A teledramaturgia precisa de novos olhares.
por José Vitor Rack
Nos
primórdios da telenovela brasileira, poucos abnegados roteiristas colocavam no
ar esse produto tão festejado. Quase sempre eram pessoas que vinham do rádio. Nos
anos 60 e 70 a TV começou a importar talentos de outras áreas.
Paulo Pontes
A
grande responsável pela chegada de grandes talentos do teatro, como Jorge
Andrade, Bráulio Pedroso, Armando Costa, Lauro César Muniz, Mario Prata, Paulo
Pontes, Plínio Marcos, Oduvaldo Vianna Filho, entre outros, foi a censura. Com
seus trabalhos censurados e impedidos de continuar sobrevivendo de sua arte, os
dramaturgos se mandaram para a televisão animados por terem um bom salário fixo
e a possibilidade animadora de atingirem a milhões.
Nem
tudo o que fizeram foi sucesso. Mas o que é inquestionável é a contribuição
decisiva dos profissionais de outras áreas para a formação da linguagem de
televisão que temos hoje. E, mais do que isso, eles ajudaram o Brasil a criar a
mais fantástica fábrica de telenovelas do mundo, com texto de qualidade
inigualável em todo o mundo.
Ferreira Gullar
A
censura atingia também os jornais. Alguns jornalistas também contribuíram para
a TV com sua agilidade e capacidade de síntese. Poetas como Ferreira Gullar
também. Poucos se lembram, mas Gullar foi do primeiro time de roteiristas da TV
Globo por longos anos, tendo escrito seriados como Carga Pesada e Obrigado
Doutor, e novelas como Sinal de Alerta e Araponga.
Rubens Ewald Filho
Glória
Perez era poetisa. E historiadora. Rubens Ewald Filho, Daniel Más e Gilberto
Braga eram críticos. Sílvio de Abreu e Antônio Calmon eram cineastas. A TV
ainda não tinha sua própria máquina de roteiristas. Hoje as oficinas de
roteiros são disseminadas por diversos meios. A TV Globo está cheia de
roteiristas formadas em sua oficina de autores.
Resulta
que hoje a TV dialoga pouco com outras áreas de nossa cultura. Despreza as
experiências feitas no teatro, no cinema, no circo, na música, nos quadrinhos. Quando
traz pra si algo de bacana da internet, logo trata de padronizar e enquadrar em
seu modus operandi tradicional.
A
maneira de aproveitar os talentos de outras áreas deve ser cuidadosa. Talvez eles
sejam mais úteis e efetivamente inovadores na criação do que na execução de
projetos. Afinal, audiência ainda é a meta a ser perseguida. Mas com pitadas de
ousadia e a experiência dos especialistas em TV unidas, creio que bons
resultados aparecerão logo.
A
TV precisa voltar ao passado para ser moderna. Ser mais plural.
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