De Isaac Santos
Capítulo 3
Cena 1. Pousada Em Família. Banheiro.
Interior. Noite.
Clotilde
tomando banho, se assusta com o barulho provocado por Olga.
Cena 2. Pousada Em Família. Recepção.
Interior. Noite.
A Pousada
já de porta fechada. Telma está se preparando pra ir embora quando Olga aparece
ali.
Olga – Agora deve tá
rindo por dentro... Conseguiu o que queria!
Telma – (sem paciência) Menina eu não sei nem do
que você tá falando... Você só pode ser louca.
Olga – Louca? Sou louca sim, louca por ela! (batendo
fortemente a mão sobre o balcão) E olhe pra mim, to falando com você, sua
sonsa.
Inquilinos
da pousada começam a observar a discussão. Curiosos, alguns parecem se divertir
com toda a movimentação.
Telma – Você tá passando de todos os
limites! Olhe ao seu redor.
Olga
vê todas as pessoas que estão por ali, mas nem se importa.
Olga – É bom que
eles vejam quem é a mulherzinha responsável por essa espelunca.
Clotilde,
enrolada numa toalha, desce a escada.
Clotilde
(chorando) – Pelo amor de Deus, Olga... O que é que você ta fazendo?!
Olga – Chegou
quem tava faltando. (irônica) E de toalha na recepção, Clotilde? Não pode!
Clotilde – Você vai voltar pro quarto comigo, Olga.
Olga (furiosa) – Me deixa!
Olga
empurra Clotilde que cai sobre uma poltrona e na queda acaba folgando a toalha.
Telma (vai acudir) –
Machucou, Clotilde? Deixa eu te ajudar.
Olga (imitando Telma) – “Machucou,
Clotilde? Deixa eu te ajudar.” Só falta o beijo entre as duas pro público ir ao
delírio.
Clotilde
se levanta e se recompõe com a ajuda de Telma.
Olga (partindo pra cima
das duas) – Pois não vai ser assim. (ensandecida) Eu acabo
com vocês...
Um
rapaz se aproxima e tenta controlar Olga
Olga – Eu mato as duas!
Clotilde, irritada, deixa a toalha cair propositadamente. Os poucos rapazes presentes vão
ao delírio com a cena, agora numa visão totalmente privilegiada.
Clotilde
(resoluta) – Vamos acabar logo com isso, Olga. Sabe por quê? (para o rapaz que tenta conter Olga) Solta ela, moço.
(continua) Eu não sou propriedade sua, nunca fui. Eu faço o que bem
entender da minha vida, com quem eu quiser. (começa a andar pela
recepção como se num leilão do próprio corpo).
Olga
atônita. Telma tenta amenizar a cena e enrola Clotilde na toalha.
Telma – Pessoal, eu peço
desculpa pelo ocorrido. Agora voltem pro quarto de vocês. (o pessoal começa a sair)
Clotilde –
Telma, eu também te peço desculpas por isso tudo.
Telma – Não, não se
preocupe com isso.
Olga, envergonhada, começa a subir a escada em direção ao quarto.
Telma (se aproxima da
escada) – E você, Olga, arrume as suas tralhas, você vai embora daqui amanhã de manhã.
Cena 3. Pousada Em Família. Quarto de
Clotilde e Olga. Interior. Noite.
Olga, reflexiva, arrumando a sua mala, aproveita o momento para buscar nas coisas de
Clotilde algo que faça se lembrar dela. Pega rapidamente uma calcinha e guarda
entre as suas coisas.
Cena 4. Pousada Em Família. Recepção.
Interior. Noite.
Telma
e Clotilde ainda conversam quando são surpreendidas por Olga que já está de
mala pronta para ir embora.
Clotilde
(preocupada) – Oxente, Olga... Pra que sair uma hora dessas? Eu tava aqui
justamente pedindo a Telma pra não te botar pra fora da pousada.
Olga
nada responde, abre a porta e deixa a pousada.
Telma – Deixa ela,
Clotilde, é uma estúpida. Quer se fazer de vítima!
Clotilde
põe as mãos na cabeça, pede licença a Telma e sobe pro quarto.
Cena 5. Rua. Exterior. Noite.
Olga
caminha sem rumo, aos poucos se afastando da região da pousada.
Cena 6. Pousada Em Família. Entrada. Exterior.
Noite.
Telma
passa cadeado no portão, entra e fecha a porta. A luz é apagada.
Cena 7. Pousada Em Família. Recepção.
Interior. Noite.
Tudo
devidamente fechado, luzes sendo apagadas.
Cena 8. Pousada Em Família. Quarto de
Clotilde. Interior. Noite.
Clotilde
debruçada na janela. Pensamento distante.
Fusão para
Cena 9.
Orfanato Emanuel. Sala da Direção. Interior. Dia.
Flashback
Clotilde
está com 10 anos. Foi chamada pela madre em sua sala.
Irmã Gertrudes –
Tá tudo bem, Clotilde?
Clotilde (apreensiva)
– Comigo tá, madre. A senhora mandou me chamar?
Irmã Gertrudes –
Sim. Já faz alguns dias que eu e as irmãs temos percebido você muito triste,
chorando pelos cantos. Eu pedi que trouxessem você aqui
porque eu tenho uma boa notícia. Mas você tem que prometer que não vai contar a
nenhuma das suas irmãzinhas.
Clotilde (sorri)
– Tá bom, madre, prometo.
Cena 10.
Orfanato Emanuel. Quarto da Irmã Gertrudes. Interior. Dia.
Flashback
Clotilde
vê alguns discos de vinil de Carmem Miranda, Aracy de Almeida, Odete Amaral, Isaura Garcia dentre outros, espalhados sobre
a cama.
Clotilde
(emocionada) – São todos meus, irmã?
Irmã Gertrudes
(contente) – E aquela vitrola também é sua. (Clotilde não segura o choro)
Clotilde – Quem é que gosta tanto assim de mim? Deve ter custado muito!
Irmã Gertrudes – Basta você
saber que veio de alguém que te quer muito bem.
Clotilde –
Mas como eu vou poder ouvir os discos, madre?
Irmã Gertrudes – Deus e Nossa Senhora que me perdoem... Tomara eu esteja fazendo o
certo. Eu vou te ensinar a usar a vitrola e vou permitir que você venha escutar
um disco por vez, uma vez por semana.
Cena 11.
Orfanato Emanuel. Banheiro Coletivo. Interior. Dia.
Flashback
Clotilde,
Olga e outras meninas tomam banho antes do almoço.
Olga (cochichando) – Eu
vou espalhar pra todo que mundo você tá indo lá pra fazer ousadia com ela.
Clotilde –
Ave Maria, Olga, isso é até pecado. Eu já disse que não posso falar.
Noviça – As duas aí ó,
vamos parando com esse cochicho. Que banho demorado é esse!? Esfrega esse
pescoço direito, Olga. Nada de lavar os cabelos hoje, Clotilde.
Clotilde/Olga –
Sim, senhora.
Cena 12.
Orfanato Emanuel. Sala da Direção. Interior. Dia.
Flashback
Clotilde
e Olga em pé ao lado da madre, que está sentada, aborrecida.
Irmã Gertrudes –
Eu falei pra você que era um segredo nosso, Clotilde.
Clotilde
(envergonhada) – É, madre, mas... é que eu não tenho segredo com a Olga
e...
Olga (interrompendo) – E
qual o problema "deu" saber, madre? Eu posso guardar o segredo também.
Clotilde –
É, madre, a Olga não vai contar pra ninguém.
Irmã Gertrudes – Se vocês aparecerem aqui com mais alguma amiguinha, eu pego essa
vitrola e coloco lá no meio do salão. E não vou nem me importar de ter que
quebrar os discos.
Clotilde/Olga –
Sim, madre. (sorriem aliviadas)
Fim
do flashback.
Corta
para
Cena 13. Pousada Em Família. Quarto de Clotilde.
Interior. Noite.
Clotilde
ainda debruçada na janela. Alguém bate à porta.
Clotilde –
Quem é?
Telma – Sou eu, Clotilde, Telma.
Clotilde
abre a porta e Telma entra trazendo-lhe um chá.
Telma – Eu imaginei que
você ainda não tivesse dormido e trouxe um chá de maracujá pra você.
Clotilde – Você tá sendo uma querida, Telma. Obrigada!
Cena 14. Rua. Exterior. Noite
É
madrugada. Olga caminha por uma Rua deserta. O silêncio é tanto que o vento faz barulho. Ela sente frio e medo.
Um
automóvel com faróis acesos se aproxima dela. O homem que estava dirigindo pára
o carro e desce. Com o susto Olga deixa a mala cair no chão.
Homem – Cê tá perdida? (começa a
encostar Olga contra o muro de uma mansão abandonada)
Olga – Você tá bêbado. Eu
não sou desse tipo aí que você tá pensando. (o homem ignora e começa a levantar
a saia de Olga) Eu vou gritar... (desesperada) Eu grito! (o homem põe a
mão com toda força sobre a boca de Olga)
Homem – Você acha que tá
onde, princesa? (sussurra
lambendo a orelha de Olga) Não vou te fazer mal. (asqueroso)
Olga (chora feito menina)
– Moço, pelo amor de Deus, da virgem santíssima...
Homem – Não fala em virgem que eu fico ainda mais avexado. Do jeito que eu to aqui, ó!? (pegando em suas partes
íntimas)
Olga
é levada pra dentro do carro.
Corta
para
Fim
do 3º capítulo
A coisa tá pegando! No capítulo anterior, percebi que Clotilde tem seus sonhos, planos para seu futuro, e que não seria um fantoche nas mãos de Olga...Olga perdeu o rumo e o teto, e agora esse "tarado"...E agora???
ResponderExcluirO que o destino estará preparando pra essas duas, meu caro Alex? Eis a pergunta! rs
Excluir