Por Leonardo Mello de Oliveira
É indiscutível a
relação entre a literatura e a teledramaturgia brasileira. A primeira foi a
base para que tivéssemos hoje as nossas telenovelas, inspiradas nos romances
publicados em forma de folhetim durante o século XIX. Os romances urbanos, onde
a mulher tinha um papel de destaque e as histórias de amor açucaradas eram o
mote principal, talvez tenham sido as nossas primeiras novelas. E é impossível falar
de romances brasileiros sem citar José de Alencar, romancista que tentou
caracterizar o Brasil através de suas mais diferentes formas de expressão.
José de Alencar experimentou todos os
tipos de romances do período romântico brasileiro: o indianista, o regional e o
urbano. Além de usar dos principais ingredientes destes tipos de literatura,
tentava escrever com uma linguagem brasileira e fazer críticas à sociedade da
época. Algumas de suas principais obras foram adaptadas para a TV, o que mostra
como a sua linguagem e estilo contextualizam com a teledramaturgia brasileira.
O primeiro romance de Alencar a ser
adaptado também foi o seu romance que mais ganhou adaptações para TV. Senhora foi primeiramente adaptada pela
TV Paulista em 1953 e pela Tupi em 1962. Ganhou uma versão moderna na Tupi em
1972, com o título de O Preço de um Homem. A adaptação mais conhecida foi a
escrita por Gilberto Braga, na Globo, em 1975, com Norma Blum e Cláudio Marzo
como o casal protagonista. A última versão de Senhora foi feita em 2004, na
novela Essas Mulheres, que também contava a história de outros dois romances de
José de Alencar: Diva e Lucíola. O livro se diferenciava dos outros romances
urbanos por apresentar uma crítica ao sistema de casamento da época. A história
tratava do amor entre Aurélia Camargo e Fernando Seixas. Ambicioso, Fernando
larga Aurélia ao ser-lhe oferecido um dote para se casar com outra mulher.
Porém, Aurélia acaba herdando uma grande fortuna, e oferece um dote maior a
Fernando para que se casasse com ela. Mas Aurélia passa a desprezá-lo,
afirmando que o casamento foi apenas um “negócio”, apesar de amá-lo e ele a
amar também. A trama central é tão bem bolada que provavelmente já inspirou
novelas com histórias semelhantes, como Rainha da Sucata.
Outro romance de Alencar que virou um
grande sucesso da TV foi As Minas de
Prata. Escrita por nada mais nada menos que Ivani Ribeiro, em 1966, foi uma
superprodução da TV Excelsior, que contava com Fúlvio Stefanini, Regina Duarte
e Renato Master nos papéis principais. O romance histórico ainda serviria como
base para a novela A Padroeira, de 2001, escrita por Walcyr Carrasco, na Globo.
O livro contava a história de Estácio, que procurava as minas de prata
encontradas por seu pai. Ele contava com o dinheiro para se casar com Inesita,
cujo pai queria que se casasse com outro homem. A trama se passava em Salvador,
no século XVII.
Apesar de menos conhecida, Sinhazinha Flô (1977),
de Lafayette Galvão, apresentou três obras de José de Alencar em uma só
novela: Til, A Viuvinha e O Sertanejo. A novela foi uma homenagem
ao centenário da morte do autor. A trama era centralizada nas protagonistas de
cada romance: Flô (Bete Mendes), Chiquinha (Thaís de Andrade) e Clotilde
(Heloísa Raso). Porém, a junção de dois romances regionais com um urbano,
gerando um conflito de estilos, e a grande quantidade de situações prejudicaram
o bom andamento da novela, que se mostrava um tanto quanto revolucionária ao
abordar tantas tramas no horário das seis em plenos anos 70.
O romance indianista O Guarani foi adaptado por Walcyr Carrasco em 1991, em formato de
minissérie, na Rede Manchete. O elenco, um tanto quanto estranho, podemos
dizer, contava com Angélica como Cecília, Leonardo Brício como Péri e Luigi
Baricelli como D. Diogo. A história tratava da vinda do português D. Antônio de Mariz ao Brasil com sua família. Se desenvolvem várias
tramas a partir daí, como o amor do índio Péri pela filha de D. Antônio,
Cecília, e uma revolta indígena provocada pela morte de uma índia, morta por D.
Diogo durante uma caçada. Vale lembrar de Loredano, ex-frei, ambicioso e
devasso que se infiltra na família de D. Antônio com o intuito de destruí-la e
raptar Cecília. Como todos os outros romances indianistas, o índio é retratado
como um ser heróico e “civilizado”, ou seja, um índio idealizado para a época.
Por fim, devemos falar de outra junção de
três obras de José de Alencar: a telenovela Essas Mulheres, da Record, que
juntava Senhora, Diva e Lucíola. Diva já havia tido uma
adaptação na época da TV ao vivo, pela TV Paulista. Foi escrita por Marcílio
Moraes e Rosane Lima. Assim como Sinhazinha Flô, Essas Mulheres também centrava
sua trama nas três personagens femininas de cada romance. Christine Fernandes,
Carla Regina e Myrian Freeland interpretaram as três protagonistas. A novela
apresentava as três personagens de Alencar como amigas que enfrentavam a
difícil vida das mulheres durante o século XIX. Considerada por muitos como a
melhor novela já produzida pela Record, Essas Mulheres foi a última adaptação
de José de Alencar para a televisão.
Com tantas obras adaptadas, é quase
impossível não darmos a José de Alencar o título de primeiro autor de novelas
brasileiro. Dono de histórias bem boladas e desenvolvidas, seus romances
publicados em folhetins na época deviam ter instigado a curiosidade da
população assim como as nossas telenovelas instigam nossa curiosidade hoje em dia.
Como ninguém, o escritor tentou dar brasilidade a nossa literatura, escrevendo,
mesmo com um estilo idealizador, sobre os cidadãos das mais diferentes regiões
do Brasil. Alguns autores, como Janete Clair e Dias Gomes, tentaram fazer o
mesmo com suas novelas. Esperamos mais José de Alencar na nossa TV, até porque,
suas histórias parecem ser sempre sinônimo de sucesso e repercussão.
Em Caras e Bocas também tinha uma adaptação inspirada em "Senhora" era o casal Milena(Sheron Menezes) e Nick (Sérgio Marone).
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