Por Isaac Santos
Nem
só de sucessos é construída a carreira de um artista. Artista, segundo o
Dicionário Aurélio, pessoa que exerce uma das belas artes; pessoa que exerce um
ofício com gosto; pessoa que interpreta uma obra musical, teatral,
cinematográfica, coreográfica; um operário, um artífice, enfim, também um autor
de novelas, um dramaturgo, roteirista que desempenha suas funções com
excitação, com talento, é um artista. Aliás, uma arte para poucos. Há que se
ter dom, mas, sobretudo capacidade de buscar constante aperfeiçoamento.
Semana
passada li alguns comentários desagradáveis sobre uma “possível” má vontade da
Record em produzir um novo trabalho de autoria do Lauro Cesar Muniz, e que este
estaria com o seu futuro traçado pela emissora: terminaria o seu contrato sem
renovação e até lá ficaria na “geladeira”. Tudo sob a justificativa de sua
novela mais recente não ter obtido o sucesso desejado pela empresa, e
obviamente, pelo autor. Prefiro não acreditar nessas boatarias, mas sendo
verdade, só lamento, e não pelo profissional citado, mas pela imaturidade
[irresponsabilidade] de quem decidir por tamanha injustiça.
Logo
me lembrei de [Mário Prata, Antônio Calmon... quais outros?!] outro competente
profissional que parece estar inserido num mesmo contexto, embora noutra
emissora. Estou falando de Bosco Brasil, que em 2010 estreou como autor titular
de novelas da Globo.
O
horário das sete foi o escolhido para levar ao ar a trama Tempos Modernos. A
novela foi lançada com toda pompa peculiar aos novos produtos da emissora. Não
faltou incentivo pra que fosse um sucesso, repetisse os altos índices obtidos
com a exibição de Caras e Bocas, sua antecessora. Mas, infelizmente o público
não correspondeu. A trama não por acaso recebeu o título ‘Tempos Modernos’. O
autor pretendia contar uma história que incluía, entre outros, elementos
futurísticos, vide a existência de um humanóide num dos núcleos principais,
computador que dialogava com personagens, personagens sob vigilância constante
de câmeras, enfim. Quando percebeu que sua novela estava vulnerável, que não havia,
por parte do público, a necessária identificação com a proposta, decidiu fazer as
“devidas” alterações, mas aí já não conseguiu reverter a situação com louvor.
Curiosamente,
também o Lauro Cesar Muniz experimentou esse universo futurístico em Transas e
Caretas [1984], uma de suas novelas na Globo.
Tempos
Modernos tinha um elenco de novela das oito, trilha sonora harmoniosa, texto
inteligente, crítico, equipe competente envolvida no projeto. Mas... Não
funcionou como se esperava.
A
supervisão [como é habitual na estréia de autores em projeto solo] da novela
coube ao experiente Aguinaldo Silva. Em entrevista [aqui na íntegra] ao blog em
2011, o autor/supervisor se isentou de dividir com o titular da trama a responsabilidade
pelo insucesso de Tempos Modernos, mas justificou:
“A novela Laços de Sangue, da qual você é
supervisor, é sucesso de audiência e de crítica em Portugal, o mesmo não
aconteceu com Tempos Modernos, exibida pela Rede Globo em 2010. Como supervisor
do autor Bosco Brasil, você também se sente responsável pelo relativo fracasso?
Aguinaldo Silva - Não, porque o autor Bosco Brasil ignorou totalmente os conselhos que
lhe dei, e deu à novela um encaminhamento com o qual não concordei desde o
começo. Ou seja: não se pode dizer que fui o supervisor de Tempos Modernos, no
máximo li os capítulos.”
Engana-se quem pensa que o Bosco Brasil caiu de pára-quedas no rol
disputadíssimo de autores de teledramaturgia. Ele é formado pela Escola de
Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo. Com diversas peças teatrais
já encenadas, destaco Novas Diretrizes em Tempos de Paz [2001], que em 2009
ganhou uma versão cinematográfica [Tempos de Paz] pelas mãos experientes do
Daniel Filho.
Em 1994 o SBT exibia a sua versão de As Pupilas do Senhor Reitor, novela
escrita por Lauro Cesar Muniz [com base no romance homônimo de Júlio Diniz], e
adaptada com louvor por Bosco Brasil e Ismael Fernandes.
Já na Globo, dá continuidade a uma carreira notória: em 1997 colabora
com Alcides Nogueira na novela O Amor Está no Ar.
Emenda noutro trabalho. Desta vez como colaborador de Maria Adelaide
Amaral na novela Anjo Mau [1997/1998].
Volta a trabalhar com Alcides Nogueira e pela primeira vez com Silvio de
Abreu, colaborando na novela Torre de Babel [1998].
Ratificando a sua competência, trabalha mais uma vez colaborador do
Silvio de Abreu, na novela As Filhas da Mãe [2001].
Ainda na Globo, faz em 2002 o seu último trabalho como colaborador, na
novela Coração de Estudante, de Emanuel Jacobina.
É contratado pela Record em 2005, quando colabora com Rosane Lima e
Marcílio Moraes na autoria da novela Essas Mulheres.
Na mesma emissora, alçou status de autor titular da novela Bicho do Mato
[2006]. Em parceria com Cristianne Fridman adaptou a trama já exibida pela
Globo no anos 70.
E só depois de ter vivido as experiências mostradas é que ele encara o
desafio de Tempos Modernos.
... Ora, qual seria a postura ideal a ser assumida por uma emissora de
TV depois da exibição de uma produção “fracassada”? De quem é a “culpa”, de quem
cobrar a conta que não bateu? Houve falha na idealização ou equívocos na
realização do projeto? E este deveria ter sido aprovado?
Qual destino dar ao objeto humano responsável pela obra mal sucedida?
Serve ainda pra alguma coisa? Esconder, subaproveitar ou descartá-lo? O exagero
é proposital!
... E que venham novos e bons tempos pro Bosco Brasil e pra outros
tantos profissionais que se enquadrem no que foi exposto.
Algumas novelas são um sucesso, eu assisti todas as novelas desse autor. Mas tempos modernos foi uma novela muito ruim e sem nexo com computadores e coisas modernas, mas enfim não e teve uma coisa que estimulace os telespectadores. Mas enfim sucesso pra ele.
ResponderExcluirSucesso para você.
http://rodrigobandasoficial.blogspot.com.br/
Valeu pela sua presença aqui, Rodrigo... já dei uma passadinha em seu blog também. Abraço e volte mais vezes!
ExcluirSou amiga e fã do Bosco. Fiz a novela. Mas creio que consiga olhar com isenção pra tudo, pois me aproximei dele em função do brilhante profissional que é. Tenho fé que ainda teremos grandes trabalhos dele. No cinema, no teatro e sim, na TV!
ResponderExcluirJanaína Ávila
presença ilustre, rs... valeu, Janaina. Sucesso pra você nessa nova fase na Record.
ExcluirEu assisti alguns capitulos de Tempos Modernos e sempre torço por autores que começam a aparecer na primeira linha seja de que emissora for. Näo acredito que seja falha de quem escolheu este projeto nem de Bosco Brasil, porque ninguem é burro ao ponto de dizer vou fazer um fracasso, eu acredito que talvez ainda näo estejamos prontos para receber novidades, como foi a proposta do Bosco, infelizmente o publico está acostumado com as tramas de traiçöes, intrigas, brigas familiares e por ai vai...inovar foi a proposta do Bosco mas infelizmente näo foi o momento certo, mas näo podemos recriminar um ser porque esse trabalho näo deu certo...Quantos produtores arriscam em projetos que näo däo certo... Nunca vi alguem dizer, espera ai, vou ali fazer um fracasso e já volto. Isso nunca! o problema é que nós precisamos nos atualizar para acompanhar essas propostas desses autores que veem mais a frente que muitos de nós. Desejo de coraçäo que Bosco Brasil e Lauro Cesar Muniz, estejam em breve nas telinhas realizando grandes trabalhos e que os senhores diretores das emissoras entendam que as vezes podemos errar, mas deixamos bem claro que o erro näo foi só do autor e sim de toda uma equipe, produçäo e diretores de dramaturgia que apostaram em um trabalho que näo foi bem recebido...tudo isso precisa ser repensado...Boa Sorte a todos os envolvidos.
ResponderExcluirvaleu, venha mais vezes ao blog!
ExcluirDe fato, Bosco Brasil ainda não teve a oportunidade que bem merece... Estou torcendo muito pra que ele deslanche na TV... só desta forma serão reconhecidos sim os outros trabalhos em dramaturgia... assim é que é... a mídia, sempre a mídia...
ResponderExcluirMauro Gianfrancesco
torçamos por ele, Marcelo... obrigado por mais uma vez te ver por aqui.
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