Por Eduardo Vieira
Existem
dois tipos de remakes – aqueles que respeitam o máximo possível o original e
outros que passam longe, ou seja, tornam-se outra história.
Esse
segundo é o caso da novela de Gustavo Ruiz, Dona Xepa, adaptação livre da peça
de Pedro Bloch já levada ao ar como teledramaturgia em 78, em uma brilhante
adaptação do autor Gilberto Braga.
Não
é à toa que tal trama ainda resista aos dias de hoje, mesmo o núcleo principal
– jovem com vergonha da mãe deseja ascensão social a todo custo – esteja em
quase todos os folhetins. O plot ainda emociona pela figura redentora da mãe
coragem impregnada de honestidade por todos os lados.
No
papel imortalizado por Yara Cortes, na TV Globo, houve uma excelente escolha,
dando o primeiro papel central a uma atriz sempre muito competente, hoje mais
conhecida por ser a mãe de outra ótima atriz, Leandra Leal - Ângela Leal que
sempre se destacou na tevê; podemos até comprovar isso com a reprise de Água
Viva, em que ela faz a sofrida Sueli.
Para
quem se queixa da falta de papéis para mulheres mais velhas, a feirante
iletrada e super espontânea que trabalha a vida inteira apenas para ajudar os
filhos é um prato cheio. E a atriz arrebenta, seja em cenas cômicas, com seus
bordões... “os problema tudo”, “expressoroso” ou em cenas de verdadeira
humilhação, com a filha e também com os personagens de Angelina Muniz e Luiza
Thomé.
O
remake da Record apresenta como núcleo uns 4 personagens iguais à primeira
trama, Xepa, Rosália, Edson e a fiel escudeira de Xepa, a agregada Camila.
Aliás, quanto a Rosália, não é mais possível comentar esse papel sem notar que
ela é projeto de um personagem que já se tornou um arquétipo teledramatúrgico, Maria de Fátima, feito
por Glória Pires em Vale Tudo, não por coincidência também de Gilberto
Braga.
Aliás,
nesse remake vemos que Rosália, feita com perfeição por Thaís Fersoza (e a
Globo ainda perde tempo com Mariana Rios!) tem muito mais tintas da personagem
de Glória do que a original feita pela atriz Nívea Maria.
Também
se sente uma agilidade na costura da novela que lembra de longe outro remake da
casa, Betty, a feia, pois as duas giram em torno de uma empresa. No caso da
nova D. Xepa, temos uma de produtos alimentícios, a Sabor& Luxo, que vem
fundir os núcleos da novela.
Ainda,
como na versão original também se tem os núcleos tanto de drama quanto os mais
cômicos. Os personagens da fictícia vila paulista do antigo bonde são
responsáveis por essa trama, com destaque pra ótima atuação de Manoelita
Lustosa, aquela que foi a avó desalmada em Mulheres Apaixonadas, como uma
brasileira que diz ser japonesa (talvez uma homenagem a Beatrice Lillle em
Positivamente Millie?) e outros menos inspirados como o da mulher fruta para
dar um ar de atualização ao remake.
Outra
atriz que também não havia dito ao que veio na globo e esteve muito angelical
foi Pérola Faria, fazendo a aspirante a estilista, Yasmin.
Assim
como Pérola, outros atores jovens deram bastante conta do recado, como os ex-Rebelde
Arthur Aguiar, como o filho Edson e Rayana Carvalho, como Lis.
O
autor e sua equipe mostraram inteligência em mudar o contexto, já que se sabe
que hoje os valores e gostos de pobres e ricos confundem-se e há maior consumo
de elementos unicamente considerados de uma classe mais baixa. Isso se percebe
quando é industrializada a comida típica da vila, a chamada entulhada da Xepa,
dando à personagem uma estabilidade social. Com isso nota-se claramente que o
preconceito é mais comportamental do que puramente social como na versão
anterior em que o dinheiro era a grande muralha que separava o ambiente da
feira da riqueza dos personagens da classe A, classe, aliás, inexistente nessa
adaptação.
Claro
que os personagens coadjuvantes da versão de 78 eram bem mais consistentes e
serviram mais à trama principal. Nesse novo arranjo há também tramas mais
interessantes e outras descartáveis. Luiza Thomé destacou-se como a socialite
Meg Pantaleão, a atriz esteve muito inspirada como uma espécie de Tereza
Cristina do bem com sua Crô, Lidiane Cristina (Ana Zettel), uma governanta atrapalhada que
deseja ser um clone da patroa, e como ela, adora tomar uma “champa” e repetindo
à exaustão o bordão “adoooooro”.
Também
funcionou o triângulo entre Júlio César, Meg e Pérola, personagem de Angelina
Muniz às voltas com a procura de um filho roubado na sua juventude. Aliás, tal
trama nos ofereceu uma boa solução dramatúrgica: enquanto todos pensavam que
este seria um dos mocinhos da história, ele aparece na figura de um dos maiores
inimigos dos próprios pais, François, papel de Gabriel Gracindo, mostrando
personalidade em um personagem bem dúbio.
Também
no remake aparece o estereótipo do político corrupto, que deseja destruir a
vila e a feira para construir um grande centro comercial, feito de modo
igualmente estereotipado pelo ator Giuseppe Oristânio, o que talvez tenha sido
um dos pontos fracos da trama.
Gustavo
Reiz ainda ousou em seu remake, matando a sua mocinha, a doce Isabela, feita
com muita verdade pela linda e excelente Gabriela Durlo. Sempre é bom recordar
que personagens centrais não costumam mais morrer em tramas.
Talvez
o fato de ter passado num horário avançado, 23h, tenha afugentado o
público-alvo da novela, o que é um fato a se pensar numa emissora que prenuncia
uma superprodução e deseja incrementar os caminhos da teledramaturgia.
Mesmo
assim, foi um belo exercício de como se fazer um remake sem se ver obrigado a
fazer uma cópia, com uma boa atualização e, sobretudo com uma história bem
contada.
capítulo de estréia [completo]
último capítulo [completo]
Com a Escrava Isaura foi a mesma coisa,e ainda fizeram pior.
ResponderExcluirLuis Brito de Oliveira
eu prefiro aqueles que respeitam o original Andrea Barros
ResponderExcluirEu particularmente gostei pakas de "Dona Xepa". Uma novela sem clichês, e, no último capítulo, por exemplo; foi um dos mais emocionantes que eu já vi nos últimos anos. Fiquei satisfeito também com a fotografia... Enfim; uma das melhores novelas que a Record já fez.
ResponderExcluirJoão Luiz Ramos
Prefiro o "inspirado em" do que o simplesmente "copiado de". Dona Xepa, para mim, foi uma novela muito boa de se assistir. Conseguia me fazer e ri e chorar, conforme a exigência da cena. Agora, realmente, a Record precisa rever a questão do horário. No entanto, pelo menos para mim, foi ótimo Dona Xepa ter sido transmitida depois das 22h, porque me permitiu acompanhar, o que não aconteceria se a mesma passasse mais cedo.
ResponderExcluirOlha, respeitar o máximo possível é bobagem. Se é pra ficar igual, pq fazer remake? Mas claro que passar tão longe que seja outra história é apenas uso oportunista do nome conhecido, ou seja, é 171.
ResponderExcluirAntonio Carneiro
prefiro os remakes fieis a obra original
ResponderExcluirCesar Perez
Prefiro os que respeitam o original se é para mudar então porque não criar uma historia nova o remake de Ti,Ti,Ti e Ciranda de Pedra foi horrivel Marta Leão
ResponderExcluirAcho que depende muito, algumas adaptações são muito necessárias, para que a obra se encaixe ao novo tempo.
ResponderExcluirLeonardo Mello
Eu gostei bastante de Dona Xepa, conseguiu me emocionar e divertir e acho que isso é o que se espera de uma novela. Achei o texto gostoso e, no geral, as interpretações muito boas. Pena que a audiência não tenha correspondido. Quanto a questão dos remakes, acho praticamente impossível ser 100% fiel ao original. Na minha opinião os melhores foram os que mantiveram a essência, mas, criaram em cima como Ti-ti-ti da Maria Adelaide Amaral e a própria Dona Xepa, do Gustavo Reiz
ResponderExcluiro profeta ,ti ti ti e ciranda de pedra são alguns exemplos que não foram fieis ao original ,as novelas da Ivani ribeiro como a viagem e mulheres de areia ,e as do Benedito rui Barbosa como sinha moça e cabocla,essas sim eram remakes pq foram reescritos pelos mesmos autores
ResponderExcluirantonio carlos perreira
A novela não foi um remake. A novela foi inspirada na peça de Pedro Bloch. A obra principal sempre foi a peça e não a novela. Assim como Escrava Isaura. A Record não poderia fazer o remake de duas novelas de um autor que tem contrato com a Globo.
ResponderExcluirEu não considero Dona Xepa um remake, era uma nova adaptação da peça do Pedro Bloch. Da mesma forma não considero Gabriela e Ciranda de Pedra remakes, eram novas adaptações dos romances. Por que isso? Porque elas não partiram de base da novela anterior... Somente se assim fosse, é que consideraria remakes..
ResponderExcluirPedro Henrique Amorim
Concordo inteiramente com você, Edu, achei o remake interessante e quando pude, acompanhava com interesse, principalmente porque a menina (Thaís Fersoza), como você diz, é excelente. Já tinha gostado dela naquela outra novela, VIDAS EM JOGO (aliás, uma das raras telenovelas bem sacadas dos últimos anos), e achei que ela segurou muito bem a onda. Gostei bastante do seu texto, só não concordo muito com seus elogios a Angela Leal, que sempre achei chata e caricata.
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