domingo, 8 de setembro de 2013

Roque Santeiro: O Brasil em uma cidadezinha

Por Leonardo Mello de Oliveira

Sem dúvida uma das mais memoráveis novelas de todos os tempos, Roque Santeiro arrebatou o coração dos brasileiros com seus personagens deliciosos e dúbios. Analisando bem, nenhum dos personagens de Roque Santeiro era 100% do bem, todos tinham algo obscuro em sua personalidade, um erro, uma fraqueza. Dias Gomes apresentava personagens caricatos, mas ao mesmo tempo complexos e humanos, a ponto de fazer-nos acreditar que aquelas pessoas tão absurdas existissem mesmo, e elas existem, só ganharam um pouco de dramaticidade. Asa Branca era um microcosmo do Brasil, e os autores não queriam esconder isso. Enquanto Porcina e Sinhozinho Malta tinham um forte sotaque nordestino, Matilde e suas meninas vinham do Rio de Janeiro. Houve menções de que o delegado Feijó fosse gaúcho e Dona Marcelina aparentava ter saído de alguma família da alta sociedade paulistana. Enfim, Dias Gomes e Aguinaldo Silva tentaram mostrar todos os diferentes tipos que poderíamos encontrar Brasil afora, todos juntos e vivendo as mais diversas situações.


Porém, infelizmente, a novela parece ser muito mais conhecida pelas situações engraçadas do triângulo amoroso central que pelo seu significado social. A trama tratava desde comunismo escondido até celibato religioso. Atreveu-se até mesmo a falar sobre homossexualismo, o que foi completamente vetado. E, é claro, da exploração do povo através da crença. Dias era mestre em colocar o dedo na ferida da sociedade, mas tratava de vestir uma luva para tentar esconder as digitais na hora de pôr o dedo, então tudo era meio escondido, por baixo dos panos. 
Talvez o tema que eu mais goste de ver na telinha tenha sido tratado com perfeição nesta novela: a hipocrisia. A novela chegou a um ponto em que quase todos os personagens já sabiam da verdade sobre o Santo Roque, mas tinham que manter o segredo, pois todos tinham algum interesse, e, é claro, não poderiam desrespeitar os poderosos da região. A personificação da hipocrisia já tem uma imagem na teledramaturgia brasileira: a beata. E Dona Pombinha é, sem dúvida, a melhor beata das nossas novelas (desculpem-me os adoradores de Perpétua). 
Antes de Vale Tudo e Que Rei Sou Eu?, (coincidentemente reprisadas, respectivamente, antes e depois de “Roque”) Roque Santeiro já tentou falar sobre o povo brasileiro como ele realmente é, com todos os seus defeitos e suas qualidades.


Acho que nunca será feita uma novela tão completa quanto foi Roque Santeiro. Era rápida, não teve “barriga” (apesar de seus mais de 200 capítulos), com bom texto, bom elenco, boa direção e com uma crítica social super bem bolada. A quem nunca assistiu a essa obra prima da televisão brasileira, sugiro que assista, principalmente se deseja algum dia trabalhar com novelas. Dias Gomes faz falta nos nossos dias atuais, pois ninguém como ele conseguia colocar um espelho no lugar da tela da TV quando o povo brasileiro fosse assistir a uma novela sua.
Sem deixar de mencionar o trabalho de Aguinaldo Silva, que escreveu boa parte dos capítulos e seguiu com maestria a ideia original do Dias, inclusive adotando o estilo do autor e fazendo o gênero regionalista render muitas outras tramas maravilhosas posteriormente.


      

5 comentários:

  1. Roque Santeiro, sem tirar o mérito de Dias Gomes, considero que seja mais do Aguinaldo Silva do que do Dias. Dias Gomes escreveu os primeiros 30 capítulos e os últimos 30, já Aguinaldo fez todos os outros.

    Sil Vieira Gama

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  2. Adorava esta novela, a viúva Porcina é inesquecível!

    Isaura Fernandez

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  3. Sou apaixonado! A melhor novela; atores todos impecáveis, retratou o Brasil fielmente no seu mais intimo, usou de humor inteligentíssimo e as personagens muito bem elaborados em diálogos e situações muito bem boladas. Um primor! Até hoje inovadora e sem igual!

    Alexandre Altomare

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  4. Melhor novela que eu vi!

    Glalber Euphrazio Duarte

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