por Thiago Andrade Martins
De uns anos para cá, a história da dramaturgia tem experimentado
uma inversão de valores no que diz respeito aos seus personagens. A linha que
separa os vilões dos mocinhos tem ficado cada vez mais tênue, tornando os
primeiros, seres incrivelmente populares. Inclusive, aqueles que praticam a
vilania têm conquistado, e muito, a preferência do público, cansado do tipo
bonzinho e sofredor.
O fato é que ninguém é só bondade e, tampouco, só maldade. E os
autores já captaram essa mensagem num esforço de humanizar os seus personagens
com a ideia de torná-los mais próximos da nossa realidade.
Os vilões saem em vantagem no sentido em que apresentam uma gama
maior de facetas. Muitos deles são resultados de problemas sociais que fazem
parte do nosso cotidiano. Não que isso justifique jogar alguém no lixão ou
executar quem ouse cruzar o seu caminho. No entanto, isso conta pontos na hora
de criar empatia ou até mesmo causar identificação com alguns traços de uma
personalidade não tão “correta”.
Hoje, é raro as novelas apresentarem um vilão que desperte o
ódio e a rejeição do público. Taí a dona Carmem Lúcia, vulgo Carminha, que não
me deixa mentir. Contudo, para qualquer autor é um desafio escrever uma trama,
com mais de uma centena de capítulos, em que o desfecho seja a vitória do mal
sobre bem. Isso, na maioria das vezes, seria inconveniente, principalmente, num
país que sofre tanto pelas suas mazelas.
Então, qual seria o melhor tratamento narrativo possível para
essas figuras, que, ao longo dos meses, aprendemos a compreender e até a amar?
Na minha humilde opinião, como telespectador, a resposta se encontra na
redenção desses personagens. E já vimos isso, com muito sucesso, em vários
folhetins relativamente recentes.
A própria Carminha, em Avenida Brasil é um exemplo disso. Ela
foi capaz de roubar o companheiro, mandar a enteada para o lixão, separar um
casal, seduzir o jogador de futebol rico, dar o golpe da barriga grávida de
outro, chantagear, desviar dinheiro da caridade, manter um caso com o
concunhado, maltratar a filha acima do peso, matar, enfim... No fim, se redimiu
pelos seus pecados, pagou sua pena e abdicou de uma vida de luxo para voltar ao
lixão, ganhando o respeito, inclusive, da sua maior rival, Nina.
A atual novela “das sete”, Sangue Bom, já esboça a redenção de
um de seus principais vilões, o Fabinho, vivido pelo ator Humberto Carrão.
Depois de aprontar todas, o bad boy foi parar na rua, passou fome, frio, se
feriu e perdeu tudo. Mas a compaixão de sua conhecida de infância, que o levou
para casa e passou a cuidar dele, despertaram sentimentos nobres no rapaz que
pediu perdão à sua madrasta e prometeu levar uma vida diferente.
Outra vilã que aprendeu que a maldade não compensa foi a
caricata Chayene, ou Chay para os íntimos. A “ brabuleta”, no final de Cheias
de Charme, fez até show com as Empreguetes, recontratou a Socorro como sua
personal colega e, ainda, fez um turnê infantil com o seu affair midiático,
Fabian. O sucesso foi tanto que as personagens até fizeram uma participação no especial Roberto Carlos, que você pode conferir logo abaixo:
Em Passione, Mariana Ximenes, fez jus à fama de ser uma das
melhores atrizes de sua geração. Além de roubar a cena, mostrou o que o amor
por um ente querido é capaz de fazer. A vilã enganou o ingênuo do Totó, casou
com ele por interesse, ajudou o seu comparsa em diversos crimes, mentiu,
enganou, seduziu, matou. Fez e aconteceu. Mas foi capaz de rever suas atitudes
e tentou se tornar uma pessoa melhor para cuidar de sua irmã caçula, Kelly,
conquistando, inclusive, a torcida do público para que ela tivesse um final
feliz.
Juvenaldo foi um dos vilões que pagou caro por ter Duas Caras.
Em pleno horário nobre, pudemos acompanhar a trajetória do homem que fingindo
ser Adalberto Rangel, seduz e tira tudo da rica e órfã Maria Paula. Depois de
se tornar milionário, assume a identidade de Marconi Ferraço, sem saber que a sua
vítima tinha ficado grávida de seu único filho. A descoberta desse filho
modifica os rumos do personagem que vai se regenerando e reconquistando o amor
de Maria Paula durante a drama.
Esses são apenas alguns dos vilões que se tornaram exemplo pela
sua redenção. Particularmente, acredito que esse tipo de desfecho representa um
olhar esperançoso sobre o ser humano. Afinal, todos já passamos por momentos de
transformação na busca da melhoria do nosso estilo de vida, personalidade,
caráter e da percepção que as outras pessoas têm de nós. Acreditar na evolução
e no amadurecimento de cada indivíduo é também projetar um mundo mais sensível,
compreensivo e amável.
E você, acredita que um vilão pode, definitivamente, mudar?
Muito lúcida a análise.
ResponderExcluirMônica Franco
Obrigado, Mônica. Espero que volte sempre ao blog!
ExcluirAdorei, o povo criticou muito a Carminha ter ficado boa no final, mas não entendem que até aquela pessoa ruim, horrível, tem no fundo um pouco de bondade...
ResponderExcluirAnderson Nascimento
Isso mesmo, Anderson. A Carminha é resultado de uma série de fatores sociais e familiares. Acredito que ela não tinha o desejo de ser assim. Só precisa de um empurrão pra poder se encontrar.
ExcluirGosto de vilões humanizados, mas bem que curto aqueles caricatos que são pura maldade. rs
ResponderExcluirMaurício de Castro
Eu também gosto muito, Maurício. Principalmente aqueles de novelas mexicanas... Paola Bracho e Soraia Montenegro que digam...rs
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