segunda-feira, 22 de julho de 2013

Rede Manchete - a "televisão do ano 2000" - Parte 1


Por Fábio Costa

Se estivesse no ar, a extinta Rede Manchete teria completado três décadas de atividade no dia 5 de junho. Marcou a história da televisão brasileira por suas investidas ousadas nos setores da teledramaturgia e do jornalismo, programas infantis de qualidade, musicais nacionais e internacionais, programação de bons filmes e séries e em especial pela alternativa de qualidade que simbolizava ante à hegemonia da Rede Globo, à grade assumidamente popularesca do SBT e ao esporte constante da Rede Bandeirantes.

A história da Rede Manchete de Televisão remonta não a 1983, mas a dois anos antes, 1981, quando o governo abriu concessão para redistribuir os canais da recém-extinta Rede Tupi e também outros dois que na ocasião já estavam inativos havia mais de dez anos: o canal 9 paulista (TV Excelsior) e o canal 9 carioca (TV Continental). Eram ao todo sete emissoras das Associadas mais as duas supracitadas; nove canais, divididos em duas redes. O governo tinha por objetivo criar não uma, mas duas novas redes que simbolizariam nova concorrência à hegemonia global mais do que instaurada e afirmada dia a dia pelos altos índices de audiência alcançados por seus programas.

Finalizado o processo, que teve como partes interessadas o Grupo Abril, Henry Maksoud e o Jornal do Brasil, entre outros, decidiu-se que cinco emissoras ficariam com as Edições Bloch e as outras quatro seriam do Grupo Silvio Santos. Assim, deu-se início ao SBT (que na ocasião já contava com o canal 11 do Rio de Janeiro) e à Rede Manchete. Enquanto Silvio Santos inaugurou seus novos canais em agosto do mesmo ano (1981), a Manchete ainda levaria quase para iniciar suas atividades quase o prazo limite para que as concessões não fossem perdidas (dois anos).

Adolpho Bloch, fundador da Rede Manchete.
A emissora entrou no ar de forma oficial em 5 de junho de 1983, às 19 horas. Seria em 29 de maio, mas optou-se por adiar em uma semana a entrada da emissora no ar para que todos os equipamentos fossem checados e funcionassem sem problemas. Após o top de oito segundos, um erro durante o discurso de Adolpho Bloch fez com que entrasse no ar o primeiro comercial da Manchete (que foi do óleo para automóveis Lubrax-4, da Petrobras), voltando em seguida a imagem do dono das Empresas Bloch, que enfim pôde fazer seu discurso de inauguração, breve e amistoso para com as demais emissoras de televisão em operação no Brasil.

O primeiro programa da Rede Manchete chamou-se Mundo Mágico, mescla de números musicais ao vivo com outros pré-gravados e um apanhado jornalístico do que compunha o conglomerado Bloch. Entre outros artistas, apresentaram-se no programa Ney Matogrosso, Paulinho da Viola, Elba Ramalho, Alceu Valença, Astor Piazzola, a dupla Kleiton e Kledir, a banda Blitz e o pianista Arthur Moreira Lima. Por volta das 22 horas entrou no ar o primeiro filme pela emissora: Contatos Imediatos de Terceiro Grau, de Steven Spielberg, protagonizado por Richard Dreyfuss. A Manchete chegou ao primeiro lugar de audiência e os acordes iniciais do tema do filme foram por algum tempo uma espécie de “plim plim” da emissora. Terminado o filme, mais ou menos à uma da madrugada da segunda-feira, 6 de junho, a Manchete encerrou suas transmissões inaugurais.

Um dos muitos logotipos que o Jornal da Manchete teve.
Na segunda a programação entrou no ar às 17 horas com o Clube da Criança, infantil apresentado pela modelo e atriz Xuxa Meneghel, com brincadeiras no palco e desenhos animados então inéditos na televisão. Logo após, às 19 horas, concorrendo com o primeiro capítulo da novela global das sete Guerra dos Sexos, de Sílvio de Abreu, foi ao ar o primeiro Jornal da Manchete, que ficou no ar até as 20h40 com apresentação de Carlos Bianchini e Ronaldo Rosas. Logo após o término do capítulo da novela global das oito, Louco Amor, de Gilberto Braga, a Manchete colocava no ar séries que chamaram a atenção como O Caçador de Aventuras, Trapper John - MédicoFama (que partiu do filme homônimo) e Acredite se Quiser, apresentada por Jack Palance (e que em 1985 ganhou um segmento brasileiro apresentado por Walter Forster, veterano ator da Tupi).

Walmor Chagas no comando do musical Bar Academia.

Em seus primeiros meses no ar, a Rede Manchete já começou a se firmar como uma opção de qualidade para o público, com um jornalismo de prestígio, bons filmes e séries, musicais como o Bar Academia (apresentado por Walmor Chagas), as entrevistas de Roberto D’Ávila no Conexão Internacional (que está no ar até hoje, exibido pela TV Brasil com o nome de Conexão Roberto D’Ávila) e o Programa de Domingo (espécie de Fantástico da Manchete, que ficaria no ar durante todo o período de operação da emissora).

Num só texto é impossível abarcar o que a Rede Manchete deixou na lembrança em todos os gêneros de programação televisiva e em nossa memória afetiva. Por isso, nas próximas semanas falarei mais sobre a TV de Adolpho Bloch, os programas musicais, infantis e de variedades, musicais, o jornalismo, as séries e sessões de filmes, as produções de teledramaturgia; seus altos e baixos, sua trajetória marcante.

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