O QUE TIVER DE SER
CAPÍTULO 6 - ÚLTIMO
WEB NOVELA DE
LEANDRO BRASIL
ESCRITA COM A COLABORAÇÃO DE:
ISAAC SANTOS
RAFAEL BARBOSA
RAUL FELIPE SENNGER
CENA
01. FRENTE DA CASA DE PAOLA. INTERIOR. NOITE.
Júlio muito nervoso
falando ao celular. Atrás dele, Delegado perto dos policiais, também falando ao
celular.
JÚLIO - (ao celular) É, mãe, o canalha
do Rubens fugiu levando a Paola e o Lucas. Eu não sei onde é que tá o meu
filho. (pausa. Júlio impaciente) Tá bom, mãe. Olha, eu não posso falar agora.
Qualquer novidade eu te aviso.
Júlio desliga o
celular nervoso e vai até o Delegado.
JÚLIO - Nada ainda, delegado? Nenhuma
pista?
DELEGADO - Ainda não, mas a polícia rodoviária já foi
avisada. Fica tranquilo, logo esse safado vai em cana.
JÚLIO - Quer dizer que eu vou ter que
ficar de braços cruzados? Esse desgraçado pode acabar com o meu filho! Vocês
têm que fazer alguma coisa!
DELEGADO - Nós estamos fazendo tudo o que está ao
nosso alcance, rapaz! O Rubens não vai conseguir escapar, eu garanto!
Delegado se afasta
para conversar com os policiais. Júlio muito angustiado. Corta para:
CENA
02. CARRO DE RUBENS. RUAS. EXTERIOR. NOITE.
Carro passa em alta
velocidade. Corta para interior do veículo, onde Paola e Lucas estão muito
assustados no banco de trás. Rubens dirige furioso.
PAOLA - Isso que você tá fazendo é
sequestro, sabia?
RUBENS - Se você acha que vai sair impune
depois do que fez, tá muito enganada!
PAOLA - (muito assustada) Eu já disse que
não fiz nada! Não fui eu quem te denunciou! Eu não sou maluca, sei do que você
é capaz!
LUCAS - Do quê que vocês tão falando?
PAOLA - Nada, filho. É um assunto nosso! (a Rubens) É verdade,
Rubens! Eu não fiz isso! A polícia já devia tá te investigando há muito tempo!
Você achou que ia ficar impune pra sempre? Eu e o Lucas não temos nada a ver
com isso. Por favor, deixa a gente ir embora!
RUBENS - (grita, furioso) Cala a boca e para
de me encher!
PAOLA - O que você vai fazer com a gente?
RUBENS - (irônico) Logo vocês vão saber.
Rubens continua
dirigindo. Paola perde a paciência e cai em cima dele, tentando fazê-lo parar.
PAOLA - Para esse carro!
Lucas olha os dois,
muito assustado. Rubens tenta se soltar de Paola e perde o controle do carro,
que fica ziguezagueando no meio da pista, quase batendo em postes e outros
veículos. Finalmente Rubens dá um murro em Paola, que cai no banco de trás com
o nariz sangrando. Rubens recupera o controle da direção e se vira furioso para
ela.
RUBENS - Outra gracinha dessas e você vai ver
o que acontece com esse moleque! Eu acabo com ele na tua frente!
Muito assustada,
Paola começa a chorar e abraça Lucas, que também chora. O carro segue em alta
velocidade. Corta para:
CENA
03. APTO SONINHA. QUARTO. INTERIOR. NOITE.
Abre em Soninha
dormindo na cama ainda com o vestido de noiva. Letícia, Rosália, Mila e Sofia a
observam, tristes.
LETÍCIA - O calmante fez efeito.
Corta
para:
CENA
04. APTO SONINHA. SALA. INTERIOR. NOITE.
Letícia, Rosália,
Mila e Sofia continuam a conversa.
ROSÁLIA - Espero que o tranco que ela levou
também faça efeito. Quem sabe agora a Soninha pense duas vezes antes de se
envolver com o primeiro cafajeste que aparecer.
MILA - A Soninha é uma mulher que
nasceu pra viver mil paixões, dona Rosália. Logo ela se recupera desse baque e
parte pra outra!
ROSÁLIA - Pra outra enrascada, você quer dizer,
né? Vocês são duas cabeças de vento!
LETÍCIA - Não acha que já falou demais por
hoje, mamãe?
ROSÁLIA - Eu só falo a verdade, minha filha! É
por isso que vocês se incomodam tanto com o que eu digo!
Letícia suspira, irritada.
Corta para:
CENA
05. DELEGACIA. CELA. INTERIOR. NOITE.
Marcelo triste em
meio aos outros presos. Ainda está com a roupa do casamento. Tempo nele com
cara de derrota e Corta para:
CENA
06. CARRO DE RUBENS. RUAS. EXTERIOR. NOITE.
Rubens continua dirigindo.
O carro chega a um semáforo e ele percebe que será obrigado a parar. Paola faz
um sinal a Lucas apontando a porta do carro. Rubens para o carro, preocupado e
fica esperando o sinal abrir.
PAOLA - (tenta ganhar tempo) Pra onde
você pretende nos levar?
RUBENS - Isso não é da sua conta! (olha
nervoso o sinal) Vai logo, droga!
Rapidamente, enquanto
o carro está parado, Paola abre a porta do lado de Lucas. Rubens percebe o que
aconteceu e se vira pra eles.
RUBENS - Opa, que é isso?
Antes que ele dê partida
no carro, Paola cai em cima dele e o segura.
PAOLA - (para Lucas) Vai, filho! Foge e
pede ajuda!
Assustado, Lucas sai
do carro e corre no meio da rua, em meio aos outros carros. Motoristas e
pedestres o observam. Ele começa a gritar, desesperado.
LUCAS - Socorro! Ajudem a minha mãe!
Um homem e uma mulher
que passam na calçada, vêm até ele.
MULHER - O que foi, menino?
LUCAS - Minha mãe, moça! Ela tá sendo
sequestrada.
HOMEM - Onde é que tá a sua mãe, garoto?
LUCAS - (aponta) Ali, naquele carro!
Nesse momento, os
gritos de Paola tomam conta da rua.
PAOLA - (off) Socorro! Alguém me ajuda!
O homem e a mulher
correm na direção que Lucas apontou. Corta para o interior do carro, onde Paola
desesperada tenta sair pela porta de trás. Rubens a puxa pela perna. Ela grita
muito.
PAOLA - Socorro! Socorro!
O homem e a mulher
chegam até o carro no momento em que Rubens consegue puxar Paola e fecha a
porta. Rubens dá um tiro para fora do carro. O homem e a mulher se assustam e
correm. Pessoas param para olhar. Agitação na rua. Todos ouvem outro tiro
dentro do carro e se assustam. O sinal abre e o carro de Rubens sai em alta
velocidade.
MULHER - Meu Deus do céu, será que ele matou
ela? (para o marido) Vai, homem, liga pra polícia!
O homem pega o
celular e começa a discar. Lucas vem até o casal.
LUCAS - Cadê a minha mãe?
MULHER - Fica calmo! Logo ela vai estar aqui.
Agora eu vou te levar pra casa. Me dá o seu endereço.
LUCAS - Eu não lembro o nome da rua,
moça.
MULHER - E o telefone de alguém, de algum
parente, você sabe?
LUCAS - Sei. O telefone do meu pai.
Corta
rápido para:
CENA
07. CASA DE VIOLETA. SALA. INTERIOR. NOITE.
Violeta já abraçando
o neto, aliviada. Júlio ao lado deles.
VIOLETA - Graças a Deus, meu querido, que você
tá são e salvo!
Continua abraçando e
beijando Lucas, que está triste.
JÚLIO - Tá bom, mãe. Ele precisa agora
de um bom banho.
LUCAS - Eu preciso é da minha mãe.
Lucas sai correndo
para o quarto.
VIOLETA - Como foi que você encontrou ele?
JÚLIO - Ele conseguiu fugir quando o
Rubens parou o carro num sinal. Mas a Paola continua em poder dele.
Em Violeta tensa, Corta para:
CENA
08. RUAS. CARRO DE RUBENS. EXTERIOR. NOITE.
Rubens mais furioso
do que nunca. Sentada agora no banco da frente, Paola geme de dor e vemos que
sua perna sangra muito por causa do tiro.
RUBENS - Tá perdendo sangue, é? Desgraçada! Eu
devia ter acabado logo com a tua raça!
PAOLA - (com muita dor) Não tô nem aí pro
que vai me acontecer... O importante... O importante é que eu tirei o meu filho
das mãos de um bandido como você!
RUBENS - Pois é, só que ninguém vai te salvar.
Você vai morrer se esvaindo em sangue na minha frente, sua vadia!
PAOLA - Eu não vou te dar esse gostinho!
Não vou!
Mesmo sangrando e com
muita dor, Paola parte para cima de Rubens e pega o volante, tentando provocar
um acidente. Rubens tenta empurrá-la.
RUBENS - Para com isso. Tá maluca?
PAOLA - Eu quero logo acabar com isso de
uma vez por todas!
Paola continua
pegando no volante. Na rua, o carro anda em ziguezague, quase batendo em postes
e em outros veículos.
RUBENS - Para, Paola!
Por mais que tente,
Rubens não consegue se livrar de Paola, que parece ter reunido todas as suas
forças na tentativa desesperada de se livrar daquela situação. O carro segue
descontrolado pelas ruas de São Paulo. Até que num cruzamento, é atingido
violentamente por um ônibus, que não conseguiu parar. Paola e Rubens gritam.
Devido à força da batida, o carro capota. Na imagem do carro praticamente
destruído, Fade out:
CENA
09. HOSPITAL. QUARTO DE PAOLA. INTERIOR. DIA.
Fade
in: Ponto de vista de alguém. Visão embaçada. Percebemos que
alguém se aproxima da pessoa que olha. Imagem fica nítida e revela Júlio
olhando triste para Paola, que está na cama, cheia de aparelhos. Percebemos que
sua situação é muito grave. Paola fala com muita dificuldade.
PAOLA - Jú... Júlio.
JÚLIO - Por favor, Paola, não faz
nenhum esforço. Você passou vários dias inconsciente, tem que descansar.
PAOLA - Eu... Eu... Eu preciso... Falar
com... Com você. O... Lu/
LUCAS - O Lucas tá bem, não se preocupa
com ele não, tá bom? Assim que você ficar boa tudo vai/
PAOLA - (corta) Eu não... não vou ficar
boa, Júlio.
JÚLIO - Que é isso, não fala assim.
PAOLA - Me promete... me promete que você
vai cuidar do Lucas.
JÚLIO - Para com isso, Paola.
PAOLA - Por favor, me promete... Me
promete que... nunca vai falar pra... pra ninguém que ele não é... seu filho
bioló/
JÚLIO - Claro que eu não vou contar pra
ninguém. O Lucas é meu filho, nosso filho.
PAOLA - E se um dia... se um dia você...
conseguir me... perdoar/
JÚLIO - Eu já te perdoei, Paola. Você
me deu um filho lindo/
PAOLA - (corta) Então me promete que...
vai cuidar dele.
JÚLIO - Tudo bem, se isso faz você se
sentir melhor, eu prometo.
Paola sorri, mais
tranquila. Júlio pega na mão dela, com os olhos cheios d’água. Uma enfermeira
entra no quarto e vai até eles.
ENFERMEIRA - Ela precisa descansar.
Triste, Júlio solta
aos poucos a mão de Paola e vai saindo do quarto. Antes de sair, olha mais uma
vez para o leito dela. Na imagem comovente de Paola, fusão lenta:
CENA
10. CEMITÉRIO. EXTERIOR. DIA.
Alguém coloca uma
flor em um túmulo. Imagem abre e vemos que foi Lucas quem colocou a flor e que
o túmulo é de Paola. Júlio e Violeta estão ao lado dele, muito emocionados.
Lucas olha triste para o túmulo da mãe e vai até o pai e a avó. Violeta e Júlio
se entreolham, como se quisessem dizer alguma coisa para Lucas, mas desistem.
Os dois dão as mãos a Lucas e vão se afastando do túmulo de Paola. Câmera vai
abrindo devagar e mostra o cemitério do alto. O dia bonito, de céu azul,
contrasta com a tristeza deles. Na imagem dos três se distanciando cada vez
mais do túmulo, corta para:
CENA
11. BANCA DE REVISTAS. EXTERIOR. DIA.
Abre em um jornal com
a foto de Rubens saindo do hospital e sendo levado por dois policiais para uma
viatura. A Manchete diz: “Traficante sai do hospital direto para a cadeia”.
Câmera se afasta, mostrando o movimento na banca. Algumas pessoas olham o
jornal e comentam o caso. Corta para:
CENA
12. DELEGACIA. SALA DE VISITAS. INTERIOR. DIA.
Marcelo sendo trazido
algemado por um policial.
MARCELO - (irritado) Eu ainda não entendi quem é
que... (leva um susto ao ver quem lhe espera) Soninha!
Só então, vemos
Soninha olhando muito séria para Marcelo. Corta
para:
CENA
13. APTO LETÍCIA E JÚLIO. SALA. INTERIOR. DIA.
Letícia chegando em
casa com sacola de compras e acompanhada de Rosália, que como sempre, está
enchendo o saco da filha.
ROSÁLIA - O que é que você tá esperando pra se
acertar de vez com o Gustavo?
LETÍCIA - O Gustavo não quer mais nada
comigo, mãe. E depois... Tem o Júlio.
ROSÁLIA - Que mané Júlio, que nada, Letícia!
Quando é que você vai perceber que o que vocês tiveram não passou de fogo de
palha? Você nunca esqueceu o Gustavo e eu sei que ele também te ama. Só tá com
essa outra porque/
LETÍCIA - Para com isso, mamãe! Eu não vou decidir
nada enquanto não tiver uma conversa decisiva com o Júlio!
Corta
rápido para:
CENA
14. CASA DE VIOLETA. SALA. INTERIOR. DIA.
Sem interrupção de
ritmo de diálogo. Violeta e Júlio.
VIOLETA - E o quê que você tá esperando pra
conversar logo com essa moça, filho? Ela liga pra cá quase todos os dias. Vocês
tem que resolver logo essa situação.
JÚLIO - Ainda não é hora, mãe. Eu sinto
que a Letícia ainda tá bastante dividida. Eu gosto muito dela, mas não tô a fim
de ficar bancando o palhaço, não. Só vou conversar com a Letícia quando ela
tiver certeza do que quer.
VIOLETA - Mas Júlio/
JÚLIO - (corta) Eu vou indo, que eu já
tô atrasado. Não esquece de pegar o Lucas na escola, tá? (beija Violeta) Tchau.
Júlio sai. Violeta
pensativa. Corta para:
CENA
15. DELEGACIA. SALA DE VISITAS. INTERIOR. DIA.
O policial já saiu.
Soninha encara Marcelo.
SONINHA - Por quê? Por que você fez isso comigo?
MARCELO - Vai embora, Soninha! Esse lugar aqui
não é pra você.
SONINHA - Eu tenho o direito de saber, Marcelo.
Por que foi que você me escolheu pra dar um golpe?
MARCELO - Eu não te escolhi pra dar golpe nenhum!
Eu não planejei me aproximar de você. A gente se conheceu por acaso.
SONINHA - Mas quando você soube quem eu sou uma
perua idiota que sustenta todos os namorados, tratou logo de me fazer ficar
caidinha, não é? Pra você eu sou só um cartão de crédito sem limites! Um cartão
que te dava os presentes que você queria, à hora que você queria! É claro que
você não ia abrir mão da boa vida que tinha comigo!
MARCELO - No começo foi por isso mesmo que eu
fiquei com você.
Soninha olha furiosa
para Marcelo, que resolve ser sincero.
MARCELO - Mas aos poucos eu fui vendo a pessoa
maravilhosa que você é. Descobri que por trás dessa capa de perua fútil há uma
mulher generosa, com um grande coração. Eu passei a gostar de ficar com você, a
apreciar a tua companhia. Quando eu vi eu tinha me apaixonado.
SONINHA - Você não espera que eu acredite nisso,
não é?
MARCELO - Você tem todo direito de não acreditar.
Mas é verdade. Quando eu te pedi em casamento, eu já tava gostando de você. E
eu ia largar esse negócio da boate assim que a gente se casasse. Eu queria
muito te fazer feliz.
SONINHA - Você tá dizendo tudo isso pra ver se
eu arranjo um advogado pra te tirar daqui. Mas eu não vou fazer isso. Por mim
você apodrece aqui dentro!
MARCELO - Eu só disse o que eu tava sentindo,
Soninha. Eu sei que eu vou pegar uma cana braba e... Eu não mereço você.
SONINHA - Não merece mesmo! Enquanto você vai
ficar anos mofando aqui dentro, sem ver nem a luz do sol, eu vou estar lá fora,
curtindo as coisas boas da vida. Porque eu não vou desistir de ser feliz, não
vou mesmo. Nem que eu me estrepe mil vezes! Pessoas como você não vão conseguir
acabar comigo!
Soninha pega a bolsa
e vai até a porta. Vira-se para Marcelo.
SONINHA - Sabe o que você foi pra mim? Um garoto
de programa. Só isso. Me deu vários momentos de prazer e foi muito bem pago por
isso. Olhando as coisas por esse prisma, eu vejo que nem tenho motivos pra te
odiar. (T) Até nunca mais, Marcelo.
Soninha bate na
porta. O policia abre e ela sai. Marcelo triste. Corta para:
CENA
16. CARRO DE SONINHA. RUAS. EXTERIOR. TARDINHA.
Mila dirige o carro
para Soninha, que está pensativa.
MILA - Eu te falei que era
masoquismo da tua parte ir naquele lugar ver aquele pilantra. Agora tá aí,
péssima!
SONINHA - Eu tinha que ir lá, Mila, eu tinha que
ir...
As duas ficam em
silêncio. Soninha muito triste. Corta
para:
CENA
17. APTO GUSTAVO E ANDRÉA. QUARTO. INTERIOR. NOITE.
Quarto escuro.
Gustavo e Andréa dormem. O telefone toca e Gustavo acorda, meio atordoado.
Acende o abajur e atende, no momento em que Andréa também acorda, mal humorada.
GUSTAVO - (ao tel) Alô.
Corta
para:
CENA
18. APTO LETÍCIA. SALA. INTERIOR. NOITE.
Sofia muito assustada
falando ao telefone. Planos alternados dela e Gustavo.
SOFIA - (ao tel) Alô, pai!
GUSTAVO - (ao tel) Sofia!
ANDRÉA - Quê que ela quer a essa hora?
Gustavo faz um sinal
para que Andréa se cale.
GUSTAVO - (ao tel) Aconteceu alguma coisa, filha?
SOFIA - (ao tel) A mamãe, pai! Ela tá
trancada no quarto há horas. Eu já bati várias vezes, mas ela não abre. Tô com
medo que ela faça alguma besteira.
GUSTAVO - (ao tel) Fica calma, minha querida! Eu
já tô indo praí!
SOFIA - (ao tel) Não demora, pai, por
favor!
Sofia desliga o
telefone, muito assustada. Corta
para:
CENA
19. APTO GUSTAVO E ANDRÉA. QUARTO. INTERIOR. NOITE.
Andréa indignada
diante de Gustavo, que se veste com pressa.
ANDRÉA - Mais um chilique dela, tá na cara!
GUSTAVO - Eu tenho que ir lá. A Sofia tá muito
assustada. Eu não posso deixar a minha filha/
ANDRÉA - (corta) Você não vai a lugar nenhum,
Gustavo!
GUSTAVO - Mas Andréa/
ANDRÉA - (corta, decidida) Se você sair daqui mais
uma vez por causa dos ataques daquela mulher neurótica, não precisa mais
voltar!
Em Gustavo surpreso e
indeciso diante do ultimato de Andréa, corta
para:
CENA
20. APTO LETÍCIA. QUARTO. CORREDOR. INTERIOR. NOITE.
Letícia sentada no
chão, com a cabeça entre as mãos chorando muito em mais uma crise de depressão.
Tempo na tristeza e solidão dela. Batidas fortes na porta do quarto do lado de
fora.
GUSTAVO - (off) Letícia! Você tá aí?
SOFIA - (off) Mãe!
GUSTAVO - (off) Abre, Letícia! Eu tô aqui, vamos
conversar.
Letícia olha em
direção à porta, mas não se move e continua chorando muito. No corredor,
Gustavo e Sofia continuam batendo na porta.
GUSTAVO - Abre, Letícia, por favor! Sou eu,
Gustavo!
Nenhuma resposta.
Gustavo toma uma decisão.
GUSTAVO - (a Sofia) Pra trás, filha!
Sofia se afasta.
Gustavo toma distância e arromba a porta. Letícia continua no seu lugar,
encolhida, como se tivesse medo de tudo e de todos. Gustavo entra no quarto e
fica comovido ao vê-la assim. Ele vai até ela e a abraça. Letícia desaba nos
braços dele, chorando cada vez mais.
LETÍCIA - (voz entrecortada de soluços) Eu...
Eu não aguento mais, Gustavo! Não aguento!
GUSTAVO - Calma, eu tô aqui! Vou te proteger!
Calma!
Letícia continua
chorando muito, encolhida nos braços de Gustavo, que também está emocionado,
quase chorando. Sofia se aproxima dos pais e os observa, comovida. Na imagem
dos três, Fusão:
CENA
21. SÃO PAULO. STOCK SHOTS. EXTERIOR. AMANHECER. DIA.
O amanhecer na
cidade. Imagens gerais. Corta para:
CENA
22. APTO ANDRÉA E GUSTAVO. SALA. INTERIOR. DIA.
Andréa de camisola,
sentada no sofá. Está arrasada. Rosto inchado e vermelho de quem chorou muito e
passou a noite em claro. Gustavo chega da rua, com aparência de muito cansaço.
Olha desolado para Andréa. Os dois se encaram. Silêncio. Gustavo dá início à
conversa.
GUSTAVO - Andréa, eu/
ANDRÉA - (corta, seca) Não fala mais nada,
Gustavo. É inútil.
GUSTAVO - Você tem que entender que/
ANDRÉA - (corta) Por favor, Gustavo! Não torna
esse momento ainda mais difícil.
Gustavo olha para o
chão. Câmera revela uma mala ao lado do sofá, com todas as roupas dele. Gustavo
entende tudo. Percebe que não adianta tentar mais nada. Pega a mala.
GUSTAVO - Se é isso que você quer...
Gustavo vai saindo
com a mala, muito triste. Andréa não olha para ele. Tenta conter as lágrimas. Gustavo
sai e fecha a porta. Andréa não aguenta mais e desaba no sofá, chorando muito.
Câmera fecha no rosto sofrido dela. Fusão:
CENA
23. APTO ROSÁLIA. SALA. INTERIOR. DIA.
Abre em Rosália,
felicíssima, diante de Letícia, Gustavo, Sofia e Soninha.
ROSÁLIA - Mas que notícia maravilhosa! Eu sabia
que vocês iam acabar se entendendo! (a Sofia) Feliz, minha linda?
SOFIA - Muito, vó!
ROSÁLIA - (abraça Sofia) Ô, querida! (a
Letícia) Espero que você tenha aprendido a lição! Vê se não estraga tudo outra
vez!
LETÍCIA - Pode deixar, mãe. Eu prometo que
vou começar a fazer análise!
GUSTAVO - Essa foi uma das condições que eu impus
pra gente tentar outra vez, Rosália. A Letícia precisa se tratar dessa
depressão e aprender a controlar os ciúmes.
LETÍCIA - Eu prometo que não vou te
desapontar.
Os dois dão um
selinho.
SONINHA - Vocês vão voltar pro apartamento
antigo?
LETÍCIA - Vamos, mas antes eu preciso
conversar com uma pessoa.
Letícia pensativa. Corta para:
CENA
24. LUGAR BONITO E TRANQUILO. EXTERIOR. DIA.
A mesma paisagem onde
Júlio e Letícia conversaram no capítulo 1. Júlio diante de Letícia.
LETÍCIA - Eu fiz questão de falar com você
nesse lugar. Afinal foi aqui que a gente conversou pela primeira vez. Eu tava
tão abalada naquele dia e você foi tão gentil comigo, me ajudou tanto! (T) Por
favor, Júlio, não fica chateado comigo! Eu gostaria muito de continuar contando
com a sua amizade!
JÚLIO - É claro que eu não tô chateado,
Letícia. Só tô um pouco triste, porque no fundo eu tinha esperanças que você
pensasse e percebesse que não podia viver sem mim. (T) Eu não vou mentir. Eu
ainda gosto muito de você, não dá pra simplesmente ser seu amigo e fingir que
nada aconteceu. O que a gente viveu foi muito especial, pelo menos pra mim.
LETÍCIA - Pra mim também, Júlio. Você foi
muito importante na minha vida! Me ensinou a ser uma pessoa mais forte.
JÚLIO - Eu não acho que depender tanto
de alguém como você depende do Gustavo, seja típico de uma pessoa forte.
LETÍCIA - Se você vai mudar o tom da
conversa, acho melhor/
JÚLIO - (corta) Eu tentei te
transformar numa pessoa mais independente, quis mostrar que você não precisava
de homem nenhum ao seu lado pra ser uma pessoa realizada, que não é porque o
seu casamento acabou, que a sua vida ia acabar também. Pelo contrário. Você
podia ir à luta, tentar se realizar de outra maneira, exercendo a sua
profissão.
LETÍCIA - Eu tentei, Júlio. Você sabe que eu
tentei. Não foi nada fácil pra mim, mudar
praquele apartamento pequeno, levar aquela vida simples do seu lado! Eu tentei
me realizar dando aulas, mas eu percebi que aquilo não é pra mim. Eu não tenho
paciência pra aguentar aquelas crianças, eu ficava completamente esgotada
depois de um dia inteiro com elas. Talvez se eu tivesse começado mais cedo...
(T) Eu sempre fui dona de casa, Júlio. Sempre vivi pra cuidar da minha filha e
do/
JÚLIO - (corta) Sempre viveu em função
dos outros, como você mesma me disse uma vez.
LETÍCIA - Que seja! Eu sempre vivi desse
jeito, é muito tarde pra tentar mudar agora.
JÚLIO - Essa é a maior diferença entre
nós dois. Pra mim nunca é tarde pra tentar ser feliz, mesmo que pra isso a
gente tenha que dar uma virada radical na vida! Mas você prefere ficar presa a
um casamento sem amor.
LETÍCIA - Eu gosto muito do Gustavo, amo
ele.
JÚLIO - Não ama, não. O Gustavo é só um
porto seguro pra você, que tem medo de enfrentar a vida e por isso acha mais
conveniente ficar com ele e se agarrar à falsa sensação de felicidade que o
conforto te dá. Mas com o tempo você verá que isso não é suficiente.
LETÍCIA - Você não tem o direito de/
JÚLIO - (corta) Eu só tô te dizendo a
forma como eu enxergo as coisas, Letícia. Eu te agradeço por ter me procurado
pra me falar da sua decisão. Isso mostra que você tem pelo menos algum respeito
por mim e pela história que nós vivemos juntos. Agora eu me sinto livre pra
recomeçar a minha vida com o meu filho, que é a pessoa que eu mais amo no
mundo. (T) Eu só lamento por você, que tá jogando fora a única chance que tinha
de ser feliz de verdade. Tchau, Letícia.
Júlio se afasta.
Letícia o observa, triste. Corta
para:
CENA
25. SÃO PAULO. STOCK SHOTS. EXTERIOR.
Takes rápidos da
cidade. Passagem de tempo. Legenda: Alguns meses depois. Termina na fachada da
casa de Violeta. Corta para:
CENA
26. CASA DE VIOLETA. SALA. INTERIOR. DIA.
Violeta assustada
diante de Júlio.
VIOLETA - Tem certeza, filho?
JÚLIO - Acabou de dar na televisão,
mãe. O Rubens conseguiu fugir do presídio. E o parceiro dele, aquele que ia casar
com a Soninha, também tentou fugir, mas acabou baleado pela polícia e morreu.
VIOLETA - E agora, Júlio? Se esse tal de
Rubens tentar fazer alguma coisa com você ou com o Lucas?
JÚLIO - Eu duvido, mãe. O Rubens tá
interessado é em salvar a própria pela. À essa hora ele tá longe. Espero nunca
mais ter que olhar pra cara dele.
Violeta continua
apreensiva. Corta para:
CENA
27. APTO SONINHA. SALA. INTERIOR. DIA.
Soninha séria com um
jornal na mão, olhando uma notícia que não vemos. Letícia ao lado dela.
LETÍCIA - Não vai falar nada?
SONINHA - Falar o quê? O Marcelo foi quem procurou
isso. Quem mandou entrar pra essa vida?
LETÍCIA - Você é mesmo uma caixinha de
surpresas, Soninha.
SONINHA - Só deixei de ser boba, Letícia. Homem
agora é material descartável, minha filha. Eu só uso e jogo fora! (pega o
retrato de Giácomo) Eu te juro diante da foto do Giácomo, que era um santo e
que foi o único homem da minha vida que prestou: casamento nunca mais! No way!
Corta
rápido para:
CENA
28. CASA DE FESTAS. INTERIOR. NOITE.
Abre no Juiz falando.
JUIZ - Eu vos declaro marido e
mulher.
Soninha muito feliz,
beijando seu novo marido, Inácio (33). Entre os convidados que aplaudem:
Letícia, Gustavo, Mila e Rosália, abraçada com um rapaz bem jovem, seu
namorado. Depois do beijo, Soninha abraça o noivo, emocionada.
SONINHA - (em pensamento) Desculpa, Giácomo! Eu
juro que tentei resistir.
Corta
para:
CENA
29. CASA DE FESTAS. INTERIOR. NOITE.
Plano geral. Câmera
explora o ambiente, mostrando todo o luxo da festa. Soninha e Inácio andam
cumprimentando os convidados. Imprensa tirando fotos, jornalistas entrevistando
os convidados, etc. Câmera vai até Mila, que conversa com uma amiga.
MILA - Dessa vez a Soninha tirou a
sorte grande! O Inácio é dono de um dos maiores escritórios de arquitetura de
São Paulo. Podre de rico, menina!
AMIGA - Pelo menos dessa vez ela tem
certeza que o noivo não tá de olho no dinheiro dela, né?
Câmera sai delas e
vai até Letícia e Gustavo. Ele bebe.
LETÍCIA - Se continuar bebendo assim, vai
ficar embriagado.
GUSTAVO - Já vai começar, Letícia? Será que eu
não posso beber um pouco nem na festa do casamento da sua irmã?
Gustavo se afasta,
irritado. Nesse momento Letícia vê Júlio, que está chegando. Ele parece muito
bem. Os dois se olham. Soninha o vê e vai até ele.
SONINHA - Júlio, que bom te ver!
JÚLIO - Você insistiu tanto que eu não
podia deixar de vir.
SONINHA - Eu ia cortar relações se você não viesse.
Não é porque você não tem mais nada com a Letícia, que a gente ia deixar de ser
amigo. E a dona Violeta?
JÚLIO - Não pôde vir, mas te mandou um
beijo. Ficou cuidando do Lucas.
SONINHA - Ai, me conta, como é que ele tá?
Júlio e Soninha ficam
conversando fora de áudio. Câmera vai até Rosália, que se derrete pra cima do
namorado.
ROSÁLIA - Lua de mel em Veneza. A Soninha que
escolheu. Quer ficar longe do Brasil durante a copa. Já pensou, que romântico?
Algo me diz que em breve eu e você vamos ter o mesmo destino na nossa
lua de mel.
NAMORADO - É tudo que eu mais quero, amor.
Os dois dão um
selinho e se abraçam. Namorado vê uma linda loura ao longe e pisca para ela,
que também pisca para ele, de modo a deixar claro que os dois planejam dar um
golpe em Rosália. Corta para Gustavo andando meio irritado pela festa. Sem
querer, ele esbarra em uma mulher.
GUSTAVO - Desculpa, eu/
A mulher se vira e
Gustavo leva um susto ao ver Andréa, que está mais linda do que nunca. Ela
sorri para ele.
GUSTAVO - Andréa?
ANDRÉA - Como vai, Gustavo?
GUSTAVO - Pôxa, você sumiu. Eu não tive mais notícias
suas depois que você pediu demissão do escritório. Achei até que tinha mudado
de cidade.
ANDRÉA - (ri) Mudei só de escritório. Eu
trabalho com o Inácio, marido da Soninha. Tô construindo a casa onde os dois
vão morar. E você e a Letícia, como estão?
GUSTAVO - (sem entusiasmo) Muito bem. Você...
ANDRÉA - Eu não tô com ninguém, se é isso que
você quer saber. Tô inteiramente dedicada ao trabalho. Mas eu fico feliz por
você e pela Letícia.
Os dois continuam
conversando. Câmera sai deles e vai até Letícia, que os observa de longe,
tentando controlar a raiva. Júlio vem até ela.
JÚLIO - Tudo bem, Letícia?
LETÍCIA - Tudo ótimo, Júlio. E você, como
vai?
JÚLIO - Vou levando. Você tá mais linda
do que nunca.
LETÍCIA - (corando) Obrigada. Você também tá
ótimo.
JÚLIO - Vejo que voltar pro Gustavo te
fez muito bem. Vocês superaram mesmo a crise?
LETÍCIA - Completamente. Eu e o Gustavo
vivemos às mil maravilhas.
JÚLIO - Fico feliz por vocês.
LETÍCIA - Obrigada. Bom, eu vou chamar o
Gustavo pra ir embora. Tô com um pouco de dor de cabeça. Acho que bebi demais. (T)
Foi muito bom te ver, Júlio.
JÚLIO - Igualmente.
Os dois se abraçam.
Letícia se afasta. Júlio a observa sorrindo. Corta para:
CENA
30. APTO LETÍCIA E GUSTAVO. QUARTO. INTERIOR. NOITE.
Quarto quase
totalmente escuro. Apenas um abajur aceso ao lado de Letícia, que lê um livro.
Gustavo parece dormir, virado de costas para ela. Câmera vai se aproximando aos
poucos. Letícia para de ler o livro e fica pensativa um instante. Olha para
Gustavo e se aproxima dele, tentando lhe fazer um carinho, mas desiste ao ver
que ele dorme. Letícia bebe um copo d’água. Close de Gustavo, que abre os
olhos, pois apenas finge que dorme. Ele fica pensativo. Letícia pega o livro e
tenta continuar lendo, mas logo desiste. Está triste e muito pensativa. Câmera
se afasta devagar da enorme cama, transmitindo o clima de solidão que os dois
sentem, apesar de estarem juntos. Completamente infeliz, Letícia desiste de ler
e apaga o abajur. Corta para:
CENA
31. FRENTE DA CASA DE FESTAS. EXTERIOR. NOITE.
Cai uma chuvinha fina.
Vários convidados saindo da festa do casamento, entre eles Andréa, muito
apressada. Está sem capa e tenta se proteger da chuva com a bolsa. Procura um
táxi, muito aflita. Finalmente vê um e faz sinal.
ANDRÉA - Táxi, táxi!
O táxi para um pouco
longe e ela corre até lá, mas se decepciona ao ver que o táxi parou para um homem
que ela não tinha visto. É Júlio.
ANDRÉA - Desculpe, eu não tinha visto você.
Pode entrar. Eu procuro outro táxi.
JÚLIO - (ri) Encontrar um táxi a essa
hora com essa chuva não vai ser fácil.
ANDRÉA - (ligeiramente irritada) Pode ser
difícil, mas eu vou tentar.
Júlio continua rindo.
Andréa se irrita ainda mais.
ANDRÉA - Posso saber do que você tá rindo?
JÚLIO - Você acha que eu ia ter coragem
de te deixar nessa chuva? Vai, entra aí! A gente divide o táxi.
ANDRÉA - (indecisa) Melhor não. Foi você quem chamou
e/
JÚLIO - (corta) Se você não entrar, eu
também não vou.
Andréa continua
indecisa.
JÚLIO - Vai logo! (e vendo que ela não
se mexe) Tudo bem, se você não quer ir comigo, pode ir sozinha, eu me viro.
TAXISTA - (irritado) Como é que é, vão entrar
ou não?
JÚLIO - Tá vendo? A Gente vai acabar
perdendo o táxi.
ANDRÉA - Mas é que a gente nem se conhece e/
JÚLIO - (corta) Ah, o velho papo de não
sair com estranhos. Por que todas as mulheres têm que ser tão paranoicas, hein?
ANDRÉA - Olha aqui, paranoica é a/
JÚLIO - (corta) Se saber quem eu sou é
tão importante assim pra você, não seja por isso. (estende a mão) Meu nome é
Júlio. E o seu?
Andréa não resiste e
acaba rindo. Pega na mão dele.
ANDRÉA - Prazer, Júlio. Andréa.
Os dois sorriem um
para o outro ainda apertando as mãos.
JÚLIO - Podemos ir agora, Andréa?
ANDRÉA - Podemos.
Os dois entram no
táxi ainda rindo da situação. A chuva aumenta de intensidade. Música suave toma
conta da cena. Na imagem do táxi se distanciando cada vez mais, Fade-out.
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