Por Fábio Costa
Se
estivesse no ar, a extinta Rede Manchete teria completado três décadas de
atividade no dia 5 de junho. Marcou a história da televisão brasileira por suas
investidas ousadas nos setores da teledramaturgia e do jornalismo, programas
infantis de qualidade, musicais nacionais e internacionais, programação de bons
filmes e séries e em especial pela alternativa de qualidade que simbolizava
ante à hegemonia da Rede Globo, à grade assumidamente popularesca do SBT e ao
esporte constante da Rede Bandeirantes.
A
história da Rede Manchete de Televisão remonta não a 1983, mas a dois anos
antes, 1981, quando o governo abriu concessão para redistribuir os canais da
recém-extinta Rede Tupi e também outros dois que na ocasião já estavam inativos
havia mais de dez anos: o canal 9 paulista (TV Excelsior) e o canal 9 carioca
(TV Continental). Eram ao todo sete emissoras das Associadas mais as duas
supracitadas; nove canais, divididos em duas redes. O governo tinha por
objetivo criar não uma, mas duas novas redes que simbolizariam nova
concorrência à hegemonia global mais do que instaurada e afirmada dia a dia
pelos altos índices de audiência alcançados por seus programas.
Finalizado
o processo, que teve como partes interessadas o Grupo Abril, Henry Maksoud e o
Jornal do Brasil, entre outros, decidiu-se que cinco emissoras ficariam com as
Edições Bloch e as outras quatro seriam do Grupo Silvio Santos. Assim, deu-se
início ao SBT (que na ocasião já contava com o canal 11 do Rio de Janeiro) e à
Rede Manchete. Enquanto Silvio Santos inaugurou seus novos canais em agosto do
mesmo ano (1981), a Manchete ainda levaria quase para iniciar suas atividades
quase o prazo limite para que as concessões não fossem perdidas (dois anos).
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Adolpho Bloch, fundador da Rede Manchete. |
A
emissora entrou no ar de forma oficial em 5 de junho de 1983, às 19 horas.
Seria em 29 de maio, mas optou-se por adiar em uma semana a entrada da emissora
no ar para que todos os equipamentos fossem checados e funcionassem sem
problemas. Após o top de oito segundos, um erro durante o discurso de Adolpho
Bloch fez com que entrasse no ar o primeiro comercial da Manchete (que foi do
óleo para automóveis Lubrax-4, da Petrobras), voltando em seguida a imagem do
dono das Empresas Bloch, que enfim pôde fazer seu discurso de inauguração,
breve e amistoso para com as demais emissoras de televisão em operação no
Brasil.
O
primeiro programa da Rede Manchete chamou-se Mundo Mágico, mescla de números
musicais ao vivo com outros pré-gravados e um apanhado jornalístico do que
compunha o conglomerado Bloch. Entre outros artistas, apresentaram-se no
programa Ney Matogrosso, Paulinho da Viola, Elba Ramalho, Alceu Valença, Astor
Piazzola, a dupla Kleiton e Kledir, a banda Blitz e o pianista Arthur Moreira
Lima. Por volta das 22 horas entrou no ar o primeiro filme pela emissora: Contatos Imediatos de Terceiro Grau, de
Steven Spielberg, protagonizado por Richard Dreyfuss. A Manchete chegou ao
primeiro lugar de audiência e os acordes iniciais do tema do filme foram por
algum tempo uma espécie de “plim plim” da emissora. Terminado o filme, mais ou
menos à uma da madrugada da segunda-feira, 6 de junho, a Manchete encerrou suas
transmissões inaugurais.
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Um dos muitos logotipos que o Jornal da Manchete teve. |
Na
segunda a programação entrou no ar às 17 horas com o Clube da Criança, infantil
apresentado pela modelo e atriz Xuxa Meneghel, com brincadeiras no palco e
desenhos animados então inéditos na televisão. Logo após, às 19 horas,
concorrendo com o primeiro capítulo da novela global das sete Guerra dos Sexos,
de Sílvio de Abreu, foi ao ar o primeiro Jornal da Manchete, que ficou no ar
até as 20h40 com apresentação de Carlos Bianchini e Ronaldo Rosas. Logo após o
término do capítulo da novela global das oito, Louco Amor, de Gilberto Braga, a
Manchete colocava no ar séries que chamaram a atenção como O Caçador de
Aventuras, Trapper John - Médico, Fama (que partiu do filme homônimo) e Acredite se Quiser,
apresentada por Jack Palance (e que em 1985 ganhou um segmento brasileiro apresentado por Walter Forster, veterano ator da Tupi).
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Walmor Chagas no comando do musical Bar Academia. |
Em
seus primeiros meses no ar, a Rede Manchete já começou a se firmar como uma
opção de qualidade para o público, com um jornalismo de prestígio, bons filmes
e séries, musicais como o Bar Academia (apresentado por Walmor Chagas), as
entrevistas de Roberto D’Ávila no Conexão Internacional (que está no ar até
hoje, exibido pela TV Brasil com o nome de Conexão Roberto D’Ávila) e o
Programa de Domingo (espécie de Fantástico da Manchete, que ficaria no ar
durante todo o período de operação da emissora).
Num
só texto é impossível abarcar o que a Rede Manchete deixou na lembrança em
todos os gêneros de programação televisiva e em nossa memória afetiva. Por
isso, nas próximas semanas falarei mais sobre a TV de Adolpho Bloch, os
programas musicais, infantis e de variedades, musicais, o jornalismo, as séries
e sessões de filmes, as produções de teledramaturgia; seus altos e baixos, sua
trajetória marcante.
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