terça-feira, 9 de outubro de 2012

“Balacobaco”: planejamento estratégico equivocado prejudica lançamento

por Júlio César Martins

Gisele Joras e Edson Spinello, autora e diretor de "Balacobaco"
Duas marginais adolescentes roubam um carro, levando consigo a moça que estava no banco do carona. Elas agridem e ameaçam a jovem que, desesperada, se atira para fora do carro em movimento, em plena Avenida Presidente Vargas. A moça sobrevive, e as assaltantes perdem o controle do veículo, causando um acidente de pouca gravidade. As marginais são delatadas pela vítima e ficam um ano presas em um reformatório, sofrendo toda sorte de humilhações. Obcecadas com a idéia de se vingar da moça – de quem se consideram vítimas, subvertendo a moral da história – elas farão de tudo para acabar com a vida da pobre mulher. Esta é – ou pelo menos parece ser - a trama central de “Balacobaco”, a nova aposta da teledramaturgia da Record.

“Balacobaco” estreou com a ingrata tarefa de recuperar a audiência espantada pela antecessora, “Máscaras”.  Elaborada às pressas para conter a vertiginosa queda de audiência do horário, é notório que a novela não teve o tempo necessário para maturação. Apesar da trama interessante, o resultado rendeu um capítulo de estréia confuso, com cenas dispensáveis, diálogos medíocres estruturados a partir de bajulações, banalidades, bobagens e descrições intermináveis de ações passadas e personalidades. Personagens superficiais e caricatos que, ao invés de viverem os dramas que a história precisa contar, passam a maior parte do tempo falando de si e dos outros.

A Record pecou na promoção da estréia, com chamadas equivocadas, enaltecendo o tom de comédia de costumes. Mas não se engane: a novela é composta por um incontável número de personagens amorais, que de tão absurdos se tornam interessantes. A trama precisa de pequenos ajustes: visceralidade, diálogos objetivos que privilegiem a ação e cenas dinâmicas. “Balacobaco” carece de uma narrativa menos radiofônica e mais cinematográfica – característica que, entre outras, garantiu o sucesso absoluto de “Avenida Brasil”.

Apesar da interessante idéia de brincar com a estética de desenho animado, isso é apenas uma bela cobertura para um bolo de sabor duvidoso. É necessário entender que novela não pode ser apenas uma avalanche de diálogos piegas. Em muitos momentos, o texto soa inverossímil e subestima a inteligência do espectador. Queremos assistir a história, mas até o momento – exceto a cena do acidente – estamos, na maior parte do tempo, ouvindo-a através dos diálogos dos personagens.

A espinha dorsal aborda um tema interessante: o medo silencioso que sentimos ao delatar um criminoso e o estresse posterior provocado pela situação. A doce arquiteta Isabel (Juliana Silveira) será vítima da vingança das gêmeas más Diva (Bárbara Borges) e Dóris (Ana Roberta Gualda), duas picaretas de moral distorcida, que vem a ser filhas da não menos picareta Cremilda (Solange Couto). Diva é namorada de mais um picareta, o ambicioso Norberto (Bruno Ferrari), que se corrói de inveja da predileção de sua família pelo irmão de criação, Eduardo (Victor Pecoraro). Eles são sócios em uma empresa de turismo ecológico, e Norberto não se conforma de não ser o sócio majoritário. Assim, passa o tempo obcecado em tirar Eduardo da jogada.

  Juliana Silveira, Ana Roberta Gualda e Bárbara Borges
Por sua vez, Isabel enfrentará o dissabor de descobrir que o marido Danilo (Roger Gobeth) - com quem vive um romance cor-de-rosa - é um picareta viciado em jogo, que deve uma verdadeira fortuna para um cassino, e por conta disso vai deixa-lá em uma má situação financeira. Como se não bastasse, sua irmã Tereza (Juliana Baroni) morre e a sobrinha adolescente Taís (Letícia Medina) fica sob sua tutela, e ela terá de lidar com a situação de aproximar a garota do verdadeiro pai. Em meio a tanta confusão, ela vai despertar o interesse de Norberto e Eduardo, que, provavelmente, vão disputar sua atenção. Mais um motivo para a gêmea Diva alimentar ainda mais seu desejo de vingança.

O problema é que, para compreender essa história, é necessário assistir aos capítulos com muita boa vontade. O erro maior está no primeiro capítulo, que deveria ter começado pela sequência do roubo do carro, e não pelo blá blá blá interminável entre personagens e a picaretice histriônica de Cremilda, personagem de Solange Couto. Que, aliás, repete a parceria com Silvio Guindane, remetendo-os aos seus personagens em “O Clone”. Solange repete os berros e os gestos bruscos que a consagraram doze anos atrás. Resta saber se isso é vantagem ou desvantagem.

Até o momento, os núcleos da rádio e da pastelaria soam totalmente dispensáveis. Percebo um excesso de personagens que, ao que tudo indica, só servirão para esvaziar a força da trama central. Talvez seja mais adequado liberar o elenco para a produção seguinte.

A propósito, o Rafael Calomeni não sabe falar. Não entendi praticamente nada do que ele disse.

Apesar de tudo, “Balacobaco” está longe de ser uma novela desinteressante. Tem muitos elementos a favor que, adequadamente trabalhados, podem transformar a novela em um grande êxito da Record. Nós, noveleiros, ficaremos torcendo para que a autora Gisele Joras e sua equipe consigam afinar o piano o mais rápido possível, porque a música é boa.

E da próxima vez, que programem a estréia da novela para uma segunda-feira. A "Tela Quente" é um concorrente menos fidelizado do que "A Grande Família".  

10 comentários:

  1. Júlio, você morde e depois assopra, mas gostei dos comentários. Acho muito cedo ainda para se avaliar uma novela e eu fico sempre na torcida pelas produções da Record, pelo investimento e pelos profissionais que ela emprega. Concorda plenamente em relação ao planejamento estratégico, mas, que estratégia? Com bispo no comando da programação, meu caro, o que se esperar?

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    1. Apesar de tudo, eu gostei da novela, dos personagens principais e acredito que vingue. E torço sinceramente por isso. Obrigado, Lalo! abraço!

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  2. O problema da Record é a ansiedade. Já que Máscaras ia mal mesmo, fica no ar algumas semanas a mais não faria diferença.
    No caso, antecipar "Balacobaco" fez diferença negativamente.
    Como você disse, a trama parece não ter tido o tempo certo de maturação.
    O conceito estético, que era para ser alegre, ficou confuso. E tenho dúvidas com relação ao horário, por que a história tem jeitão de novela das 19.
    Tem muita interferência gráfica nas cenas que acaba nos cansando. Vi uma sequência de carros passando na rua e do nada, surge um pac man e "come" os carrinhos. Fiquei pensando: para que isso?
    E no afã de ter globais no elenco, a Record contrata na "por quilo": Vitor Pecoraro, Rafael Calomeni e aquele outro locutor da rádio são muito ruins.
    Também acho que a Solange Couto com o Guindane (bons atores), mesmo sem intenção, ficou algo meio requentado de "O Clone".
    Mas o maior erro de todos foi lançar a novela numa quinta e na reta final de Avenida Brasil.
    Mesmo com toda a divulgação na casa, a estreia de "Balacobaco" passou batida.
    Todo mundo só quer saber de Max, Carminha e a turma do Divino.
    Uma pena, pois a Gisele Joras tem talento.
    Tomara que dê tempo de corrigir os erros e dar a volta por cima.

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  3. É incrível a critica contra o ator Rafael Calomeni dá para considerar um pouco de inveja? Sim afinal até agora teve só três capítulos desses três ele apareceu no segundo ainda não deu tempo de mostrar a que veio e mais entendi perfeitamente o que ele falou, será que não sera um problema seu? Me desculpa, mas da a impressão que sim. O ator Rafael vem amadurecendo bem tem muito canastrão Global que vivem elogiando.
    Att:Luciene

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  4. Ainda não vi nenhum capítulo e os comentários não me estimulam á ver. Confesso que achei interessante as chamadas. Acredito que a trama foi preparada as pressas, e a meu ver a trama possui um exagerado apelo popular. Bom quem sabe não nos surpreendemos né!

    Belo texto!

    http://brincdeescrever.blogspot.com.br/

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  5. Crítica profissa , hein? eu também gostei mais do que não gostei, mas tb vejo a trama andando numa corda bamba de tão frágil...também concordo que eles gritam muito( as cenas da Simone Spoladore eu botei no mute, confesso) mas torço pela novela e pela teledramaturgia da Record.

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  6. Também estou acompanhando Balacobaco. Seu texto é super bem pontuado... Algo que ainda me incomoda nas novelas da Record é essa necessidade de envolver violência, polícia, em suas tramas. Mas continuo torcendo pela sua teledramaturgia.

    Muito bom tê-lo conosco, queridão. Até a próxima!

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  7. Acho que o grande erro aqui tem sido a aposta única na comédia. Gostei dos capítulos que vi, mas está tudo muito forçado. Precisa dosar mais os capítulos, inserir dramaticidade, romance às cenas e tirar o tom pastelão. Gisele joras fez isso muito bem em "Amor e Intrigas". Torço pela Record.

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  8. Apesar da primeira semana apresentar uma história equivocada a segunda já começa a me agradar, vamos ver o que a trama de Gisele Joras nos reserva!

    Jurandir Dalcin - http://jurandirdalcincomenta.blogspot.com.br/

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  9. Acho a trama interessante,mas o que me incomoda é a gritaria,muitas vezes desnecessária nas cenas,principalmente das duas irmãs.Espero que a novela engrene,torço pela Record.Guerra dos sexos,pr exemplo,acho pior do que Balacobaco mas como é um produto "global" tem menos crítica e mais audiencia.O povo acostumou em ligar na Globo e esquece do controle remoto.

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