sábado, 19 de outubro de 2013

Outras Influências

A teledramaturgia precisa de novos olhares.

por José Vitor Rack

Nos primórdios da telenovela brasileira, poucos abnegados roteiristas colocavam no ar esse produto tão festejado. Quase sempre eram pessoas que vinham do rádio. Nos anos 60 e 70 a TV começou a importar talentos de outras áreas.

Paulo Pontes

A grande responsável pela chegada de grandes talentos do teatro, como Jorge Andrade, Bráulio Pedroso, Armando Costa, Lauro César Muniz, Mario Prata, Paulo Pontes, Plínio Marcos, Oduvaldo Vianna Filho, entre outros, foi a censura. Com seus trabalhos censurados e impedidos de continuar sobrevivendo de sua arte, os dramaturgos se mandaram para a televisão animados por terem um bom salário fixo e a possibilidade animadora de atingirem a milhões.

Nem tudo o que fizeram foi sucesso. Mas o que é inquestionável é a contribuição decisiva dos profissionais de outras áreas para a formação da linguagem de televisão que temos hoje. E, mais do que isso, eles ajudaram o Brasil a criar a mais fantástica fábrica de telenovelas do mundo, com texto de qualidade inigualável em todo o mundo.

Ferreira Gullar

A censura atingia também os jornais. Alguns jornalistas também contribuíram para a TV com sua agilidade e capacidade de síntese. Poetas como Ferreira Gullar também. Poucos se lembram, mas Gullar foi do primeiro time de roteiristas da TV Globo por longos anos, tendo escrito seriados como Carga Pesada e Obrigado Doutor, e novelas como Sinal de Alerta e Araponga.

Rubens Ewald Filho

Glória Perez era poetisa. E historiadora. Rubens Ewald Filho, Daniel Más e Gilberto Braga eram críticos. Sílvio de Abreu e Antônio Calmon eram cineastas. A TV ainda não tinha sua própria máquina de roteiristas. Hoje as oficinas de roteiros são disseminadas por diversos meios. A TV Globo está cheia de roteiristas formadas em sua oficina de autores.

Resulta que hoje a TV dialoga pouco com outras áreas de nossa cultura. Despreza as experiências feitas no teatro, no cinema, no circo, na música, nos quadrinhos. Quando traz pra si algo de bacana da internet, logo trata de padronizar e enquadrar em seu modus operandi tradicional.

A maneira de aproveitar os talentos de outras áreas deve ser cuidadosa. Talvez eles sejam mais úteis e efetivamente inovadores na criação do que na execução de projetos. Afinal, audiência ainda é a meta a ser perseguida. Mas com pitadas de ousadia e a experiência dos especialistas em TV unidas, creio que bons resultados aparecerão logo.

A TV precisa voltar ao passado para ser moderna. Ser mais plural. 

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