-lo com mais calma e talvez salvar nos meus arquivos. Depois vou ler também os posts mais antigos e deixar comentários. Sucesso ao seu blog, Edu !

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. obrigado, querido Beto...eu já tinha falado, né? rssss apareça sempre...aqui eu consigo organizar sobre tudo aquilo que eu falava no café contigo... abçs

      Excluir
  6. Legal o texto.. me recordei de atores realmente bons do passado. Por outro lado, achei desconfortável pensar que existe tanto ator disponível no mercado e tão poucas oportunidades, que os bons raramente tem uma real chance de se tornarem conhecidos. Em contrapartida, muitos outros continuam chegando até as novelas por serem filhos ou protegidos de determinadas pessoas de dentro do próprio círculo de escritores e diretores de emissoras. Isso rebaixa o nível da obra, e juntamente o trabalho dos bons que se encontram no mesmo processo.
    Desprezível também o lançamento de “crianças prodígio”, que de prodígio mesmo tem apenas o fato de serem filhas de alguém de dentro, sem dizer que isso tudo ainda conta com a blindagem da emissora....
    Abração Edu

    ResponderExcluir
  7. Quem dera todos os atores a despontar na telinha viessem do teatro, teriam mais tarimba... belo texto, Edu!

    ResponderExcluir
  8. Só pra não ficar algo injusto, a atriz Cibele Larrama encontra-se na minissérie bíblica Rei David que vai ao aor depois da excelente Vidas em Jogo. Pude ver alguns capítulos esta semana.

    ResponderExcluir
  9. Lido, Eduardo! rs
    Pois é..eu ia falar da Cibele. Nao sei por que vc disse que ela nao tem tanta sorte. Tá contratada da Record...rs
    Senti falta, também, dos ex-bbbs...Grazi, uma da figuras mais polêmicas da TV dos últimos anos, Vanessa Pascale, Juliana Alves...

    ResponderExcluir

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...