sábado, 9 de novembro de 2013

As novelas do século XIX: Os romances de José de Alencar

Por Leonardo Mello de Oliveira

É indiscutível a relação entre a literatura e a teledramaturgia brasileira. A primeira foi a base para que tivéssemos hoje as nossas telenovelas, inspiradas nos romances publicados em forma de folhetim durante o século XIX. Os romances urbanos, onde a mulher tinha um papel de destaque e as histórias de amor açucaradas eram o mote principal, talvez tenham sido as nossas primeiras novelas. E é impossível falar de romances brasileiros sem citar José de Alencar, romancista que tentou caracterizar o Brasil através de suas mais diferentes formas de expressão.
      José de Alencar experimentou todos os tipos de romances do período romântico brasileiro: o indianista, o regional e o urbano. Além de usar dos principais ingredientes destes tipos de literatura, tentava escrever com uma linguagem brasileira e fazer críticas à sociedade da época. Algumas de suas principais obras foram adaptadas para a TV, o que mostra como a sua linguagem e estilo contextualizam com a teledramaturgia brasileira.
      O primeiro romance de Alencar a ser adaptado também foi o seu romance que mais ganhou adaptações para TV. Senhora foi primeiramente adaptada pela TV Paulista em 1953 e pela Tupi em 1962. Ganhou uma versão moderna na Tupi em 1972, com o título de O Preço de um Homem. A adaptação mais conhecida foi a escrita por Gilberto Braga, na Globo, em 1975, com Norma Blum e Cláudio Marzo como o casal protagonista. A última versão de Senhora foi feita em 2004, na novela Essas Mulheres, que também contava a história de outros dois romances de José de Alencar: Diva e Lucíola. O livro se diferenciava dos outros romances urbanos por apresentar uma crítica ao sistema de casamento da época. A história tratava do amor entre Aurélia Camargo e Fernando Seixas. Ambicioso, Fernando larga Aurélia ao ser-lhe oferecido um dote para se casar com outra mulher. Porém, Aurélia acaba herdando uma grande fortuna, e oferece um dote maior a Fernando para que se casasse com ela. Mas Aurélia passa a desprezá-lo, afirmando que o casamento foi apenas um “negócio”, apesar de amá-lo e ele a amar também. A trama central é tão bem bolada que provavelmente já inspirou novelas com histórias semelhantes, como Rainha da Sucata.
      Outro romance de Alencar que virou um grande sucesso da TV foi As Minas de Prata. Escrita por nada mais nada menos que Ivani Ribeiro, em 1966, foi uma superprodução da TV Excelsior, que contava com Fúlvio Stefanini, Regina Duarte e Renato Master nos papéis principais. O romance histórico ainda serviria como base para a novela A Padroeira, de 2001, escrita por Walcyr Carrasco, na Globo. O livro contava a história de Estácio, que procurava as minas de prata encontradas por seu pai. Ele contava com o dinheiro para se casar com Inesita, cujo pai queria que se casasse com outro homem. A trama se passava em Salvador, no século XVII.
      Apesar de menos conhecida, Sinhazinha Flô (1977), de Lafayette Galvão, apresentou três obras de José de Alencar em uma só novela: Til, A Viuvinha e O Sertanejo. A novela foi uma homenagem ao centenário da morte do autor. A trama era centralizada nas protagonistas de cada romance: Flô (Bete Mendes), Chiquinha (Thaís de Andrade) e Clotilde (Heloísa Raso). Porém, a junção de dois romances regionais com um urbano, gerando um conflito de estilos, e a grande quantidade de situações prejudicaram o bom andamento da novela, que se mostrava um tanto quanto revolucionária ao abordar tantas tramas no horário das seis em plenos anos 70.
      O romance indianista O Guarani foi adaptado por Walcyr Carrasco em 1991, em formato de minissérie, na Rede Manchete. O elenco, um tanto quanto estranho, podemos dizer, contava com Angélica como Cecília, Leonardo Brício como Péri e Luigi Baricelli como D. Diogo. A história tratava da vinda do português D. Antônio de Mariz ao Brasil com sua família. Se desenvolvem várias tramas a partir daí, como o amor do índio Péri pela filha de D. Antônio, Cecília, e uma revolta indígena provocada pela morte de uma índia, morta por D. Diogo durante uma caçada. Vale lembrar de Loredano, ex-frei, ambicioso e devasso que se infiltra na família de D. Antônio com o intuito de destruí-la e raptar Cecília. Como todos os outros romances indianistas, o índio é retratado como um ser heróico e “civilizado”, ou seja, um índio idealizado para a época.
      Por fim, devemos falar de outra junção de três obras de José de Alencar: a telenovela Essas Mulheres, da Record, que juntava Senhora, Diva e Lucíola. Diva já havia tido uma adaptação na época da TV ao vivo, pela TV Paulista. Foi escrita por Marcílio Moraes e Rosane Lima. Assim como Sinhazinha Flô, Essas Mulheres também centrava sua trama nas três personagens femininas de cada romance. Christine Fernandes, Carla Regina e Myrian Freeland interpretaram as três protagonistas. A novela apresentava as três personagens de Alencar como amigas que enfrentavam a difícil vida das mulheres durante o século XIX. Considerada por muitos como a melhor novela já produzida pela Record, Essas Mulheres foi a última adaptação de José de Alencar para a televisão.
      Com tantas obras adaptadas, é quase impossível não darmos a José de Alencar o título de primeiro autor de novelas brasileiro. Dono de histórias bem boladas e desenvolvidas, seus romances publicados em folhetins na época deviam ter instigado a curiosidade da população assim como as nossas telenovelas instigam nossa curiosidade hoje em dia. Como ninguém, o escritor tentou dar brasilidade a nossa literatura, escrevendo, mesmo com um estilo idealizador, sobre os cidadãos das mais diferentes regiões do Brasil. Alguns autores, como Janete Clair e Dias Gomes, tentaram fazer o mesmo com suas novelas. Esperamos mais José de Alencar na nossa TV, até porque, suas histórias parecem ser sempre sinônimo de sucesso e repercussão.

Um comentário:

  1. Em Caras e Bocas também tinha uma adaptação inspirada em "Senhora" era o casal Milena(Sheron Menezes) e Nick (Sérgio Marone).

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