Por
Leonardo Mello de Oliveira
Não há como negar a incrível campanha de
popularização que acontece atualmente na televisão brasileira. A incansável
busca por audiência vem tentar capturar um público que assiste a novelas
diariamente desde os anos 70: a chamada classe C. Porém, dizem alguns, estamos
em um período de transição, onde vários membros antes considerados da classe D
emergiram, e agora figuram nesta chamada “nova classe C”. Esse é o público que
a TV quer, e não mede esforços pra isso. Infelizmente, popularização no Brasil
muitas vezes vira sinônimo de má qualidade, principalmente no quesito
telenovela. É incrível como a Rede Globo, a maior emissora do país, conseguiu,
em tão pouco tempo e de forma nada sutil, inundar sua programação com programas
e novelas de fácil digestão, com forte apelo popular e que resultam, muitas
vezes, em produtos execrados pela crítica. Não estou falando que apelo popular
sempre acaba em equívocos. O Esquenta,
programa apresentado por Regina Casé, é um dos mais popularescos que já
assisti, porém, não deixa de ser um programa que funciona, que dá certo e que
tem grandes qualidades, muito mais do que defeitos. O grande problema é como o
popular é conduzido, como é dosado. Tudo isso altera o resultado, e também a
maneira que será visto, tanto pela classe C quanto por todas as outras classes
que, com certeza, também assistem à TV aberta.
Vamos analisar brevemente o histórico de
novelas populares no horário nobre desde Fina
Estampa, trama que iniciou essa “epopéia popularesca”. Um fato engraçado é
que somente o horário das nove foi praticamente obrigado a transmitir esse tipo
de produção. O horário das seis, das sete e das onze receberam uma dose ou
outra de popularismo, mas não se prendeu à fórmula. Vale lembrar também que não
é de hoje que esse tipo de trama existe. Os seus próprios autores hoje alcançaram
o sucesso usando o apelo popular.
Fina
Estampa foi escrita por Aguinaldo Silva, autor já consagrado por tramas de
cunho popular. Aguinaldo já havia nos apresentado nos últimos anos Senhora do Destino e Duas Caras, novelas bem populares. Mas
o que se viu em Fina Estampa foi a fórmula escancarada, sem medo de mostrar um
apelo gigantesco por audiência. Uma protagonista maniqueísta, uma vilã caricata
e tão maniqueísta quanto sua rival, um gay mega afetado, personagens cômicos, gente
pobre e honesta sofrendo e muito barraco eram as principais táticas do autor
para alcançar a classe C, que começava a virar o assunto do momento quando se
falava em televisão. Aguinaldo conseguiu, e com um gigante sucesso, cessar o
declínio de audiência do horário nobre global. Porém, isso tudo teve um preço.
A crítica caiu em cima. Situações incoerentes, dignas de desenho animado,
subestimavam a inteligência do telespectador e baixavam o nível da trama.
Logo depois veio o furacão Avenida Brasil. A novela parou o Brasil
como há tempos não acontecia. João Emanuel Carneiro, o JEC, apostou em uma
trama pesada, com inspiração em vários clássicos literários e teatrais, mas que
ao mesmo tempo tinha vários elementos populares. Modismos e trejeitos do
subúrbio enriqueciam a novela, que, aliás, mostra uma evolução gigantesca do
JEC como autor. Seus defeitos característicos ainda estavam lá, mas muitos
haviam sido corrigidos. João Emanuel é outro autor conhecido por suas tramas
populares, mas ao mesmo tempo profundas. O entrosamento entre a equipe de
produção era notável, tanto que praticamente tudo deu certo em Avenida Brasil.
O mesmo não pode se disser de sua
sucessora, Salve Jorge. Glória Perez
foi uma das primeiras autoras a retratar a vida do subúrbio, das favelas, de um
povo pouco mostrado nas novelas antigamente. Sua nova trama trazia como
protagonista uma menina da favela, jovem, que teve um filho muita nova e que
acaba sendo traficada e prostituída na Turquia. A trama era inicialmente densa,
mas o grande erro de Glória foi mais o menos o mesmo de Aguinaldo Silva em Fina
Estampa. A autora utilizou quase todos os recursos que conhecia e que já haviam
sido garantia de sucesso. Falhas da direção, mau direcionamento de personagens,
elenco sumido, texto fraco para uma autora que já nos trouxe Barriga de Aluguel e O Clone, um déjà vu de outras tramas de Glória, enfim, vários foram os fatores
para a rejeição do público e da crítica.
Então vem Amor à Vida! Estreia de Walcyr Carrasco, autor de clássicos do
horário das seis, no horário nobre. O início foi empolgante, muitos viam uma
segunda Avenida Brasil, a expectativa aumentava a cada capítulo. Porém, já na
terceira semana de novela, a decepção veio como um balde de água fria. Carrasco
fazia uma novela das sete no horário das nove, e era clara a busca por audiência.
Tudo parecia ser feito pra fazer mais barulho, pra chamar o público a assistir
à novela. Mudanças drásticas e sem sentido em personagens, armações, segredos
de família revelados uma vez por mês, tudo era feito para que seguisse aquilo o
que o povo queria. Me pergunto: de quem é a culpa da falta de qualidade em Amor
à Vida? Será que realmente é de Walcyr Carrasco? Pois eu não consigo acreditar
que quem escreveu uma novela como essa nas primeiras e nas últimas semanas
tenha sido a mesma pessoa que escreveu o meio. Pressão da emissora ou do
público por uma novela de fácil digestão? Se foi da emissora, o objetivo foi
alcançado. A novela conseguiu uma média bem decente e repercutiu como poucas.
Atualmente podemos ver um Manoel Carlos inspiradíssimo
no horário nobre. Mas sua novela não condiz com nada do que foi visto nas
últimas quatro tramas das nove. Em
Família chegou com um texto brilhante, caprichado, sem medo de agradar a
essa ou àquela classe. Um elenco primoroso, desde os desconhecidos das
primeiras fases até os medalhões da terceira. Maneco diz que não há pressão por
audiência que lhe faça baixar o nível. E vemos que ele não mente. Apesar dos
pífios números alcançados por Em Família nos seus primeiros capítulos, tudo o
que foi feito foi agilizar a trama, fazendo os capítulos mais longos, nada de
mexer na história! Talvez o único grande problema desta novela seja a
cronologia, com idades de atores que não condizem com o de seus personagens e
elementos de cenário e figurino que não batem com a época. Mesmo assim, a
crítica aplaude essa brilhante e corajosa obra do “bom velhinho do Leblon”, que
promete mais e mais a cada capítulo.
Em momento algum quis passar que o
programa popular é algo ruim. Mas sim que tudo deve ser bem pensado e feito,
para que não se cometam exageros nem erros ao tentar fazer um produto que visa
a classe C. Como o próprio nome diz, a
TV é aberta, todos assistem a ela. A busca incansável por audiência tem sido o
maior inimigo da qualidade quando se trata de televisão. Que a Globo pense
nisso, que não siga o caminho mais fácil. Afinal, é menos trabalhoso agradar a
um só do que a todos. Principalmente se esse “um só” for garantia de dinheiro e
repercussão...
Texto muito bom, parabéns. O grande fator neste assunto é que a emissora conseguiu por um tempo o q queria, o ibope das novelas em 2012 foi estrondoso ( Cheias de Charme e Av. Brasil), e eram novelas das quais eu mesma gostava muito, seja texto ou direção. Só q foi rápido, a globo está novamente mendigando por audiencia em suas tramas e agora quero ver qual será o artifício q usarão pra chamar a atenção.
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