quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Rede Manchete - a "televisão do ano 2000" - Parte III

Por FÁBIO COSTA

No texto anterior desta série em que proponho relembrar alguns pontos da trajetória da infelizmente extinta Rede Manchete, que teria completado três décadas no ar em junho, falei de alguns noticiários da emissora, como o áureo Jornal da Manchete, carro-chefe do departamento de jornalismo, e o Manchete Esportiva. Hoje entram na berlinda os jornalísticos.

Logotipo do Rio em Manchete, jornal local do Canal 6 carioca.
Na década de 80, a Rede Manchete começou a implantar o jornalismo local, com edições produzidas pelas emissoras afiliadas. Assim, surgiram Rio em Manchete, São Paulo em Manchete, Ceará em Manchete, Minas em Manchete etc. A exibição variou entre uma e duas edições diárias e também em relação ao horário, conforme a praça, mas em geral havia sempre uma edição no começo da noite, que competia com a novela global das sete. Um desses telejornais locais da Manchete, Mar em Manchete, da TV Mar (emissora do litoral sul de São Paulo), sobreviveu ao fim da rede dos Bloch e só saiu do ar em 2006.

Roberto Maya no Documento Especial.
Um programa jornalístico que marcou a televisão brasileira através da emissora de Adolpho Bloch foi o Documento Especial – Televisão Verdade, que foi ao ar pela primeira vez em agosto de 1989. Exibido semanalmente, com apresentação de Roberto Maya, trazia aos telespectadores reportagens polêmicas e audaciosas, tendo temas espinhosos como prostituição infantil, violência contra a mulher, tráfico de drogas, a então relativamente desconhecida Igreja Universal do Reino de Deus e até uma atividade arriscada que estava em voga no fim dos anos 80 e começo dos 90: o surf ferroviário.

A direção do programa era do jornalista Nelson Hoineff, que foi também seu criador. Inicialmente eram quatro reportagens por edição, número que diminuiu para duas até que se chegou ao formato que consagrou o programa: uma grande reportagem por edição, ou mesmo grandes reportagens de duas horas, divididas em dois programas de uma hora cada.

Foram cerca de duzentas edições exibidas até 1992, quando Nelson Hoineff transferiu-se para o SBT e levou consigo o programa. Como o título era de Hoineff, não foi preciso mudá-lo, e a Manchete estreou outro jornalístico chamado Documento Verdade, juntando as duas partes do título, que não emplacou da mesma maneira. A partir de 2007, vários programas do Documento Especial – Televisão Verdade passaram a ser reprisados pelo Canal Brasil.

Semelhante em alguns aspectos ao Bem-estar, que a Rede Globo exibe atualmente em suas manhãs, o programa Os Médicos foi ao ar entre 1994 e 1996 nas tardes da Manchete. Apresentado por Anna Bentes Bloch, esposa de Adolpho Bloch, recebia especialistas em diversas áreas da saúde para esclarecimentos ao público sobre doenças, tratamentos e qualidade de vida.


Em 18 de setembro de 1995, o jornalista Fernando Barbosa Lima criou outro programa jornalístico importante e marcante na televisão brasileira: o 24 Horas, que tinha o propósito de mostrar a realidade de um determinado local durante as 24 horas de um dia, sem quaisquer retoques. Foi ao ar até 1999, semanalmente.

Carlos Chagas e Pedro Simon no Jogo do Poder.
Entre diversos programas jornalísticos e de entrevistas exibidos pela emissora, merece destaque o Jogo do Poder, debate entre jornalistas e políticos mediado pelo lendário comentarista Carlos Chagas. Exibido ao longo de toda a década de 90 (ainda que posteriormente com outro nome, Se Liga, Brasil) após a “linha de shows”, teve também trajetória na emissora paranaense CNT, após o fim da Rede Manchete. O programa cumpriu importante papel na discussão de assuntos de interesse público e ao trazer para mais perto do eleitor o pensamento e as ações daqueles que o representavam nos poderes Legislativo e Executivo.

Também merece destaque um telejornal pouco lembrado: o Repórter Manchete, que estreou em 1985. Entrava no ar às oito da manhã e ficava três horas no ar, com atualização das notícias a cada trinta minutos – esquema ao qual estamos hoje em dia habituados graças a canais pagos, como Globo News e Band News. A apresentação era de Jacira Lucas, Paulo Carvalho, Ana Maria Badaró e Gilberto Nascimento.

No próximo texto dessa série que relembra a saudosa Rede Manchete, o tema será a teledramaturgia da emissora. Mais precisamente as minisséries, das quais a primeira foi Marquesa de Santos, em 1984, com Maitê Proença no papel-título e Gracindo Júnior como D. Pedro I. Até lá!

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