Por Jonathan Pereira
Cine Holliúdy estreia sexta-feira (15) no Sudeste depois de atrair cerca de 450 mil espectadores aos cinemas nordestinos. A produção cearense diverte e traz para a tela o regionalismo sem os estereótipos que se vê na TV, abrindo novos caminhos para os filmes nacionais.
Com elenco predominantemente do próprio Estado, é exibido legendado em português por ser falado em "cearensês", com várias expressões locais, muitas delas desconhecidas do grande público acostumado a ouvir apenas "vice", "oxe" e "oxente" nas novelas. Termos como "ispilicute", "diabéiss?" e "joiado" saem naturalmente da boca do elenco, como no cotidiano do povo de lá.
História e elenco
O longa do diretor Halder Gomes conta a história de Francisgleydisson (Edmilson Filho), homem apaixonado por cinema que, nos anos 70, abre uma sala de exibição na pequena Pacatuba mas teme que a popularização dos aparelhos de TV, que estão chegando por lá, acabe com seu sonho. Casado com Maria das Graças (Miriam Freeland) e com um filho para criar, também chamado Francisgleydisson (Joel Gomes), ele investe em filmes com muita "pêia" para atrair o público.
A brincadeira com a criatividade dos nomes que os pais dão aos filhos continua com Valdisney, menino de imaginação fértil. Falcão ataca de ator como o cego Isaías, Roberto Bomtempo vive o prefeito Olegário Elpídio (lembrando muito o sotaque de quando interpretava Jacques em Porto dos Milagres, que se passava na Bahia) e Rainer Cadete, o advogado Rafael da novela Amor à Vida, aparece como Shaolin. Fiorella Mattheis faz uma participação especial, sem falas.
Miriam Freeland e Joel Gomes em cena |
Miriam Freeland, uma das poucas não cearenses do elenco, está bem como sempre. Mesmo não sendo conhecido do grande público, Edmilson Filho, que também é produtor associado e coreógrafo, segura o posto de protagonista. "O desafio foi deixar esse personagem real, sem caricaturas, sem exageros e uma figura que tivesse carisma", afirmou.
Pontos positivosAlguns anos atrás, quando o cinema nacional estava voltado a mostrar as mazelas brasileiras, a ideia de fazer um filme cearense provavelmente cairia no clichê do retirante nordestino que sofre com a seca e busca condições melhores na cidade grande. Felizmente o momento é outro e o que se vê é uma história com gente comum sendo contada, sem vitimização.
O filme é derivado do curta-metragem Cine Holliúdy – O Astista Contra o Caba do Mal e, além de Fortaleza, teve Pacatuba e Quixeramobim como locações. No momento em que a ação se passa dentro do cinema, perde um pouco do ritmo e graça, mas isso não chega a comprometer. Tivesse como um todo 10 minutos a menos, ficaria redondo.
Além de atuar, Edmilson também é coreógrafo |
O grande mérito de Cine Holliúdy - que está sendo comparado a Cinema Paradiso pela crítica - é ser produzido por e com gente local. Se alguém de fora tentasse contar essa história perderia a naturalidade, cairia no estereótipo e os cearenses - que fizeram com que o filme quebrasse o recorde de público de Titanic em seu Estado - não se reconheceriam. "Quando o cearense se vê na novela ele pergunta pro pernambucano: 'Mah, é tu ali?', porque ele não se reconhece", disse o diretor.
"Estar dentro de um filme que é a nossa cara, nosso dia a dia, é joia. Acho que estamos muito bem porque tá todo mundo representando sua alma,
o ser cearense", analisa Falcão, um dos mais assediados na pré-estreia realizada em São Paulo na noite de terça-feira (12). A produção estreou no fim de agosto no Nordeste, em setembro no Centro Oeste e Norte e está em cartaz a partir de sexta-feira, 15, nos cinemas do Sudeste (na região Sul, segundo a produção, ainda não há data para ser exibido). Assista ao trailer abaixo. O sucesso de Cine Holliúdy abre portas para a partir de agora o cinema nos proporcionar conhecer outras realidades regionais como a da Amazônia ou do Pantanal, por exemplo.
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