quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Caetano e as Novelas!



Por Eduardo Vieira

Não sei se Caetano gosta de novelas, entretanto sei que “Caetanamente” falando, gosto que as músicas dele ou cantadas por ele estejam nas nossas obras. Contudo não me atrevo a  tentar situar de modo cronológico a presença desse grande compositor e intérprete no vasto mundo noveleiro.

A primeira música que sempre me vem à cabeça é a que tocava na abertura de “O Homem Proibido” que estranhamente foi substituída por uma versão instrumental. A letra sobre a submissão e visões de um mesmo amor cabia perfeitamente ao triângulo de Nelson Rodrigues, as duas mulheres aos pés da virilidade do personagem de David Cardoso.


Um pouco antes recordo de uma canção que sabia toda, mesmo sem lê-la, que falava de uma mulher, de unhas negras e íris cor de mel, tema da desbocada e destemida Cintia Levy, personagem de Sônia Braga em Espelho Mágico, que galgava o seu estrelato de modo não muito ético, desta vez a música era cantada pela voz emprestada à persona de Sônia na época, Gal Costa. Mesmo sabendo que a composição fora feita para uma das frenéticas, a imagem de Sônia é a primeira de que me recordo quando ouço os primeiros acordes de guitarra.


Aconteceu algo parecido com a música que o compositor havia feito para sua irmã Irene cujo riso era bem característico e quando no exílio ele disparava de modo infantil que queria voltar para ouvir “Sua Risada”. Na época Betty Faria que fazia uma anti mocinha em Véu de Noiva, de Janete Clair, a outra, oposto da heroína certinha de Regina Duarte, ganhou esse nome na trama e a música-tema. Não vi a novela, mas tenho certeza de que personagem e tema devem ter casado muito bem, pois a risada de Betty não nos deixa indiferentes até hoje.


Por falar em Betty Faria, não há como não lembrar de Tieta e seu teaser com a música que literalmente levantava poeira em um arranjo pop no princípio da chamada axé music, a vibrante “Meia Lua Inteira”, que se não fosse falada que era da autoria de Carlinhos Brown, poderíamos piamente acreditar que Caetano teria feito tal canção, tamanha propriedade como canta a música, tema de  locação de Santana do Agreste, cidade onde acontecia a ação da trama adaptada perfeitamente por Aguinaldo Silva da obra de Jorge Amado, cuja adaptação mais famosa, Gabriela, não tem uma canção sequer do artista baiano. Aliás, as ditas grandes trilhas não possuem uma só música de Caetano, a dizer, O Bem Amado, Gabriela, Roque Santeiro, o que Meia Lua Inteira veio cobrir, dando ao artista um sucesso, voltando às rádios na época.
Como sou apreciador de temas que se relacionem diretamente aos personagens, não posso deixar de citar em “Chega Mais” o tema de um artista musical feito otimamente por Osmar Prado, o igualmente baiano Amaro que recebe a linda “trilhos urbanos” que nos remete a uma mítica cidade da infância de Caetano, Santo Amaro da purificação, uma música-memória.


Também é difícil uma novela do grande Gilberto Braga, famoso pelas escolhas de repertório de suas histórias, não haver em suas trilhas algo de Caetano, seja na voz dele ou de outro. Foi assim que como Tom Jobim já o fizera em Brilhante, Caetano grava o tema da personagem Raquel Acciolly, tema este que transborda do personagem pra locação e vira hino nacional dentro do caminho de integridade que a personagem simboliza, no samba de Ary Barroso, “Isto Aqui o Que é?”, que nos lembra um tempo em que o país era mais puro e as pessoas mais crédulas. Dentro da mesma novela ele cria o tema de amor dos personagens Raquel e Ivan, o bolero urbano “Tá Combinado”, retratando um amor maduro e adulto, mas não menos mágico e frágil, como na letra da canção que fala do “Equilibrista em Cima do Muro”, que embalava as idas e vindas do casal por vezes tão diferente, mas que se amavam pela admiração que um nutria pelo outro.


O baiano também se aventurou em outras línguas como o italiano, e ilustrou o riquíssimo personagem de Raul Cortez, um banqueiro que redescobre o amor nos braços de uma moça linda e simples feita pela estreante na Globo,  Maria Fernanda Cândido... A canção “Luna Rossa” acompanhava o casal em seus encontros na rua, nos banhos que ela preparava para o seu amado e marca muito o personagem do inocente sedutor Francesco.


Caetano Veloso fez 70 anos e até hoje nos brinda com participações com suas composições ou apenas interpretações nas novelas, com perfumarias como a regravação de moça para “Três Irmãs”, canção de Wando, só vou gostar de quem gosta de mim, famosa versão de Rossini Pinto, para “A Lua Me Disse”.


Porém atualmente acertaram em cheio por duas vezes: na abertura de “A Vida da Gente”, estréia da autora Lícia Manzo com Maria Gadu cantando a linda “Oração ao Tempo”, dando o tom do assunto da novela, os conflitos geracionais e o próprio tempo que tudo pode resolver no caso da não muito leve trama das seis e ainda em cordel encantado, outra trilha que já é um clássico com o poema de Haroldo de Campos, que se não fosse por esse trabalho tão esmerado nunca constaria numa trilha. Falo de “Circuladô De Fulô” que era tema de locação geral! mas que me lembra por vezes o beato feito pelo bissexto ator de televisão, Matheus Nachtergaele.


Esse post é uma homenagem ao artista que mesmo bastante combatido ainda exibe a coragem do ineditismo errando  acertando  e sobretudo experimentando com sua musicalidade e  letras altamente sofisticadas que transitam do mais requintado ao mais popular. Salve Caetano e que suas escolhas sejam sempre bem encaixadas nas nossas histórias.

8 comentários:

  1. Edu, como sempre você nos brindando com temáticas diferentes e que muito pouca gente lembra de ressaltar, o valor e arte de um artista deste quilate, o nosso bom Caetano!!!!!E com um texto saboroso, repleto de boas memórias.
    Eu sou suspeito pois sou e sempre fui fã, cresci ouvindo suas composições, suas músicas com ele ou com outros grandes intérpretes (entre eles a maravilhosa irmã Bethânia). E com esta paixão que tenho por trilhas sonoras e novelas isto só ficou mais evidente. São diversos temas inesquecíveis, lembranças de uma teledramaturgia com mais qualidade e que pede antes de mais nada músicas que nos apresentem e nos esclareçam um pouco como são os personagens.
    Vários temas também podem ser recordados, como a abertura de SEM LENÇO SEM DOCUMENTO que também contava com a música O LEÃOZINHO que era tema de uma jovem atriz que sumiu chamada Ana Maria Braga (nada a ver com a apresentadora).Eele também esteve em GINA novela de época das seis, com um dos seus temas mais lindos CORAÇÃO VAGABUNDO em dueto com Gal Costa, anos mais tarde a mesma música seria tema de Carmem Maura (Joana Fomm) em VAMP, só que na voz de Leila Pinheiro. Em OLHAI OS LÍRIOS DO CAMPO temos FELICIDADE composição de Lupicínio Rodrigues e que ficou um charme na voz de Caetano.Depois o tema de Amanda (Maria Claudia) em PLUMAS E PAETÊS, mais um dueto em NOSSO ESTRANHO AMOR com Marina. Em BAILA COMIGO o tema gracinha de Mira Maia (Lídia Brondi) em LUA E ESTRELA. Em GUERRA DOS SEXOS o tema do fotógrafo Fábio (Herson Capri) BOBAGENS, MEU FILHO BOBAGENS. E quem não lembra de Bia (Malu Mader) em CORPO A CORPO ao som da deliciosa SORVETE? Ou o impactante tema de Volpone (Ney Latorraca) no Egito como começo de UM SONHO A MAIS? E a abertura emblemática de TENDA DOS MILAGRES ao som de MILAGRES DO POVO, inesquecível. Enfim, Caetano é assunto para vários posts, faltam ainda tantas trilhas (só de Gilberto Braga temos várias, como O DONO DO MUNDO, PÁTRIA MINHA, ANOS REBELDES, CELEBRIDADE e etc e etc).Ele merece o nosso respeito, a nossa reverência. Que bom Edu que você trouxe a tona o trabalho memorável deste nosso grande compositor

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  2. Putz, e como fui esquecer, a música que mais vezes tocou do Caetano em novelas, o tema VOCÊ É A LINDA, que já embalou romances em EU PROMETO, FERA FERIDA e na abertura de BELÍSSIMA!!!!!

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  3. nosso estranho amor é uma das minhas preferidas dele em novela...adorava a Maria Claudia nessa novela...e Milagres do Povo....que letra...qdo ouvi ao começar a série entrei em êxtase...obrigado, Daniel...adoro essas completudes....

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  4. Edu, queridão... adoro os seus textos. O Caetano merecia essa singela, porém tocante homenagem do nosso blog. "Oração ao Tempo" é uma de minhas preferidas.

    Até o próximo!

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  5. Gostei de você ter citado alguns álbuns de onde foram extraídas as faixas. Acho isso bastante importante para quem se interessa por produção musical.

    Acrescento que "Meia Lua Inteira" não foi feita pra "Tieta". É a primeira faixa do bem trabalhado álbum "Estrangeiro", de 1989. Composição de Caetano o cm o até então desconhecido percussionista baiano Carlinhos Brown.

    "Oração ao Tempo" é faixa do álbum "Cinema Falado" (título de um filme que ele fez com o Maurício Mattar no auge da juventude e que dizem, no Rio, que... cala-te boca). Desse álbum saiu também "Trilhos Urbanos", o tema do músico baiano Amaro (Osmar Prado)de "Chega Mais", sobre o qual falamos esses dias no Facebook. Também está nesse LP a versão original de "Menino do Rio" - que virou a música de abertura de "Água Viva". Essa música foi feita para o belo e jovem surfista carioca Petit, que ficou cadeirant depois de um acidente.

    Em 1981, Caetano gravou "Outras Palavras" LP do qual foram tiradas duas faixas para novelas: "Dans Mon Île"', tema de Renata Sorrah em "Brilhante" (1981) e "Lua e Estrela", tema da Lídia Brondi em "Baila Comigo".

    Em 1982, Caetano lançou o lindo "Cores, Nomes", com "Queixa", tema de abertura de "O Homem Proibido" e "Trem das Cores" - que foi usada bem mais tarde nas cenas de Minas Gerais em "Desejo Proibido" (2007)

    Em 1983, saiu o excelente "Uns"', que ouço da primeira a última faixa sem perceber. Dele, vieram as músicas "Bobagens, Meu Filho, Bobagens" (letra de Marina Lima e Antônio Cícero), que foi tema do Herson Capri, fotógrafo em "Guerra dos Sexos" e a versão original de "Você é Linda" - que, na época, foi tema da também fotógrafa Kelly (Renée de Vielmond em "Eu Prometo"). Depois a mresma versão da música foi usada em "Fera Ferida" (1993) e na abertura de "Belíssima" (2005)

    Em 1984, ele gravou um disco que estou pesquisadno agora para a "Memória da TV" - "Velô". Nesse LP tem a versão original de "Comeu" - tema de abertura de "A Gata Comeu" e "Shy Moon"', que foi tema do protagonista Antônio Carlos Volpone em "Um Sonho a Mais".

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  6. Um adendo: do meu favorito "Uns" (1983) também saiu "Coisa Mais Linda", a música-tema de Ana Galhardo (Myrian Rios), em "Bambolê", 4 anos depois do lançamento do disco. A música foi regravada por Gal e foi tema da Camila Pitanga em "Belíssima" (2005)

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  7. Muito difícil citar a obra do Caetano no universo da teledramaturgia. São muitas músicas.
    Sempre gostei mais das músicas românticas do Caetano. Destaco: Você é Linda (Eu Prometo, Fera Ferida e Belíssima), Você é Minha (Meu Bem Querer), Sorvete (Corpo a Corpo), Lua e Estrela (Baila Comigo), Shy Moon (Um Sonho a Mais) e o lindo dueto com Silvia patrícia na música "Cantar" (Pantanal).

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  8. Caetano é um mestre, amo de paixão suas letras...
    Na reprise de Vale Tudo pelo canal Viva, adorava ouvir "Isto Aqui, o que é?".
    São tantas as canções inesquecíveis...
    A da abertura de "Laços de Família".
    "Alegria Alegria", que diversas vezes foi tema em novelas/minisséries.
    Excelente abordagem e bela homenagem Edu.
    Vc como sempre dando show de bom gosto!!!

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