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EI, JÚLIA
CAPÍTULO 2
WEB NOVELA DE
ISAAC SANTOS
ESCRITA COM A COLABORAÇÃO DE:
ALEX SPINOLA
LEANDRO BRASIL
RAFAEL BARBOSA
RAUL FELIPE SENNGER
CENA 1. CASA/QUARTO DE OSVALDO. INT. NOITE
Osvaldo e Zoraide
deitados. Ela dorme. Ele permanece acordado e se vira de um lado para o outro,
sem conseguir dormir. Zoraide acaba despertando.
ZORAIDE - Quê que foi? Tá sem sono?
OSVALDO - (irritado) Me deixa, Zoraide. Dorme e
me deixa em paz.
ZORAIDE - Ih, tem que dar patada, né? (senta na
cama e encara o marido) Te conheço, Osvaldo. A mim tu não engana. Eu sei por
que é que tu tá assim. (T) É por causa da tua irmã, né?
Osvaldo não responde,
mas o sofrimento por tudo que aconteceu está estampado em seu rosto.
ZORAIDE - Pra mim tu não precisa se fazer de
durão, Osvaldo. Eu sei quando tu tá com alguma coisa martelando na cabeça. Tu
fica assim, aéreo, distraído... Deixou até o Danilinho dormir na casa dos teus
pais, sem nem chiar!
OSVALDO - (reage) Eu não, VOCÊ deixou!
ZORAIDE - E tu concordou. Eu é que num ia ser besta
de contrariar uma ordem tua. De jeito nenhum!
Osvaldo não consegue
conter um sorriso. Zoraide também sorri. Os dois se olham, com carinho, num
clima de cumplicidade e de companheirismo.
OSVALDO - É... Acho que tu me conhece melhor do
que eu mermo.
ZORAIDE - (ri) Fica assim não, Val. Ficar
remoendo coisa que já aconteceu não é bom, não. Agora já foi. Quem sabe tudo
isso num vai ser melhor pra Júlia, hein? Quem sabe num é lá em Salvador que tá
a felicidade dela?
Osvaldo
sorri, mais conformado. Zoraide o beija no rosto.
ZORAIDE - Agora tenta dormir, vai. Amanhã é
segunda, tem muito serviço esperando a gente.
Osvaldo sorri para
ela. Os dois se deitam e Zoraide logo pega no sono, mas Osvaldo continua muito
pensativo. Fusão:
CENA 2. CASA/QUARTO DE JÚLIA. INT. NOITE
Júlia e seu
cachorrinho Tico estão deitados. Danilo deitado num colchão ao lado da cama. Danilo
e Júlia conversam baixo.
JÚLIA - Eu sei que fiz muita besteira,
Danilo. Não tô negando isso. Mas é que dói, o jeito como me trataram, sabe?
DANILO - Eu sei, tia. Eu também tô chateado.
JÚLIA - Minha vontade é de não falar
mais com o teu pai.
Danilo se apressa em
suavizar o clima.
DANILO - E como será lá, hein? Tomara que a
gente continue se falando, se vendo de vez em quando... Vou morrer de saudade,
tia.
JÚLIA - Eu também! (T) Lembra quando a
gente ficava dublando as cantoras? A tua preferida era a Rosana...
DANILO - Lembro. Você dava um show imitando
a Madonna. A gente fazia isso escondido, porque a vó dizia que era coisa do
mundo e não queria saber daquilo na casa dela.
Danilo consegue
arrancar um riso de Júlia. Corta:
CENA 3. ENTRE SERTÕES. STOCK-SHOTS. EXT. DIA
Imagens da cidade
amanhecendo, terminando na frente da casa de Júlia, onde estão os personagens
da cena seguinte. Corta para:
CENA 4. FRENTE DA CASA DE JÚLIA. EXT. DIA
Danilo está guardando
as malas de Júlia no carro. Júlia está se despedindo de Amélia. Ambas
emocionadas. Lourdes, com o cachorrinho Tico no braço, Zoraide e Justiniano
estão à parte, conversando em off.
JÚLIA - Não fique assim, não, mainha.
AMÉLIA - Minha menina... Promete que não vai
pensar bobagem nessa cabecinha?
JÚLIA - Eu vou ficar bem. E quero que a
senhora se cuide também!
AMÉLIA - Eu vou estar sempre orando por
você, filha. Deus não vai te desemparar.
JÚLIA - Me abraça, mainha!
As duas se abraçam.
Justiniano se aproxima.
JUSTINIANO - Eu também quero um abraço, filha.
Júlia se desfaz do
abraço com Amélia e abraça o pai.
JUSTINIANO - (voz embargada) Você sabe que teu pai te ama
e só quer o teu bem, né?
Júlia nada responde.
LOURDES - (suave) Será que já podemos ir, mocinha?
ZORAIDE - E eu e seu sobrinho não ganhamos um
abraço, não?
JÚLIA - Sua boba!
Júlia e Zoraide se
abraçam.
ZORAIDE - Ó, não fica com raiva do teu irmão,
não. Essa noite ele nem conseguiu dormir direito. Vai com Deus!
Lourdes
entra no carro. Amélia chama Justiniano à parte.
AMÉLIA - Desiste dessa ideia, Tino. Ainda dá
tempo!
JUSTINIANO - Tem que ser assim, Amelinha.
AMÉLIA - (firme) Eu só espero que você não
se arrependa tarde demais.
CAM volta pra Júlia,
que agora está se despedindo de Danilo.
DANILO - Tô tentando nem imaginar como serão
os dias daqui pra frente, tia. Mas eu vou torcer muito pra que a senhora dê a
volta por cima.
JÚLIA - Eu também tô tentando nem
pensar nisso. (T) Mas é impossível, né? Dá cá um abraço na tia!
DANILO - Como é mermo que a senhora costuma
falar pra mim?
JÚLIA - Que eu te “lovo”?
DANILO - Eu também te “lovo”, tia!
Danilo e Júlia se
abraçam. CAM vai recuando. Vemos Osvaldo, escondido atrás de uma árvore,
observando tudo de longe. Do ponto de vista de Osvaldo, vemos Danilo abrindo a
porta do carro pra Júlia. Ela entra. Carro começa a se afastar. Então vemos, do
ponto de vista de Júlia, que olha pela janela do carro, a sua família ficando
distante. Close de Júlia desiludida. Fusão:
CENA 5. RODOVIA BAIANA/CARRO DE LOURDES.
EXT/INT. DIA
Abre nas belas
paisagens que margeiam a rodovia. Vemos o carro de Lourdes passando por ali. Corta pro interior do carro: Lourdes
está dirigindo. Júlia, com o cachorrinho Tico no colo, olhando para o horizonte
pela janela do carro. Lourdes puxa conversa.
LOURDES - Não tá nem um pouco ansiosa pra ver as
praias mais bonitas do Brasil?
Júlia não responde.
Está distante. Lourdes insiste.
LOURDES - Tenho certeza que vai adorar as praias
de Salvador.
JÚLIA - (desanimada) Meu pai já me
levou algumas vezes.
LOURDES - Ah, mas agora é diferente, né? Em pouco
tempo você se acostuma. Você vai ver!
Julia se ajeita no banco. Lourdes percebe sua
inquietação.
LOURDES - Bom, eu não quero bancar a chata. Eu
fico aqui puxando conversa o tempo todo, né? Não precisa conversar sem querer.
Pode ficar à vontade, Júlia.
Júlia percebe que está sendo
indelicada com Lourdes.
JÚLIA - É que... eu... eu não me vejo
numa cidade como Salvador. Trabalhando na casa dos outros. A senhora me
entende?
LOURDES - Distante da família, dos amigos. (T) É
claro que eu te entendo. Mas eu tenho certeza que você e o seu cãozinho vão
acabar se acostumando.
JÚLIA - Isso também me preocupa, dona
Lourdes.
LOURDES - O quê? O seu bichinho? (Júlia faz que
sim) Não, eu imagino que a Flávia não vai botar dificuldade nisso, não. Pode
deixar que quem vai conversar com ela sou eu.
JÚLIA - Não quero ficar longe dele,
não. Ele é a única lembrança que eu tô levando de minha cidade.
LOURDES - (entusiasta) E a escola, hein! Já
imaginou? Vai conhecer gente nova, fazer novas amizades. A Flávia vai procurar
uma escola bem bacana pra você. Há boas escolas públicas lá em Salvador. Cê vai
tirar sua carteirinha de meia passagem pros ônibus. Lá em Entre Sertões era
pertinho de casa, né?
Corte
descontínuo: Júlia já se mostra mais disposta, interessada
na conversa, que está ao meio.
LOURDES - Eu era novinha na época. Devia ter um pouco
mais idade do que você. Eu fui com minha família passar o são joão lá em tua
cidade. Aí conheci o Roberto. Ele já era homem feito. O meu pai era muito amigo
do pai dele. Aí não deu outra (ri): a gente começou a namorar, depois noivou,
casou... tamo até hoje. (T) Eu nasci em Salvador. Então logo que a gente casou,
meus pais montaram uma casa pra gente, mas aí o pai dele faleceu, ele é filho
único, herdou a fazenda e resolveu voltar pra cuidar de tudo pessoalmente. Isso
já faz uns dezoito anos.
JÚLIA - E a senhora não chorou de ter
que largar sua família?
LOURDES - Na frente dele, não. Eu queria me fazer
de forte. Mas eu vivia chorando. Até que um dia a ficha caiu, eu percebi que o
tempo tava passando e eu me entregando a uma tristeza. Dei uma basta! Nem
distante é, uma cidade da outra.
Na imagem do carro se
distanciando, Corta para:
CENA 6. ENTRE SERTÕES. STOCK-SHOTS. EXT. TARDE/NOITE
Imagens de diferentes
pontos da cidade: Sol se pondo e a lua nascendo sobre Entre Sertões. Música
“Luar do Sertão”, de Maria Bethânia, de fundo. Termina na praça onde estão
Rosinha e Danilo. Corta para:
CENA 7. ENTRE SERTÕES. PRAÇA. EXT. NOITE
Danilo e Rosa Maria sentados
num banco. O lugar está praticamente vazio. Apenas algumas crianças brincando
por ali.
ROSA
MARIA - Eu não consigo acreditar.
DANILO - Eu também não. Parece até mentira.
ROSA
MARIA - Ontem a gente tava bem aqui,
conversando.
Instantes na tristeza
de Rosinha.
ROSA
MARIA - Eu não sei se vou segurar essa barra.
Danilo, acanhado, tentando
confortar Rosinha. Corta para:
CENA 8. SALVADOR. STOCK-SHOTS. EXT. NOITE
Imagens bonitas de
Salvador, terminando na fachada do prédio onde moram Flávia e Aurélio.
CENA 9. APTO DE FLÁVIA E AURÉLIO. QUARTO DE
JÚLIA. INT. NOITE
Júlia acabou de sair
do banho. Ainda está de toalha, secando os cabelos, pensativa. Quarto pequeno,
mas bem arrumado e confortável. Júlia se prepara para se vestir, quando ouve
batidas na porta e vai abrir. A patroa, Flávia (40), uma mulher bonita, de
andar e gestos elegantes, entra no quarto.
FLÁVIA - (sorri) Vejo que já está
acomodada. Gostou do quarto?
JÚLIA - Muito! É melhor do que eu
imaginei.
FLÁVIA - Fico feliz que você tenha gostado.
Espero que nós possamos nos dar muito bem.
JÚLIA - É o que eu também espero, dona
Flávia.
FLÁVIA - (gentil, mas firme) Hoje eu pedi
uma pizza pro jantar. Seu Aurélio deve chegar daqui a pouco. Você serve a gente
lá na sala e come a sua na cozinha, tá bom?
JÚLIA - Claro! Como a senhora quiser.
FLÁVIA - Sabe, Júlia, eu costumo ser muito
generosa com os meus empregados, trato todos muito bem, mas eu sou um pouco
exigente. Gosto de serviço bem feito. Acho que é o mínimo que qualquer patrão
deve esperar dos empregados, não é?
JÚLIA - A senhora tem toda razão. De
minha parte eu prometo fazer tudo da melhor maneira possível. Não quero dar
motivo pra senhora se queixar de mim.
FLÁVIA - Ótimo. Ah, não esqueça de passar
sempre as roupas do seu Aurélio. Ele é um homem bom, mas sai do sério quando vê
que suas roupas estão amassadas.
JÚLIA - Eu prometo ficar atenta.
FLÁVIA - Você tem um cachorrinho, não tem?
JÚLIA - Tenho, o Tico. Algum problema
pra senhora?
FLÁVIA - Não. O seu Aurélio é que não gosta
muito de bichos, mas desde que você o mantenha sempre aqui, eu não vejo
problema nenhum. (lembra de repente) Você costuma levantar à noite pra tomar
água?
JÚLIA - (meio incomodada com o
interrogatório) Às vezes, quando eu tô com muita sede.
FLÁVIA - Nesse caso é melhor você ter sempre
uma jarrinha com água ao lado da sua cama. Concorda comigo?
JÚLIA - Concordo.
Flávia
já vai saindo, mas lembra de algo e se volta para Júlia.
FLÁVIA - Outra coisa. Eu não acho
conveniente que você fique circulando muito pela casa, a não ser, é claro,
quando estiver fazendo o seu serviço. (T) É o seu Aurélio, sabe? Ele não gosta
muito que os empregados tomem certas liberdades. Você entende, não é?
JÚLIA - Claro. Pode ficar tranquila,
dona Flávia. Tudo será como a senhora e o seu Aurélio querem.
FLÁVIA - Bom, agora eu vou deixar você se
trocar em paz. Daqui a pouco eu chamo você quando o seu Aurélio chegar.
Flávia sorri para
Júlia e sai do quarto. Júlia observa o ambiente ao seu redor, ainda com certa
tristeza no olhar, mas ao mesmo tempo, com um ar resoluto de quem está decidida
a se adaptar às novas circunstâncias. Corta
para:
CENA 10. LITORAL DA BAHIA. RESORT
IMBASSAÍ/RESTAURANTE. EXT/INT. NOITE
Cena
começa sob a legenda: Meses depois. Ambiente bastante luxuoso. Somente pessoas
de alto poder aquisitivo. Uma banda toca um jazz suave. Garçons andam de um
lado ao outro servindo as mesas. Em uma mesa muito bem posicionada estão Flávia
e Aurélio. Aurélio beberica uma taça de vinho. Flávia bastante entusiasmada
toca as mãos dele sobre a mesa.
FLÁVIA -
Dez anos juntos! (sorri) Nosso aniversário de casamento não poderia estar sendo
melhor. Ainda nem acredito que a gente conseguiu esse final de semana livre pra
poder comemorar, nesse lugar maravilhoso.
AURÉLIO - (bem menos entusiasmado) A gente teve sorte! Eu não tinha
nenhum show agendado!
O
gerente do restaurante do resort se aproxima.
GERENTE -
Espero que estejam tendo uma excelente noite.
FLÁVIA -
Está tudo ótimo, de muito bom gosto. O jantar estava uma delícia. Obrigada!
AURÉLIO -
(finge falar sério) A gente ficou sabendo que é um oferecimento do resort. Obrigado
mesmo!
Flávia
sorri, tentando disfarçar um leve constrangimento pela brincadeira do marido.
AURÉLIO - (percebendo) Brincadeira!
GERENTE - Com licença!
O
Gerente se afasta. Flávia sorri para Aurélio que segue tomando seu vinho. A
banda encerra uma música. Aplausos dos hóspedes. Um dos integrantes acena para
Aurélio. Flávia percebe.
FLÁVIA -
Você conhece?
AURÉLIO - Claro, é o Otávio, já nos apresentamos juntos várias vezes.
Só um instantinho, vou lá ver o que ele quer comigo.
FLÁVIA -
Não demora, amor.
Aurélio vai. Flávia fica incomodada na mesa. Sorri para algum conhecido que está numa
outra mesa. Corte descontínuo: Aurélio
já de volta diante de Flávia. Conversa ao meio.
AURÉLIO - É só uma música. Eles insistiram, não deu pra fugir dessa!
FLÁVIA -
(carinhosa) Tudo bem! Vai lá, vai ser um prazer ver o meu músico predileto se
apresentar, ainda mais nessa data. Vou ficar aqui te esperando
AURÉLIO - (Dá um selinho nela) Já volto!
Aurélio
se junta aos músicos, senta à frente de um piano e começa a se apresentar.
Flávia assiste admirada a apresentação com os olhos fixos no marido. Ela nota
que ele começa a fitar algo ou alguém e olha na mesma direção que ele. Vê que é
uma mulher bonita e bastante atraente que não tira os olhos de Aurélio e ainda
sorri sedutora para ele. O ciúme toma conta de Flávia que encara o marido.
Closes alternados de Flávia e Aurélio. Corta
para:
CENA 11. SALVADOR. APTO DE FLÁVIA E AURÉLIO.
QUARTO DE JÚLIA. INT. NOITE
Júlia está arrumada
como se fosse sair. Se olha no espelho, passa um discreto batom nos lábios,
ensaia um sorriso. O cachorrinho está por ali. Ela sai do quarto, ele a segue. Música
“True Colors” de Cyndi Lauper, de fundo. Corta
rápido para:
CENA 12. SALVADOR. APTO DE FLÁVIA E AURÉLIO.
COZINHA. INT. NOITE
A música “True
Colors” continua de fundo. Abre em um pequeno bolo de cobertura de chocolate na
mesa. Uma vela de aniversário indica que Júlia está completando 18 anos. Ela
acende a vela. Instantes. Ela apaga a vela. Close de Júlia triste. Corta
para:
CENA 13. LITORAL DA BAHIA. RESORT IMBASSAÍ.
SUÍTE DE FLÁVIA E AURÉLIO. INT. NOITE
Aurélio
entra no quarto seguido de Flávia. Ambos já bastante alterados. Discussão
intensa. Durante o diálogo, Aurélio vai até um armário, pega sua mala e começa
a juntar suas coisas. Ritmo:
AURÉLIO - Você conseguiu! Conseguiu estragar o final de semana com
esse ciuminho ridículo e sem fundamento. Na frente dos outros ainda por cima, o
maior constrangimento.
FLÁVIA -
(histérica) Sem fundamento? Aquela mulher tava te comendo com os olhos e você
estava correspondendo, tava gostando. Parecia que o show era pra ela não pra
mim, sua mulher.
AURÉLIO - Você tá ficando louca! É o meu trabalho. São várias as
mulheres que olham pra mim enquanto eu me apresento. Não significa que eu vá
dormir com elas. Aliás, você fala de um jeito como se eu só me apresentasse pra
mulheres.
FLÁVIA -
(grita) Você não tem o menor respeito por mim.
AURÉLIO - (grita mais) Chega! Eu não vou mais discutir!
Flávia
vendo que ele fecha a mala disposto a ir embora, apela.
FLÁVIA -
(T) O que é isso, aonde você vai?
AURÉLIO - Já deu pra mim. Você estragou o nosso aniversário de
casamento, você estragou tudo. Não tenho mais saco pra continuar aqui, não vou
nem conseguir encarar as pessoas amanhã depois do seu ataque no restaurante.
Flávia
corre até ele e o puxa pelo braço.
FLÁVIA -
Você não vai fazer isso comigo. Eu posso ter exagerado, eu bebi um pouco
demais, mas tenta me entender/
AURÉLIO - (corta) Não dá pra te entender, esse teu comportamento é
incompreensível, me irrita, me sufoca.
FLÁVIA -
Me perdoa, meu amor, não sai daqui assim, me perdoa/
Aurélio se
desvencilha de Flávia, pega as chaves do carro numa mesa.
AURÉLIO - Tô indo embora.
Aurélio
já vai saindo. Flávia se coloca na frente dele.
FLÁVIA -
Me espera, eu arrumo as minhas coisas rapidinho e vou com/
AURÉLIO - (corta) Nem pensar, eu vou sozinho. Sem condições de dirigir
com você do meu lado.
FLÁVIA -
E eu faço o quê? Você vai me deixar aqui sozinha?
AURÉLIO - Isso é problema seu. Fica aí aproveitando o resto do fim de
semana, ou, se quiser ir embora, pega um táxi!
Aurélio
sai do quarto batendo a porta. Flávia, chorando muito, se joga na cama e fica
lá encolhida. Corta para:
CENA 14. SALVADOR. FACHADA DO PRÉDIO DE
FLÁVIA E AURÉLIO. EXT. MADRUGADA
Vemos o porteiro
abrindo o portão do estacionamento. Carro de Aurélio entra. Corta
para:
CENA 15. APTO DE FLÁVIA E AURÉLIO. QUARTO DE
JÚLIA. INT. MADRUGADA
Júlia deitada,
pensativa. O cachorrinho Tico dorme ao seu lado na cama. De repente, ela se
assusta ao ouvir um barulho no apartamento. Levanta devagar, temerosa, e vai
ver o que está acontecendo. Sai do quarto. Corta
para:
CENA 16. APTO. CORREDOR / SUÍTE DE FLÁVIA E
AURÉLIO. INT. MADRUGADA
Júlia se aproxima da
porta entreaberta do quarto de seus patrões. Entra no quarto e vê as roupas e
sapatos de Aurélio pelo chão. Escuta barulho do chuveiro ligado e percebe que
ele está no banho. Júlia resolve voltar para o seu quarto, mas acaba batendo
sem querer em um jarro, que cai no chão, espatifando-se e fazendo muito
barulho. Júlia fica muito assustada.
AURÉLIO - (off) Quem tá aí?
Aurélio aparece com
uma toalha enrolada no corpo. Sorri ao ver Júlia, que ainda está assustada.
AURÉLIO - Ah, é você, menina.
JÚLIA - Me desculpe, seu Aurélio. Eu
ouvi um barulho e vim ver o que era.
AURÉLIO - (olha o jarro quebrado) E pelo visto
andou fazendo arte.
JÚLIA - Eu juro que foi sem querer, seu
Aurélio. Eu tava saindo, acabei tropeçando e/
AURÉLIO - (corta, voz calma, mas em tom de
chantagem) A Flávia não vai gostar nada disso. Ela adorava esse jarro...
JÚLIA - Eu falo com ela. Vocês podem
descontar do meu salário.
AURÉLIO - (rindo) Não seja boba, menina. Você
tem noção de quanto custa um jarro como esse? (T) E depois, a Flávia não é tão
boazinha como parece. Ela já deve ter te falado que não admite falha dos
empregados.
JÚLIA - É, ela me falou, sim.
AURÉLIO - Se você contar que quebrou esse jarro,
ela não vai perdoar. A Flávia já botou empregada na rua por muito menos. (T)
Fique tranquila. Eu digo a ela que fui eu quem quebrou. Não vai dar nenhum
problema pra você.
JÚLIA - (surpresa) Eu prometo que vou
ser mais cuidadosa. Muito obrigada, seu Aurélio. Eu nem sei como agradecer o
senhor.
AURÉLIO - Pois eu sei.
Aurélio
sorri com cara de tarado e se aproxima de Júlia, que se assusta.
AURÉLIO - (passa a mão nela) É só você ser
boazinha comigo.
Júlia
se afasta de Aurélio, bastante irritada.
JÚLIA - Eu não sou esse tipo de moça
que o senhor tá pensando, não.
AURÉLIO - Que é isso, menina! Eu não vou te
tirar nenhum pedaço. Só tô te propondo uma brincadeirinha. Que tal a gente
aproveitar que a Flávia ainda não chegou, pra se divertir um pouquinho?
E
continua se aproximando de Júlia, que se afasta, muito assustada.
JÚLIA - Se o senhor tentar alguma
coisa, eu vou gritar.
Aurélio
a agarra nesse momento, à força.
AURÉLIO - Vem cá, vem!
Júlia
tenta se soltar desesperadamente.
JÚLIA - Me larga, me larga!
Mas Aurélio é mais
forte e a segura com força. Fala com a boca próxima ao rosto dela, de maneira
bem asquerosa. Júlia tem nojo dele.
AURÉLIO - (louco de desejo) Você é linda, linda!
Júlia continua
tentando se soltar, desesperada. Aurélio começa a beijá-la à força, na boca, no
rosto, no pescoço. Flávia chega nesse momento e leva um choque ao presenciar a
cena.
FLÁVIA - Mas o que é isso?
Aurélio para de
agarrar Júlia. Flávia furiosa encarando os dois. Em Júlia muito assustada,
Corta.
FIM DO CAPÍTULO 2
Confira o capítulo 3.
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