Por Leonardo Mello de Oliveira
Sem
dúvida uma das mais memoráveis novelas de todos os tempos, Roque Santeiro
arrebatou o coração dos brasileiros com seus personagens deliciosos e dúbios.
Analisando bem, nenhum dos personagens de Roque Santeiro era 100% do bem, todos
tinham algo obscuro em sua personalidade, um erro, uma fraqueza. Dias Gomes
apresentava personagens caricatos, mas ao mesmo tempo complexos e humanos, a
ponto de fazer-nos acreditar que aquelas pessoas tão absurdas existissem mesmo,
e elas existem, só ganharam um pouco de dramaticidade. Asa Branca era um
microcosmo do Brasil, e os autores não queriam esconder isso. Enquanto Porcina
e Sinhozinho Malta tinham um forte sotaque nordestino, Matilde e suas meninas
vinham do Rio de Janeiro. Houve menções de que o delegado Feijó fosse gaúcho e
Dona Marcelina aparentava ter saído de alguma família da alta sociedade
paulistana. Enfim, Dias Gomes e Aguinaldo Silva tentaram mostrar todos os
diferentes tipos que poderíamos encontrar Brasil afora, todos juntos e vivendo
as mais diversas situações.
Porém,
infelizmente, a novela parece ser muito mais conhecida pelas situações
engraçadas do triângulo amoroso central que pelo seu significado social. A trama
tratava desde comunismo escondido até celibato religioso. Atreveu-se até mesmo
a falar sobre homossexualismo, o que foi completamente vetado. E, é claro, da
exploração do povo através da crença. Dias era mestre em colocar o dedo na
ferida da sociedade, mas tratava de vestir uma luva para tentar esconder as
digitais na hora de pôr o dedo, então tudo era meio escondido, por baixo dos
panos.
Talvez o tema que eu mais goste de ver na telinha tenha sido tratado com
perfeição nesta novela: a hipocrisia. A novela chegou a um ponto em que quase
todos os personagens já sabiam da verdade sobre o Santo Roque, mas tinham que
manter o segredo, pois todos tinham algum interesse, e, é claro, não poderiam
desrespeitar os poderosos da região. A personificação da hipocrisia já tem uma
imagem na teledramaturgia brasileira: a beata. E Dona Pombinha é, sem dúvida, a
melhor beata das nossas novelas (desculpem-me os adoradores de Perpétua).
Antes
de Vale Tudo e Que Rei Sou Eu?, (coincidentemente reprisadas, respectivamente,
antes e depois de “Roque”) Roque Santeiro já tentou falar sobre o povo
brasileiro como ele realmente é, com todos os seus defeitos e suas qualidades.
Acho
que nunca será feita uma novela tão completa quanto foi Roque Santeiro. Era
rápida, não teve “barriga” (apesar de seus mais de 200 capítulos), com bom
texto, bom elenco, boa direção e com uma crítica social super bem bolada. A
quem nunca assistiu a essa obra prima da televisão brasileira, sugiro que
assista, principalmente se deseja algum dia trabalhar com novelas. Dias Gomes
faz falta nos nossos dias atuais, pois ninguém como ele conseguia colocar um
espelho no lugar da tela da TV quando o povo brasileiro fosse assistir a uma
novela sua.
Sem deixar de mencionar o trabalho de Aguinaldo Silva, que escreveu boa parte dos capítulos e seguiu com maestria a ideia original do Dias, inclusive adotando o estilo do autor e fazendo o gênero regionalista render muitas outras tramas maravilhosas posteriormente.
Roque Santeiro, sem tirar o mérito de Dias Gomes, considero que seja mais do Aguinaldo Silva do que do Dias. Dias Gomes escreveu os primeiros 30 capítulos e os últimos 30, já Aguinaldo fez todos os outros.
ResponderExcluirSil Vieira Gama
Adorava esta novela, a viúva Porcina é inesquecível!
ResponderExcluirIsaura Fernandez
Sou apaixonado! A melhor novela; atores todos impecáveis, retratou o Brasil fielmente no seu mais intimo, usou de humor inteligentíssimo e as personagens muito bem elaborados em diálogos e situações muito bem boladas. Um primor! Até hoje inovadora e sem igual!
ResponderExcluirAlexandre Altomare
Melhor novela que eu vi!
ResponderExcluirGlalber Euphrazio Duarte
Ótimo texto!!
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